Taylor Swift — 1989 (Taylor’s Version)

O álbum que mudou a trajetória da carreira de Taylor Swift finalmente ganha sua nova roupagem

André Salles
You! Me! Dancing!
5 min readNov 23, 2023

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1989 (Taylor’s Version)

Taylor Swift

Nota: 8.9
Ouça: “Clean”, “Wildest Dreams”, “Out of the Woods”, “Blank Space”, “All You Had to Do Was Stay”, “Say Don’t Go” e “Sweeter Than Fiction”
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Nove anos atrás, Taylor Swift tomou a decisão consciente de mudar completamente sua sonoridade do country-pop-rock para um pop eletrônico inspirado nos sons dos anos 80. Tal movimento deu-se, em grande parte, por conta da maior crítica feita ao seu trabalho anterior, o monumental Red: Red foi um álbum extremamente diverso mas que não apresentava nenhuma coesão sonora. O resultado foi uma total mudança de direção em relação ao que Taylor havia fazendo até ali e um álbum pop que veio para influenciar toda uma geração que veio depois.

O impacto de 1989 foi tão gigantesco, que se você perguntar para algum ouvinte casual ou não-fã de Taylor qual é a primeira coisa que vem na cabeça, as chances maiores são dessa pessoa citar “Shake It Off” ou “Bad Blood” — e não suas raízes country com “Love Story” ou “You Belong With Me”. 1989 foi a primeira grande reinvenção de Taylor, e tal mudança foi além dos sons explorados pela moça aqui; mas vamos em partes:

O primeiro aspecto que tornou 1989 algo tão lendário foi, obviamente, sua produção pop. Ao usar e abusar de um pop com pouquíssimas referências contemporâneas à sua época em 2014, Taylor abriu de vez o caminho para o revival dos anos 80 que permearia a paisagem da música pop (tanto mainstream como indie) até hoje.

Impossível falar de 1989 sem nem citar brevemente o que, provavelmente, foi uma de suas maiores influências naquele momento: Heartthrob da dupla Tegan and Sara — a moça até cantou “Closer” com a dupla canadense em um de seus shows na turnê de Red. Assim como Tegan and Sara, Taylor apostou em uma produção pop retrô mas que continuava com seu liricismo pessoal e metafórico de sempre e talvez o maior exemplo disso seja ainda “All You Had to Do Was Stay”. Com outra roupagem menos pop, tal letra seria avassaladora como os momentos mais intensos do Speak Now ou do próprio Red.

Além de sua sonoridade, uma outra grande mudança em 1989 em relação ao que a moça fazia antes está no conteúdo de suas letras. Conhecida por letras que falavam de seus relacionamentos passados e términos com sinceridade e especificidade, aqui foi quando Taylor começou a variar em sua temática. Temos músicas sobre mudanças de vida e cidade, sobre procurar algo novo, sobre sair pra dançar sem se preocupar com o que os outros dizem e, principalmente, sobre sua relação com a mídia e a forma como falavam dela no passado. “Blank Space” continua uma música imbatível, mesmo quase uma década depois, elevando a ironia e deboche introduzidos em Speak Now a novos patamares.

Mas então, o que temos de novo em 1989 (Taylor’s Version) que vale a pena ser mencionado? Na verdade, não muita coisa.

As sutis mudanças na produção vistas em Speak Now TV e Red TV não se fazem presentes aqui da mesma maneira. Tecnicamente, 1989 TV é o álbum que mais se aproxima do original aos mínimos detalhes sem apresentar nada significativo — inclusive, é possívelmente a primeira vez em que músicas parecem mais fracas em relação às originais. As guitarras da icônica introdução de “Style” parecem mais mutadas, assim como a explosão de “New Romantics” causa menor impacto dessa vez. Se Taylor usou esse recurso das regravações para tornar Speak Now TV ainda mais próximo de um álbum de rock evidenciando as guitarras, 1989 TV tem a mesma abordagem no pop comercial. Ele soa ainda mais como um álbum pop, e nisso em alguns momentos perde a espontaneidade e sutileza que marcaram o original.

Grande parte do apelo das novas gravações lançadas por Taylor está nas músicas ‘do cofre’, que foram escritas nas mesmas sessões mas nunca antes lançadas até esse momento. E o cofre de 1989 TV é o que mais decepciona dos que já ouvimos até agora. Inteiramente produzidas por Jack Antonoff e chocando zero pessoas, as cinco faixas novas soam como outtakes do Midnights em sua mesmice e calmaria. ““Slut!”” explora a mesma relação dela com a mídia em um formato canção-genérica-de-amor completamente diferente de “Blank Space”, e “Is It Over Now?” é a música que arrasta seu relacionamento e término com Harry Styles da mesma forma que “All Too Well” e “Dear John” fizeram no passado; mas sem possuir nem de longe o mesmo impacto. Das músicas novas apresentadas aqui, a que mais se destaca é “Say Don’t Go” — co-escrita com a lenda da música Diane Warren e que conta com uma atmosfera pop anos 80 genuína. “Say Don’t Go” surpreende com seu dinamismo tanto sonoro quanto lírico, sendo a única música das cinco que caberia no original sem problema nenhum — e onde a influência de Heartthrob mais brilha.

Por melhor produtor que ele seja, Jack Antonoff parece já ter dado a Taylor tudo o que ele podia e agora só nos resta um mais-do-mesmo e que nem soa tão bom quanto já foi no passado. A produção morna e monótona das cinco faixas do cofre, vindas de um dos maiores álbuns de sua carreira, é uma prova de que Taylor precisa urgentemente de novos colaboradores. Ótimas canções como “Now That We Don’t Talk” e “Suburban Legends” soam quase inacabadas, com mais caras de demos cheias de potencial do que músicas prontas para divulgação.

Os melhores momentos de 1989 TV são, surpreendentemente, os mais calmos. Músicas como “Clean”, “Wildest Dreams” e “Out of the Woods” sempre foram ótimos destaques do original; mas agora soam imaculadas e incrivelmente ricas em textura e nuances. O mesmo pode ser dito para a nova gravação de “Sweeter Than Fiction”, uma das mais subvalorizadas músicas da moça e que foi muitissimo bem explorada contando com uma regravação excelente; mas que existe apenas como faixa bônus em uma prensagem do vinil — ficando fora até mesmo da versão Deluxe presente nos streamings.

1989 (Taylor’s Version) obviamente está longe de ser um álbum ruim, e a missão de Taylor de retomar o controle de seu material antigo segue tão válida quanto era quando esse projeto foi anunciado. 1989 marcou o início de uma nova era na vida e carreira de Taylor, sendo o seu maior e mais impressionante lançamento que viria a mudar toda a sua vida dali pra frente. Mas 1989 (Taylor’s Version) pela primeira vez se mostra uma regravação que falha em capturar o mesmo momento de glória do original, e traz a mais esquecível coletânea de músicas ‘do cofre’ até agora. Agora faltam apenas dois álbuns; vamos ver o que reputation e Taylor Swift nos mostrarão.

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