Soccer Mommy — Sometimes, Forever

Em seu terceiro registro, Soccer Mommy mergulha de cabeça na escuridão — mas leva consigo a luz para sair dela

André Salles
You! Me! Dancing!
3 min readJul 13, 2022

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Sometimes, Forever

Soccer Mommy

Ouça: “Shotgun”, “Don’t Ask Me”, “Following Eyes”, “With U” e “Feel It All the Time”
Nota: 10
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Sophie Allison, também conhecida no mundo da música como Soccer Mommy, tinha um trabalho incrivelmente árduo: o de seguir uma obra-prima. Seu segundo disco oficial, color theory, lançado em 2020, foi seu mais completo, humano e complexo trabalho até o momento, lidando forte e abertamente com temas delicados como saúde mental e complicações cotidianas. color theory foi eleito por mim como o indiscutível Melhor Álbum de 2020, e exatamente por isso as expectativas em cima de Allison eram altíssimas.

Felizmente, quando Allison nos presenteou com “Shotgun” em Março desse ano, já deu pra perceber que todas as dúvidas e questões sobre como a jovem cantora seguiria em frente foram sanadas. Juntamente com “Shotgun” veio o anúncio de seu terceiro disco, Sometimes, Forever e que o novo trabalho foi produzido por Daniel Lopatin — do Oneohtrix Point Never. Lopatin já assinou a faixas de nomes que vão desde Nine Inch Nails até ANOHNI e Charli XCX, gerando uma nova ansiedade e expectativa sobre o disco da Soccer Mommy.

Sometimes, Forever chegou e soube muito bem dar uma linda continuidade ao trabalho impecável já feito por Allison no passado até aqui. Sonoramente, trata-se de seu álbum mais pesado até o momento, fazendo uso de guitarras distorcidas e linhas de baixo bastante fortes. Tal instrumental em muitos momentos se mostra o oposto do que encontramos nos delicados porém confiantes vocais de Allison e também de seu conteúdo lírico.

Ao contrário do brutalmente honesto e por vezes tenso clima depressivo encontrado em color theory, aqui temos músicas que trazem uma certa esperança dessa vez. Allison nunca soou tão firme e confiante antes, e a melhor parte de compor como artista solo é a liberdade que vem com explorar isso tudo ao máximo — em Sometimes, Forever temos elementos que remetem desde o grunge até shoegaze ao mesmo tempo em que a moça traz algumas de suas mais simples composições.

Darkness forever, cold sinking ocean/I want to feel the warmth of relief’, Allison canta em “Darkness Forever”, a música mais desoladora do disco, trazendo imagens bastante sombrias e um instrumental melódico que deixaria tanto Kevin Shields quanto Rachel Goswell orgulhosos. Em Sometimes, Forever acontece uma coisa que não havia ainda aparecido em momento nenhum da curta-porém-impressionante discografia de Soccer Mommy: parece que Sophie Allison pela primeira vez está completamente sem medo de nada, nem da sua própria escuridão.

Ao se ver livre de tal medo, Sophie se entrega por completo em todos os momentos do disco — existem momentos bastante sombrios, sim, mas aqui também existe diversão e esperança. ‘I’ve fallen for the littlest things about you and the way you are/Your laugh, your smile’ ela canta na maravilhosa “With U”. Mas, como o mundo é um lugar escuro e sombrio, mesmo nos momentos felizes cantados por Allison existe uma certa violência. Em “Shotgun”, ela compara seu amor e afeto a uma espingarda carregada e pronta para ser disparada.

Mesmo com pouquíssimo tempo de carreira (e de vida, pois a moça ainda tem apenas 25 anos), Sophie Allison já mostrou uma maturidade absolutamente invejável e uma evolução de tirar o fôlego. Seu estilo de escrever letras e compor se revela bastante único — fortemente inspirado pelos anos 90 mas sem nunca se prender a ele exclusivamente. Sometimes, Forever é um álbum propulsivo que está em constante movimento e sempre seguindo em frente, mesmo quando as coisas estão indo bem; mas principalmente quando a escuridão parece inundar tudo.

Sophie Allison conseguiu seguir sua obra prima simplesmente fazendo outra. Sometimes, Forever soa quase como uma antítese a color theory e é por isso que funciona tão bem do começo ao fim. Caso alguém ainda tivesse dúvidas, Soccer Mommy é um dos nomes mais fortes da música indie atual, uma excelente compositora que sabe como ninguém como extrair cada vez o melhor de si mesma. E sempre andando para frente.

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