Sam Smith — Love Goes

Em seu novo álbum, Sam Smith é menos melancólico, ainda assim Love Goes mais parece um ensaio do que poderia ter sido To Die For

Felipe Gomes
You! Me! Dancing!
3 min readNov 9, 2020

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Love Goes

Sam Smith

Lançamento: 30/Out/2020
Ouça: “Dancing With A Stranger”, “How Do You Sleep?”, “Diamonds”, “Kids Again”
Nota: 6.0
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Era janeiro de 2019, quando uma das primeiras sextas-feiras de lançamento do ano passado trazia a improvável parceria do britânico Sam Smith com a cantora Normani. “Dancing With A Stranger” não era apenas mais um lead single. Era o prenúncio de uma profunda mudança na carreira e na vida do artista que havia deixado para trás as inseguranças em relação ao seu corpo, sexualidade, aceitação e pressão da mídia. Um animador início de divulgação do que viria a ser seu terceiro álbum de estúdio. Alguns singles e uma pandemia depois, o trabalho foi oficialmente lançado no último dia 30 de outubro.

Inicialmente intitulado como To Die For, Love Goes teve seu lançamento adiado em seis meses por conta da pandemia do novo coronavírus. O nome inclusive mudou por conta disso. O nome do álbum poderia soar insensível para quem perdeu alguém para a COVID-19. Mas não é só isso. O conteúdo lírico e a produção do trabalho parecem ter passado por ajustes.

Assim como “Dancing With A Stranger”, os singles divulgados ao longo de 2019, como a excelente “How Do You Sleep?”, e começo de 2020 davam a ideia um disco fresh e ao melhor estilo crying on the dancefloor. Algo novo na carreira de Sam Smith, identificado até então como uma espécie de versão masculina de Adele, pelas baladas sofridas e quase sempre sobre términos e amores não correspondidos. É bem verdade que Love Goes é bem menos melancólico que os álbuns anteriores, mas ainda assim é impossível não se decepcionar.

Pouco coeso, Love Goes traz faixas que não conversam em si, como a parceria com Burna Boy em “My Oasis”. E é em outra parceria, dessa vez com Labrinth, que temos outro problema do álbum. Apesar de muito boa, a faixa título parece saída da trilha sonora da série Euphoria, que pra quem não sabe teve a participação do artista convidado, e pouco traz a identidade do Sam que conhecíamos dos primeiros álbuns e do início da divulgação do disco.

Entre faixas que poderiam estar em qualquer um dos dois álbuns anteriores de Sam Smith, o disco, é verdade, tem seus pontos altos. A faixa de abertura, “Young”, cumpre bem o seu papel de iniciar uma jornada lírica de autoaceitação. Em “Diamonds”, vemos uma performance Sam que lembra o auge da carreira de George Michael, a quem aliás muito da sonoridade dessa nova fase me remete, só quem sem a direta influência do R&B e bebendo na fonte do dance hall e da house music.

Ao todo, são 11 novas faixas na primeira parte do álbum e 6 já conhecidas e lançadas durante esse longo período de gestação do trabalho na segunda parte — a melhor. Em geral, o disco que poderia ser um grito de liberdade de um artista que abriu mão de ser o gay aceito pela família tradicional, aboliu a denominação de gênero e parecia disposto a se reinventar na arte e na vida, soa mais como uma escolha segura. Sam Smith sinaliza a mudança, mas ainda não parece está totalmente confortável para traduzir em música este novo momento de sua vida.

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Felipe Gomes
You! Me! Dancing!

e tu acha mesmo que eu tenho esse poder de síntese todo pra me descrever em uma bio? 🤧