Rufus Wainwright — Unfollow The Rules

Uma obra bem orquestrada

Mayra Brasco
You! Me! Dancing!
3 min readJul 21, 2020

--

Unfollow The Rules

Rufus Wainwright

Lançamento: 10/Jul/2020
Ouça: “Trouble In Paradise”, “Devils And Angels (Hatred)” e “Only The People That Love”
Nota: 10
Stream

Escrever resenhas de discos é uma atividade que nos permite rascunhar sobre obras de arte da música: os discos — que, no caso, mal saíram. E o melhor disso tudo é quando temos a chance de ouvir um disco com toda a sua potência: que pode ser conceitual, uma mensagem, um retrato perfeito de sua época, uma obra orquestrada, um percurso intencional ou não, ou quem sabe ainda, um quebra-cabeça que só vamos entender daqui anos. E Unfollow The Rules é uma obra de arte.

A carreira de Rufus Wainwright que em seu percurso passa pela ópera Prima Donna (2015) e por Take All My Loves: 9 Shakespeare Sonnets (2016) lhe levou a melhorar o que sempre fez: músicas encorpadas, com melodias bem arquitetadas que, junto com a voz ,com estes novos toques de óperas dão maior vazão pras letras. O forte de Rufus sempre foi a sua expressão. E aqui ela toma outra proporção. Sua voz parece estar ainda mais madura e impressionante.

Isso aparece logo de cara com “Trouble In Paradise”: uma música embalante e que tem tantas camadas, tantas nuances que dão um suporte competente para as vozes poderosas que fazem a canção. Destaque pra pancada que vem mesmo com “Early Morning Madness” e entra no ápice com “Devils And Angels (Hatred)”, a melhor música do disco. É o momento que melhor sintetiza a genialidade de Rufus nessa obra. É a ópera dentro da ópera. Aproveita e veja o clipe de “Devils And Angels (Hatred)”. Alguém se inspirou no Bowie, diria.

Mas nem só de porrada vive o disco. “Damsel In Distress”, “You Ain’t Big” e “Peaceful Afternoon” são canções que fazem as pontes gostosas. Pra ouvir durante viagens felizes depois da pandemia.

Em outras, ouvimos a sutileza do piano e do voz que são o que o artista faz desde sempre. Marca registrada de umas das melhores coisas que surgiram nos anos 90, como Fiona Apple, Tori Amos, Ben Folds, entre outros, assim como o próprio Rufus Wainwright. “Unfollow The Rules”, “Alone Time” e “Only The People That Love” são pra ouvir tomando whisky. Recomendo. ‘Go on and do it’.

Apesar de eu descrever as músicas num compilado aqui, pensá-las separadamente nunca é algo legal num disco. Tanto é que, “Alone Time”, que saiu em single há algumas semanas, me soou tão sem graça quando ouvi pela primeira vez, que pensei que o disco novo seria ruim. Agora, encaixada direitinho dentro do álbum, é outra canção. E faz um encerramento perfeito pro fascínio que é a sequência final de Unfollow The Rules.

Rufus demorou um bocadinho pra lançar disco novo de composições originais, mas pelo visto era só porque ele tinha um possível melhor disco da carreira em mente.

--

--

Mayra Brasco
You! Me! Dancing!

Geógrafa, viciada em cultura e guitarrista nas horas vagas.