Soft Kill — Dead Kids, R.I.P. City

É 2020 e nós ainda estamos vivos

Quel Batista
You! Me! Dancing!
3 min readDec 3, 2020

--

Dead Kids, R.I.P. City

Soft Kill

Lançamento: 20/Nov/2020
Ouça: “Crimey” “Inverness” e “I Needed The Pain”
Nota: 9.0
Stream

Lançar um disco no final do ano é sempre um risco. O risco de ser engolido pelas festividades, de ficar de fora das listas de melhores do ano e o risco de não ser ouvido por ninguém. Mas o que não foi um risco em 2020? O ano em que até respirar e demonstrar afeto se tornou arriscado. Difícil dizer. O Soft Kill pareceu ignorar os riscos ao colocar Dead Kids, R.I.P. City no mundo, como um respiro profundo.

Se foi uma atitude acertada, saberemos com o tempo. Mas o que podemos adiantar, de antemão, é que este disco traz uma energia revigorante servindo um post-punk revival de respeito enquanto abraça seu lado sadcore. Um disco que levou dois anos para ser feito e chegou quando não havia grandes expectativas para lançamentos, uma grata surpresa.

Embora cada faixa se permita contar uma história diferente — sobre Portland, conjecturo — conduzida por notáveis linhas de baixo e por arranjos de sintetizadores que cumprem o papel de não sair da cabeça, a tracklist se mostra coesa, fazendo deste um disco hermético, memórias costuradas pela melancolia dançante daquele jeito que só o post-punk e sons afins conseguem fazer.

A sonoridade e a produção se mostram ainda mais amadurecidas neste disco, que talvez seja o mais importante já feito pelo grupo até aqui, lembrando, às vezes, (me permitam uma comparação ousada) o Arcade Fire em tempos de The Suburbs, como na faixa “Crimey”. É o resultado de uma banda que segue consistentemente elevando a qualidade do que oferece ao seu público.

A maturidade na produção não é acidental, há um staff de peso neste trabalho. Dead Kids, R.I.P. City tem a produção assinada por David Trumfio (Built To Spill, Wilco, OK Go) e masterização de ninguém menos que Howie Weinberg (The Cure, Smashing Pumpkins, Nirvana).

Este lançamento tem um time que te faz ter vontade de ouvir o trabalho e um trabalho que te faz ter vontade de saber quem está por trás dele. Além, e principalmente, da identidade musical trazida pela banda que consegue inovar em um gênero repetidamente reproduzido de formas muito parecidas.

Ao mesmo tempo, essa mesma identidade faz com que a banda vença um rótulo de gênero e encontre seu próprio lugar. O mais recente lançamento do Soft Kill tem toda aquela característica de disco “growing”, que vai crescendo com o tempo. E mesmo com o ano perto de acabar, uma boa semente foi lançada aqui e eu posso apostar que vai crescer, já que sempre tem gente disposta a ouvir enquanto estivermos vivos pra contar.

--

--

Quel Batista
You! Me! Dancing!

Escritora, produtora cultural, publicitária e podcaster.