Sondre Lerche — Patience

Norueguês quebra um pouco seu ritmo de bons discos, puxando um pouco o freio em sua freneticidade

Henrique Amorim
You! Me! Dancing!
3 min readJun 17, 2020

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Patience

Sondre Lerche

Lançamento: 05/Jun/2020
Ouça: “You Are Not Who I Thought I Was”, “I Can’t See Myself Without You” e “Why Did I Write The Book Of Love”
Nota: 6.5
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Sondre Lerche é, talvez, um dos músicos mais proeminentes e prolíficos da gelada Noruega. Um país de boas e simpáticas pessoas, e o músico não poderia estar distante dessa hospitalidade local. Com uma discografia que começa logo na virada do século, Lerche conquistou sua parcela do mundo com um folk interessante pontuado por uma voz suave e uma alegria contagiante.

Patience (2020), seu novo álbum, é o terceiro disco da, até o momento, trilogia que começou com Please (2014) e seguiu-se com Pleasure (2017), e, sem muitas delongas, é o mais fraco e menos interessante dos três — e falo isso com um pesar, já que consumi com avidez os dois primeiros registros do cantor.

Esse registro é, parafraseando o músico ao introduzir suas razões, uma pausa para respirar que reflete o período pós-Pleasure, com turnês extensas, uma vida caótica e um sentimento intensamente cosmopolita deixado para trás. Sondre mudou de residência e isso refletiu em músicas mais calmas, lentas, sofisticadas. Os ares de Los Angeles, ainda que metropolitanos, podem soar até bucólicos perto da intensa e imensa Nova Iorque, onde ele residiu até 2018.

Sondre acompanhou essa mudança com uma vida mais prudente, maratonas e música ambient como trilha sonora, nítidas influências para a cadência desse novo álbum, que reduz os ritmos frenéticos e a voz caótica de Sondre que conseguimos ver com nitidez em músicas dos outros registros da trilogia. Mesmo que não seja necessária para nós, seus fãs, a diminuição de ritmo parecia um passo natural para Sondre, depois de dois discos extasiantes, reabastecer seus hábitos e entender sua nova rotina, na esperança (nossa? minha? dele?) de que isso não seja um novo status quo.

Para quem se apaixonou por Lerche, principalmente, graças ao Please e consolidou essa paixonite com o Pleasure, Patience é um balde de água fria. Revisitando a discografia do cantor, entretanto, ele até consegue se encaixar ali junto com o Duper Sessions (2006) e seu piano beirando um neo-jazz, mas são dois discos isolados, com músicas muito particulares perto de todo o resto das faixas já lançadas pelo norueguês, mais animadas, upbeat.

Dentro desse feito, de deslocamento dentro de uma grande obra, Patience é um disco extremamente delicado, sensível e muito mais rebuscado que os seus parceiros anteriores de tríade. Apresenta instrumentações mais densas e uma sonoridade com mais camadas, mas, ainda assim, não traz muita coisa que soe naturalmente interessante em suas faixas. O ar sintético do Pleasure quase não está presente e Lerche opta por uma coisa mais clássica, com violinos e metais como papel principal de suas historietas.

Ao final, Patience apresenta-se como um disco mais necessário para o Sondre Lerche colocar para fora do que qualquer outra coisa. É um disco dele para ele e que ele está aqui somente dividindo com a gente, porque não teria como não dividir e colocar isso pra fora. Para ele, é uma desaceleração, uma recuperada do fôlego. Para mim, é a quebra de um charme e de uma expectativa em relação ao músico, mas, tudo bem, eu sei que ele vai lançar algo melhor no futuro. Paciência.

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