Rina Sawayama — Hold the Girl

Segundo disco de Rina decepciona mesmo recheado de músicas ótimas

André Salles
You! Me! Dancing!
3 min readSep 22, 2022

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Hold the Girl

Rina Sawayama

Ouça: “This Hell”, “Frankenstein”, “Send My Love to John” e “Hurricanes”
Nota: 7.7
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Mesmo antes de seu debut SAWAYAMA ser lançado oficialmente dois anos atrás, Rina Sawayama já tinha um EP e vários singles que já haviam a consolidado como um dos nomes mais promissores da música pop atual. E SAWAYAMA foi um álbum pop como nenhum outro. Rina misturava influências dos anos 2000 como um todo — de Britney Spears até Korn e Evanescence. Com guitarras de nu-metal e linhas pop, vocais que remetiam à Lady Gaga e músicas que soavam ora agressivas e ora delicadas, seu debut foi um como poucos. Mas Hold the Girl falha em manter esse ritmo — mesmo com (muitas) músicas boas em seus 46 minutos de duração.

Hold the Girl, seu aguardado segundo álbum completo, pode quase ser considerado um álbum conceitual em que o conceito é a infância de Rina. Como a faixa-título sugere em sua letra, aqui Rina escreve basicamente para si mesma quando mais nova. Sua temática gira em torno de pais ausentes e falta de carinho e aceitação quando menina, escrito sob sua perspectiva atual. Hold the Girl lida com temas familiares, sua própria queerness, e soa como um gigantesco ‘it gets better’.

Tudo muito bonito, Rina consegue evocar essas emoções de forma genuína e sincera o tempo todo. Mas musicalmente, falta algo e isso é perceptível em todo o álbum.

Em Hold the Girl, Rina aposta principalmente nas baladas — e acaba soando pouco original e quase repetitivo ao longo de treze faixas. Seu novo álbum soa como se Rina tivesse focado em “Chosen Family” do seu debut e expandido seu conceito — e não “XS” ou “STFU!”, o que soa levemente decepcionante e meio monótono para um álbum completo. Mas ainda sim, o pop que a moça apresenta aqui ainda está muito acima da maioria.

“Send My Love to John” é uma balada country cantada sob a perspectiva de uma mãe que finalmente conseguiu aceitar a homossexualidade do filho — e pede perdão por não ter agido dessa forma antes. É uma música belissima, de uma delicadeza absurda e um dos momentos do álbum em que Rina soa extremamente afiada como compositora; como a melhor música do Joanne que Lady Gaga não conseguiu escrever.

Sua música sempre soou meio caótica e desconexa, dado a gigantesca gama de influências que ela sempre colocou em tudo o que fez, mas aqui isso está ainda mais presente. Os momentos em que Rina quebra expectativas são os mais interessantes — como ouvimos em “Imagining”, que começa com um pop extremamente genérico e sem graça até explodir em um refrão com vocais distorcidos e elementos que remetem ao industrial.

Esses momentos, infelizmente, são poucos ao longo do álbum que não consegue evitar de cair em uma mesmice sonora. Rina ainda faz uso de guitarras, riffs e solos mas dessa vez parecem mais inspirados no hair metal dos anos 80 do que na agressividade do nu-metal. “Catch Me in the Air”, um dos pontos centrais do disco, parece uma música da Kelly Clarkson em seu melhor — uma balada regada a guitarras leves e sintetizadores, uma das melhores letras do álbum e três minutos e meio de leveza e diversão. Mas bem longe de ser o melhor que Rina Sawayama já fez.

Hold the Girl é definitivamente um álbum pop bem acima da média, mas a comparação é inevitável — e ele cai no ‘apenas ok’ quando consideramos sua discografia anterior. Falta em grande parte dele o mesmo fogo que ouvimos em SAWAYAMA, em termos de produção e sonoridade. Mas Hold the Girl, mesmo com suas falhas, se revela um álbum extremamente emocional e catártico. E, principalmente, bom o suficiente pra mostrar que Rina Sawayama ainda está apenas começando sua carreira dentro da música pop — e que ela será brilhante.

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