The 1975 — Notes On A Conditional Form

Rock, alternativo, eletrônico, country, folk, o caos, o constrangimento, a insegurança e tudo mais em 22 faixas em 80 minutos do novo trabalho do The 1975

Felipe Gomes
You! Me! Dancing!
4 min readJun 1, 2020

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Notes On A Conditional Form

The 1975

Lançamento: 22/Mai/2020
Ouça: “The 1975”, “People”, “The Birthday Party”, “Me & You Together Song” e “Guys”
Nota: 8.0
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Se você é daquelas pessoas que compra um álbum esperando coesão e um traço estético que ligue a obra como um todo, sinto decepcionar, mas o novo trabalho da banda The 1975, Notes On A Conditional Form, não parece feito pra você. Em seu quarto álbum de estúdio, os britânicos repetem a receita do antecessor, A Brief Inquiry Into Online Relationships, e se mostram muito mais obstinados a explorar gêneros e temáticas do que chegar a resultados óbvios. Tendo o lançamento adiado por várias vezes, o disco parece cair como uma luva para o momento global e para descrever como a geração que estava ansiosa por devorá-lo está passando por esse momento. É melancólico e questionador, mas sem deixar de ser contemplativo, cru e, por vezes, absurdo.

Com 22 faixas (isso mesmo!) entre letras inspiradas e interludes, Notes On A Conditional Form começa a mostrar a que veio com um instrumental instigante, que logo dá espaço à doce voz e às palavras duras da ativista ambiental Greta Thunberg. “Devemos reconhecer que não temos a situação sob controle e que ainda não temos todas as soluções; a menos que essas soluções signifiquem que simplesmente paremos de fazer certas coisas. Temos que admitir que estamos perdendo essa batalha. Temos que reconhecer que as gerações mais antigas falharam. Todos os movimentos políticos em sua forma atual falharam, mas o Homo sapiens ainda não fracassou. Sim, estamos falhando, mas ainda há tempo para mudar tudo”.

O álbum segue em tom alto com uma das faixas já conhecidas antes do lançamento, a punk “People”. ‘A economia é um caso perdido/A república foi pro saco/Ignore se você quiser/Foda-se, eu só vou pegar garotas, comida, equipamentos/Eu não gosto de ir lá fora, então me traga tudo aqui’. Raiva em forma de música ou música em forma de raiva? Talvez nunca consigamos distinguir com clareza.

Já em faixas como “Frail State Of Mine” e “The Birthday Party” (a minha favorita) a faceta de Matty Healy e companhia que estamos mais acostumados a reconhecer aparece com mais clareza. Os versos são quase falados e as letras mais lembram uma conversa permeada por um charmoso constrangimento e pela paranoia de quem deseja esconder o que sente e falha miseravelmente.

Sonoramente, o disco ousa a cada faixa com elementos que vão do eletrônico ao country, passando pelo folk de faixas como “Jesus Christ 2005 God Bless America” e, acredite se quiser, até um quê de reggae na faixa “Shiny Collarbone”.

Das muitas direções para a qual o Notes On A Conditional Form aponta, cabe destacar ainda um certo ingrediente saudosista no instrumental, na construção lírica e nos vocais de faixas como “Me & You Together Song”, “Tonight (I Wish I Was Your Boy)”, “Guys” e “If You’re Too Shy (Let Me Know)”. Dignas de trilha sonora da Sessão da Tarde e sitcoms do fim dos anos 90, começo dos anos 2000.

Embora seja possível viajar em cada um dos moods do disco, talvez a inconstância de estilos na disposição escolhida para as faixas, que não sugere uma progressão e traz toda a experimentação a que o trabalho se pretende junta e misturada, seja seu ponto não tão excelente. Confesso que por mais de uma vez cheguei a me perguntar se ainda estava ouvindo o mesmo álbum ou se o aleatório tinha me pregado uma peça, tamanha a disparidade entre uma música e outra. É possível também que, lá pelas tantas, o fato de serem 22 faixas distribuídas em mais de 80 minutos colabore com essa sensação.

Deixando esse estranhamento de lado, ouvir finalmente o Notes On A Conditional Form como um todo (sete singles oficiais já vinham sendo lançados desde 2019) fez com que esse momento de caos parecesse menos caótico e mais explicável. Se em A Brief Inquiry Into Online Relationships a banda pretendia explicar uma geração, aqui ela assume uma geração submetida ao caos de ser diversa, insegura, introspectiva, frágil e impossível de ser definida por qualquer unidade.

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Felipe Gomes
You! Me! Dancing!

e tu acha mesmo que eu tenho esse poder de síntese todo pra me descrever em uma bio? 🤧