The Orielles — Disco Volador

O segundo e retrofuturista disco da banda britânica é um trabalho consistente — até demais

Giovanni Vellozo
You! Me! Dancing!
3 min readMar 10, 2020

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Disco Volador

The Orielles

Lançamento: 28/Fev/2020
Ouça:
“Memoirs Of Miso”, “Come Down In Jupiter”, “Whilist The Flowers Look”
Nota:
7.0
Stream

O revivalismo é uma armadilha. Toda criação é baseada num passado, claro, mas o exagero no saudosismo ou na reprodução de fórmulas anteriores pode terminar em uma pasteurização sonora e/ou numa terra arrasada de criatividade. No já muito combalido Rock (e, talvez mais precisamente, na vertente Indie, que dominou o gênero nos anos 2000), esse é um problema cada vez mais óbvio a cada ano que passa desse século XXI — e tudo indica que nessa década não será diferente.

Nesse cenário, a mistureba sonora de Disco Volador, segundo disco dos britânicos The Orielles, lançado no último dia 28 de fevereiro, é um alívio momentâneo. Isso pode sim ser lido no sentido de um certo conforto, pois o senso melódico da banda é realmente tão acessível quanto bem construído. Faixas como “Memoirs Of Miso”, uma canção aparentemente de amor como tantas, porém apresentada de um modo bastante peculiar seja na letra quanto nas linhas (com direito a um saxofone), de uma maneira que ao final dos cinco minutos é difícil não ficar envolvido no mar reverberante da música.

Outra leitura desse “alívio” diz sobre o principal mérito do grupo em Disco: o de conseguir juntar tantas referências sonoras em dez músicas sem soar pedante ou atira-pra-todo-lado. O art pop retrofuturista à la Stereolab, o City Pop japonês, guitarras surf, bossanovismos, os momentos mais funkeados da new wave e a cena acid inglesa dos 90s… Tudo e provavelmente bem mais está ali, executado de modo competente (se há dúvida disso, ela já é sanada na contagiante mudança de tempo depois de um minuto e meio de disco, em “Come Down In Jupiter”). E ao mesmo tempo, não é “mais um”, “cópia” — isto é Orielles.

Mesmo assim, ao ouvir Disco Volador, essa sensação interna de coesão pode soar repetitiva. Muito longe de haver momentos tenebrosos, claro. O que acontece diz mais sobre uma ambição sonora que, ainda que indo para além do já muito bacana debut Silver Dollar Moment, tenta se caber em uma abordagem da banda que não é tão flexível quanto a humor, nem tão constante quanto à qualidade. Isoladamente, é possível prever que cada faixa teria um impacto razoável, o que não necessariamente consegue ser colocado pelo disco, que fica menos marcante, com as melhores faixas ofuscando o restante.

Agora já falando com certeza, trata-se de um disco de boa capacidade de reaudição. As linhas instrumentais, em momentos como a excêntrica “Bobbi’s Second World” e o final em “Space Samba (Disco Volador Theme)” merecem atenção especial. Disco Volador pode não se propor novo ou não ser exatamente excitante em todo o tempo. Mas funciona pela competência de seus músicos em fazer um som que, calcado no passado, não esquece de estar rearranjado no presente. E pode até deixar o seu coração quentinho.

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