She & Him — Melt Away: A Tribute to Brian Wilson

Novo trabalho do duo traz versões do catálogo do lendário Beach Boy, com resultados medianos

Giovanni Vellozo
You! Me! Dancing!
4 min readAug 4, 2022

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Melt Away: A Tribute to Brian Wilson

She & Him

Ouça: “Don’t Worry Baby”, “Deirdre” e “Melt Away”
Nota: 5.5
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Em geral, há uma bênção e uma maldição colocadas na apreciação do ouvinte em discos-tributo. Por um lado, sendo todas canções de um mesmo catálogo, é mais fácil garantir uma coesão mínima e a assimilação do material é consequentemente favorecida. Por outro, é também na comparação inevitável com o material original que é possível analisar as escolhas de interpretação e releitura feitas — o que coloca, ainda que inconscientemente, um parâmetro um tanto injusto, especialmente no caso de canções já consagradas por crítica e público. E é este justamente o caso de boa parte do material apresentado pelo duo de Zooey Deschanel e Matthew Ward no seu último disco. Melt Away: A Tribute to Brian Wilson, lançado na última sexta-feira dia 22, traz 14 composições do fundador do grupo estadunidense The Beach Boys.

Mesmo antes de se ouvir o disco em si, seria de se esperar aqui um trabalho com chancela do próprio homenageado, dada a trajetória recente de colaboração mútua entre ambos — o duo na faixa “On the Island” em seu disco No Pier Pressure (2015), e agora o próprio Brian colaborando na versão de “Do It Again” no disco-tributo. E ouvindo o disco, é notável que tanto por esse fator quanto pela própria proposta musical açucarada do projeto de Deschanel e Ward, trata-se de um trabalho bastante calcado em manter muitos dos elementos estéticos que tornaram a maioria dessas canções notáveis— muitas harmonias vocais e atenção peculiar aos arranjos —, com poucas subversões ao longo dos pouco mais de quarenta minutos do disco.

Vamos a ele então: ao todo, constam 14 faixas compreendendo músicas que vão desde o primeiro disco dos Beach Boys, Surfin’ Safari (1962) até o autointitulado primeiro disco solo de Brian Wilson (1988) de onde veio a faixa-título para esse projeto. Em geral, um bom panorama, fugindo de ser apenas uma repetição de músicas apenas dos projetos mais consagrados (leia-se a era Pet Sounds/Smile de 1966–7) e sem remeter a uma única fase estética de Brian somente. Agora sobre as reinterpretações… É evidente que o duo certamente mostra originalidade suficiente para o trabalho passar longe de ser um mero caça-níquel em torno de Brian e seu legado, mas os resultados no fim tendem mais a um conjunto mediano do que realmente a uma grandiosa revisão do material.

Sendo justo, há apenas uma versão particularmente atroz — da faixa “Heads You Win — Tails I Lose”, que já não é particularmente grandes coisas, e o arranjo com vocoders não ajudou — e outra um tanto abaixo do restante — a citada “Do It Again”, com o idoso Brian e o duo em uma espécie de piloto automático. Do restante, nota-se que o duo preferiu retirar parte da densidade que havia nos arranjos originais, sobretudo nas produzidas sob a doutrina spectoriana do Wall of Sound, e seguir para uma proposta pop rock mais acústica e pacífica aos ouvidos. Apesar de algumas boas escolhas de arranjo e uma constante harmonização vocal de Deschanel bem competente, é uma escolha que gera algumas externalidades negativas — faixas como a clássica “Wouldn’t It Be Nice”, “Don’t Talk (Put Your Head On My Shoulder)” e a depressiva “‘Til I Die” perdem bastante do peso das originais, por exemplo — e que na sequência de 14 músicas acaba soando um tanto maçante, ainda que seja um maçante inofensivo.

Há, claro, espaço para bons acertos aqui e ali. As versões de “Don’t Worry Baby”, “This Whole World” e “Deirdre”, com interpolações entre os dois vocalistas muito bem construídas e arranjos bastante densos para os padrões do disco, são os melhores exemplos. A reinterpretação da faixa que dá título ao trabalho também merece destaque, conferindo uma bem-vinda atmosfera mais solar e menos datada à canção. Outras faixas como “Please Let Me Wonder”, “Kiss Me Baby” e o belo encerramento em “Meant For You”, se não reinventam nenhuma roda, geram engajamento emocional suficiente para manter o apelo do disco.

No ano em que Brian Wilson completa 80 anos de vida e os Beach Boys 60 anos de carreira discográfica, Melt Away: A Tribute to Brian Wilson é um compilado respeitoso (houve coisas bem piores em comemoração a essas efemérides, pode acreditar) e, na medida do possível, pode servir como uma boa introdução às peças do compositor californiano, ainda que de modo menos pungente que boa parte das interpretações originais. Ao menos, dá para escolher algumas das faixas e levar para ouvir em isolado posteriormente.

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