Pet Shop Boys — Hotspot

Dupla inglesa mostra sua influência na música pop e energia que supera a idade em álbum misto

Leandro Bernardo
You! Me! Dancing!
3 min readFeb 4, 2020

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Hotspot

Pet Shop Boys

Lançamento: 24/Jan/2020
Ouça: “Will-o-the-wisp”, “You are the one”, “Dreamland” e “Wedding in Berlin”
Nota: 7.5
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Talvez um dos maiores dilemas de qualquer grupo musical, não importa o estilo, é lidar com o tempo: os sonhos da juventude passam, os ideais mudam, novos conflitos surgem, o corpo já não mais possui a mesma vitalidade. Enfim, bandas com longas carreiras usualmente lidam com esses dilemas de três formas possíveis: acabando, renovando-se ou tentando manter a mesma energia do passado.

É nessa terceira alternativa que Chris Lowe e Neil Tennant apostam: mantendo seu estilo característico e revolucionário no pop dos anos 80 e na música em geral, a dupla, em seu novo álbum Hotspot, mostra como é possível envelhecer sem perder e sem capengar. Ao mesmo tempo que é possível sentir a mesma energia da época de seus grandes sucessos, também é de se notar como eles conseguem se mostrar atuais e capazes de não parar no tempo, sintoma de sua influência na música pop das duas primeiras décadas deste século.

O álbum possui dois moods básicos que se misturam nas faixas: a energia dançante e envolvente dos sintetizadores, com o ar clássico dos “hinos” LGBT dos anos 80; e as baladas melódicas e distorcidas, com letras que tratam de pressões sociais e de liberdade, temas já comuns para a dupla e que nunca serão datados. Após a primeira metade do álbum, a energia do disco dá uma caída, no meio de músicas com andamento médio e que não empolgam tanto quanto a primeira parte. No entanto, a última música, “Wedding in Berlin”, fecha de forma graciosa (e pode-se dizer um pouco boba) o álbum, com um house/techno misturado à marcha nupcial, celebrando a liberdade.

Por fim, o álbum é muito bom. Não é excepcional e, em nenhum momento, se propõe a ser, e não precisa ser. Já na casa dos 60 anos, o já não tão jovem Pet Shop Boys mostra que consegue ter a mesma energia dos anos 80 com suas músicas empolgantes e deixa escancarado como influenciou (e ainda influencia) a música pop e indie atuais. Ao ouvir o álbum com atenção, mesmo que na primeira vez, é possível sentir músicas com estética similar a de artistas como Mika (em “You are the one”), Scissor Sisters (em “Happy people”) e até Tame Impala (em “I don’t wanna”), ao mesmo tempo que é facilmente reconhecida como uma faixa do Pet Shop Boys (sem contar a faixa com o trio Years & Years, que é autoexplicativa).

Um feito desse [soar contemporâneo com uma estética de 30 anos atrás sem parecer vintage] é um feito não apenas difícil, mas só possível com 38 anos de estrada e muita consciência de sua arte, o que a dupla britânica tem de sobra.

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Leandro Bernardo
You! Me! Dancing!

Jornalista, Designer, e o que for necessário. Adoro falar de música, game design, política, e o que estiver em alta no momento.