Rico Dalasam — Dolores Dala Guardião do Alívio

Depois de cinco anos, rapper lança um registro intimista e de peito aberto que marca sua transformação

Laura Martins
You! Me! Dancing!
3 min readApr 2, 2021

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Dolores Dala Guardião Do Alívio

Rico Dalasam

Ouça: “Expresso Sudamericah”, “Braille”, “Vividir” e “Outros Finais/Estrangeiro”
Nota: 9.8
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Eu sei que a gente sempre começa recomendando três, até quatro músicas de um álbum, mas nesse de Rico, se eu pudesse listava o disco inteiro. Dolores Dala é o primeiro registro de inéditas desde Orgunga, de 2016, e chegou em um momento necessário. Quando a gente mais precisa de um acalanto pra passar por tudo isso, quando a gente precisa de ar num mundo que não consegue respirar.

Em “Vividir” a gente sabe do que isso se trata. ‘A gente vive de partir sem despedir / Pro coração não dividir / Entre um Atlântico e outro / Um cântico e outro / Com tanta saudade pra admitir.’

Em 2020 sentimos um gostinho do que estava por vir, mas o EP de mesmo nome que contava apenas com cinco músicas e quase 13 minutos de música ainda não era o bastante pra matar a saudade de Dalasam.

Dolores Dala tem produção de Dalasam, Dinho Souza e Mahal Pita, do BaianaSystem. Além de contar com a guitarra de Chibatinha, integrante do ÀTTØØXXÁ, em “Última Vez” e “Mudou Como?”. Ambas canções onde o artista afunda e quebra emocionalmente. Sentimos especialmente nessas faixas os sintetizadores e batidas crescerem conforme o desabafo musicado por Rico se intensifica. Inclusive, para produções mais “serenas”, os recursos também se encaixam, sem descaracterizar o álbum.

Aqui o artista tem um disco completo com coração exposto e um peito aberto de sentimentos em demasia. Aceitação, dor, alívio, acolhimento, segurança e um tanto de revolta, também. Aqui a gente encontra um Rico que não aceita ser segredo de ninguém. “Não é Comigo” dá um passo em direção ao grito de libertação. ‘Porque as águas que vêm de baixo são as águas que eu consigo alcançar / Porque as águas que vem de cima não estão disponíveis para mim / Pra eu viver esse tipo de coisa, pra eu ser escondido?’

Quando Orgunga entregou potência, soberania e presença, Dolores Dala chega como abraço, um aperto no peito e um alívio pr’alma. Um registro intimista em 11 faixas. Não é só um beat gostoso pra ouvir com os mais chegados (quando puder chegar pertinho, pode testar), aqui sentimos um artista que transformou-se e ficou mais leve.

Parafraseando Emicida, “Rico Dalasam é uma das canetas mais importantes que temos”. Este é um de seus registros mais sensíveis, onde Dalasam não economiza quando precisa tocar onde dói, quando abraça e junta os pedaços de quem se sente fragmentado, quando grita a plenos pulmões o que precisa ser ouvido. Dolores Dala Guardião Do Alívio é uma obra que dialoga com todo o mundo, onde os sentimentos do artista são dele e também são nossos.

‘Fui, porque acabou a fé, não porque acabou o amor.’

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