Pabllo Vittar — 111

A hora e a vez de Pabllo Vittar

Jorge Fofano Junior
You! Me! Dancing!
3 min readApr 7, 2020

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111

Pabllo Vittar

Lançamento: 24/Mar/2020
Ouça:
“Parabéns, “Lovezinho” e “Rajadão”
Nota:
7.9
Stream

A ascensão meteórica de Pabllo Vittar ainda está em curso. A drag queen que já se consolidou como a artista mais popular e celebrada em terras brasileiras (o que tenho a ver, Anitta) nos últimos anos, agora se projeta para voos mais altos no mercado internacional. Este, contudo, é um acontecimento que tem sido preparado já faz algum tempo: tudo começou com os “rolezinhos” na companhia de Diplo e, num piscar de olhos, vimos pipocar colaborações com Iggy Azalea, Rina Sawayama e, claro, sua bff, Charli XCX. O Brasil, ou participações em músicas de outras artistas não comportam mais o tamanho das ambições da drag. O jogo mudou e, com 111, Pabllo quer sua hora e sua vez.

Sem meias palavras, 111 é uma chuva de hits; deles, quatro já haviam sido apresentados ao público, casos da desgastada “Flash Pose”, da música-Coca-Cola “Clima Quente”, como também dos excelentes hinos carnavalescos de 2020 — e grandes momentos do disco — “Amor De Que” e “Parabéns”.

É, contudo, no território não explorado que 111 mostra as intenções internacionais de Pabllo: músicas em espanhol, em inglês, em espanhol e inglês, num caminho cada vez mais acessado pelo pop brasileiro para se chegar na visibilidade estrangeira. Nesse sentido, as medianas “Tímida” e “Salvaje”, bem como a ótima “Ponte Perra” parecem ter sido produzidas sob medida para caber no repertório da turnê internacional que se aproximaria, se o mundo não tivesse sido acometido por uma pandemia, tendo por exemplo de destinos, os festivais Coachella e Primavera Sound.

Se as músicas cantadas em línguas estrangeiras não chamam tanto a atenção, duas faixas cantadas em português fazem o serviço: “Lovezinho” e, claro, “Rajadão” — os melhores registros do disco. “Lovezinho” é uma jóia veranesca que, em tempos de confinamento social, acaba transportando o ouvinte para a beira das praias cariocas e soteropolitanas, nos banhando de tão necessária leveza; no arranjo de reggae da música, a voz lânguida e sensual de Pabllo se encaixa automaticamente — e de praxe ainda ganhamos Ivete. Já “Rajadão” é tudo e mais um pouco: ao encaixar uma letra que muito bem poderia estar no catálogo de qualquer cantora gospel a uma construção delirante meio-trance-meio-brega, Pabllo entrega um presentão aos fãs. Louvada seja na luz de Cristo, mamãe.

A ideia de transformar o álbum em uma coleção de hits traz limitações para o conjunto da obra. Visto do todo, 111 é um caleidoscópio de estéticas que passam pelo bregafunk, reggae, reggaeton, pop, gospel music e trance. O álbum é, então, mais como uma coletânea, reflexo da playlistização (sic) dos formatos musicais. De todo modo, individualmente, a maioria das faixas funciona bem, ao apresentar um excelente trabalho de mixagem e produção, tornado a voz trovejante de Pabllo no elemento destacado do projeto e compondo todo o instrumental em volta da mesma.

111 é um trabalho ambicioso e, em alguns momentos, por querer ser tão grande, acaba usando fórmulas genéricas e soando artificial; no restante, é acertado e revela uma artista que, na flor da idade, conquista um espaço revolucionário na música. O mundo ainda ficará pequeno para Pabllo Vittar.

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Jorge Fofano Junior
You! Me! Dancing!

Químico, estudante de Jornalismo pela ECA-USP e ex-DJ amador da noite paulistana.