Taylor Swift — evermore

Em evermore, seu segundo álbum surpresa do ano, Taylor Swift prova que folklore não foi sorte

André Salles
You! Me! Dancing!
4 min readDec 18, 2020

--

evermore

Taylor Swift

Lançamento: 11/Dez/2020
Ouça: “happiness”, “no body, no crime”, “marjorie”, “evermore”, “‘tis the damn season” e “champagne problems”
Nota: 9.6
Stream

Em minha resenha do folklore, álbum surpresa lançado por Taylor Swift em Julho desse ano, eu dizia que ele devia ser apreciado por que nunca mais a moça lançaria algo do tipo. Eu, obviamente, estava errado. Eu também disse que folklore era seu álbum mais experimental da carreira. evermore chegou para me provar que eu também estava errado sobre essa afirmação. Se era difícil imaginar músicas do folklore sendo tocadas em suas turnês, as de evermore em sua esmagadora maioria são impossíveis.

evermore, também lançado de surpresa menos de cinco meses após folklore, mostra que as sessões com Aaron Dessner foram extremamente frutíferas. Seu novo álbum continua explorando as texturas e nuances que Swift iniciou em quarentena e culminaram em folklore, dessa vez de uma forma ainda mais pessoal e abstrata. É completamente possível compreender o porquê de nenhuma dessas músicas terem entrado em folklore. São as mesmas sessões, mesmos produtores e os mesmos músicos envolvidos, mas o clima dos dois discos é na verdade bastante diferente. Jack Antonoff produz apenas uma das faixas e co-escreveu outra; o restante do trabalho é inteiro de Aaron Dessner — e da própria Swift, claro. E os dois provaram nessa empreitada que trabalham extremamente bem juntos.

A maior diferença nos dois álbuns está exatamente no clima que cada um passa. folklore era um álbum que mostrava uma super estrela do pop emulando indie folk e fazendo isso de forma brilhante. folklore mostrava Swift compondo canções-narrativa e se importando mais com a arte do que com o potencial pop, mas a sensação que permeava o álbum ainda era essa; a de que se tratava de uma super estrela do pop emulando indie folk. evermore simplesmente é um álbum de indie folk. A diferença é sutil, mas essencial aqui.

Suas letras e composições estão ainda mais vulneráveis, em um ponto que as coisas às vezes são quase desconfortáveis de se ouvir — no melhor sentido possível. O maior exemplo é “marjorie”, um tributo/homenagem à avó da artista e sua inspiração para começar sua carreira na música. Trata-se de uma música tão delicada e bonita que com certeza já se encontra no hall de melhores composições da carreira de Swift.

“happiness” é, talvez, a melhor composição do disco. Swift canta sobre o fim de um relacionamento, sobre o momento após o término em que é possível olhar para trás e perceber que houveram muitas coisas boas também. ‘There’ll be happiness after you, but there was happiness because of you’ ela canta em seu refrão. Algo simples, mas que passa uma emoção tão universal que só as melhores músicas de Swift conseguem traduzir em palavras.

Ao mesmo tempo em que Swift se mostra vulnerável e pessoal, ela também segue escrevendo narrativas, personagens e histórias e nem sempre se foca em suas próprias experiências — e se divertindo com isso. O resultado, assim como folklore já havia sido, é libertador. “no body, no crime”, que conta com ninguém menos do que as meninas do HAIM, é uma excelente faixa que exemplifica isso. Nela, Swift canta uma história de traição que acaba até em assassinato. É extremamente divertida e a coisa mais country que Swift já fez em muitos anos. Até mesmo as músicas menos complexas, como “long story short” e “gold rush”, mostram que Swift está em seu auge criativo.

evermore se encerra com outro dueto com Bon Iver, na faixa título, e aqui os vocais de Vernon em seu quasi-falsetto trazem um ar experimental para a canção que Swift nunca antes havia tido e que ninguém poderia esperar que daria tão certo — quando Vernon começa, e logo os dois cantam juntos um por cima do outro, é de tirar o fôlego.

A dupla folklore/evermore mostra e ilustra a capacidade de Swift de fazer exatamente isso: traduzir em palavras emoções, histórias e sentimentos absurdamente complexos de uma forma que se tornem comuns e quase banais. Ao comparar os trabalhos, algo impossível de não ser feito, a conclusão que se chega é que um disco completa, complementa e transforma o outro em um trabalho ainda melhor. 2020 foi o ano em que Taylor Swift surpreendeu a todos com dois álbuns completos extremamente complexos, com produções, letras e conceitos que ninguém nunca esperou virem dela. E ela fez isso não apenas uma, mas duas vezes.

--

--