Run the Jewels — RTJ4

RTJ4 é a reafirmação do Run the Jewels como uma das duplas mais ferozes e relevantes do hip hop de hoje

Victor Silveira
You! Me! Dancing!
2 min readJun 17, 2020

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RTJ4

Run the Jewels

Lançamento: 05/Jun/2020
Ouça: “walking in the snow”, “JU$T”, “holy calamafuck”, “the ground below”
Nota: 8.6
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A essa altura do campeonato não tem como negar que, se você precisa destacar um grupo que apresenta uma discografia impecável no hip hop atual (assim como antigamente, por exemplo, o OutKast era referência), poucos vão passar pela cabeça além do Run the Jewels.

Desde 2013, a dupla vem numa sequência de álbuns que se destacam pela consistência e que, além de não ter uma diferença gritante de sonoridade entre eles, sempre trazem ideias que saem do que tem sido feito na cena. RTJ4 é só uma extensão disso e que se faz extremamente necessária nos tempos atuais pra além de qualquer tendência no gênero, principalmente pelos temas que aborda.

Porém, tratar o novo álbum de Killer Mike e El-P como uma idiossincrasia dentro do cenário do rap devido ao teor profético de suas letras, como foi levantado pela mídia devido a canção “walking in the snow”, que chega muito perto do caso de George Floyd em seus versos, é um erro. O cenário de violência policial contra negros retratado nela é uma denuncia antiga não só da própria dupla, como de toda a cena do hip hop.

E, mesmo assim, entre tantas vozes nela, a do Killer Mike se sobrepõe principalmente pela forma meticulosa e astuta que confronta esses temas, impulsionado pela produção pungente e criativa do El-P. Essa que, apesar de continuar única, com samples bizarros que funcionam perfeitamente com a adrenalina dos versos de ambos os integrantes (e também das colaborações presentes no projeto) e agora com mais influências de rock, principalmente na segunda metade, serve de complemento pros temas abordados de uma forma que só o Run the Jewels consegue, já que em qualquer outra situação ela seria o centro das atenções.

Tudo isso não chega a ser novidade pra quem acompanha a dupla, mas, até o momento, não é uma fórmula que enjoa, pois parece que nela eles sempre têm espaço pra trabalhar em estruturas e trazer algo de significativo não só dentro do hardcore hip hop como gênero, mas também como forma de reafirmar a sagacidade de como se faz rap no mesmo.

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Victor Silveira
You! Me! Dancing!

and then nothing turned itself inside out // jornalismo (uff) // colaborador no you! me! dancing! desde 2018