Paul McCartney — McCartney III

McCartney III é o melhor disco de Paul McCartney em quase vinte anos e destaca um compositor com fôlego de sobra

Angelo Fadini
You! Me! Dancing!
3 min readDec 21, 2020

--

McCartney III

Paul McCartney

Lançamento: 18/Dez/2020
Ouça: “Long Tailed Winter Bird”, “Find My Way” e “The Kiss Of Venus”
Nota: 9.2
Stream

McCartney é o tipo de compositor que faz música por ofício. Se Lennon tornou-se caótico, rebelde e imensamente criativo com o fim dos Beatles, McCartney tornou-se um verdadeiro artesão igualmente criativo, mas destacou-se também por manter uma disciplina e regularidade invejáveis no lançamento de discos com canções inéditas. Em sua discografia, entre tantos acertos, merecem destaque os álbuns McCartney e McCartney II, nos quais ele fez tudo: escreveu todas as letras, tocou todos os instrumentos e produziu todas as faixas. Com este mesmo princípio em mente, o artista lançou neste ano McCartney III, a terceira grande parte dessa trilogia torta e não planejada.

Nos últimos anos, Paul lançou trabalhos com a mão de diversos produtores contemporâneos em alta (Paul Epworth, Mark Ronson, Greg Kurstin, Ryan Tedder…), numa tentativa de atualizar sua sonoridade e experimentar novas formas de criação. No entanto, estes discos soaram deslocados da identidade de McCartney e, apesar dos bons momentos, são registros pouco coesos. Dessa vez, McCartney, ao trabalhar sozinho, conseguiu se conectar com seu talento nato de criação e fez um disco repleto de canções inventivas e até experimentais, mas que nunca perdem o foco pop para o qual o ex-beatle sempre teve vocação.

Para aqueles que não conseguem evitar comparações, a maior parte das faixas de McCartney III caberia muito bem em qualquer álbum perdido dos Beatles entre o The Beatles (White Album), o Abbey Road e o Let It Be. Paul sabe dar destaque no momento certo para que cada instrumento possa brilhar. E como brilham! Seja o violão na introdução de “Long Tailed Winter Bird”, melhor faixa do disco, seja o piano de “Women And Wives”, a guitarra de “Lavatory Lil” ou a bateria de “Deep Deep Feeling”.

McCartney III é McCartney fazendo o que sabe de melhor. E isso, meus amigos, é muito! McCartney III representa mais uma página na história da música de um dos artistas que escreveu algumas das páginas mais criativas, inspiradas e revolucionárias dessa mesma história. Dá um prazer danado ver um artista que poderia se escorar em um repertório tão vasto e rico do passado, mas resolve continuar escrevendo grandes canções. Porque, no fim das contas, é isso que McCartney III é: um disco de grandes canções feito unicamente por um grande compositor.

PS.: Beatles é minha banda favorita. John, George, Paul e Ringo me acompanharam nos melhores (e piores) momentos dos últimos vinte anos. E é bem significativo para mim que, depois de quase oito anos, este seja o último texto (pelo menos por enquanto) que escrevo para o You! Me! Dancing! Obrigado, Henrique e André, pelo espaço e por permitir que eu me comunicasse com tanta gente que gosta de música tanto quanto eu. Obrigado!

--

--

Angelo Fadini
You! Me! Dancing!

Nascido nos anos 80. Criança nos anos 90. Adolescente nos anos 00. Adulto nos anos 10. Sobrevivendo nos anos 20.