The Psychedelic Furs — Made Of Rain

Veteranos do post-punk voltam depois de três décadas para fazer o que sabem de melhor

Emannuel K.
You! Me! Dancing!
2 min readAug 13, 2020

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Made Of Rain

The Psychedelic Furs

Lançamento: 31/Jul/2020
Ouça: “Come All Ye Faithful”, “The Boy That Invented Rock & Roll” e “Hide The Medicine”
Nota: 8.5
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Em 1989 a Guerra Fria ainda não tinha chegado ao fim, computadores eram equipamentos raros, Taylor Swift tinha acabado de nascer (e muitas das pessoas lendo esse texto provavelmente nem tinham nascido) e a banda de post-punk The Psychedelic Furs lançava seu último álbum. O grupo, que experimentou as oscilações entre o underground e o pop que foram tão comuns na década de 80, era presença certa nas pistas de dança escuras das festas góticas, mas também preferida das trilhas sonoras dos filmes de John Hughes. E parecia ter colocado um ponto final na sua história quando o fim daquela década transformou esses dois espaços em relíquias do passado.

Entre aquele ano e 2020 a influência da banda pode ser sentida nas carreiras paralelas de seus ex-membros ou em outras aparições cinematográficas (a mais marcante no filme Call Me By Your Name), mas pouco além disso. Até que, no meio de uma pandemia que transformou uma parte considerável da indústria do entretenimento em mortos-vivos, lançam um álbum que parece saído diretamente de seus anos áureos. O mais impressionante em uma primeira audição é a limpidez dos vocais. Sejam naturais ou auxiliados pelas tecnologias sonoras contemporâneas, o timbre nos remete diretamente ao The Psychedelic Furs de três décadas atrás. As guitarras em conflito e o sax que marcaram o estilo da banda também continuam presentes como antes. As letras que, a princípio, não tem nada de especial, desabrocham quando as lemos com a perspectiva da linha literária das bandas de post-punk oitentistas.

É pouco provável que o mundo hoje esteja aberto ao pessimismo e à intensidade que marcaram aquele estilo musical tão natural ao período. E não deixa de ser um ponto fraco que exista uma desconexão tão grande entre o conteúdo de um disco e o contexto em que foi produzido. Para quem buscar a passagem do tempo em Made Of Rain, serão poucos os momentos que guardarão esses indícios. Para quem for saudosista da sonoridade da banda, ou simplesmente queira algo novo feito naquele espírito, ouvir o álbum pode ser uma experiência reconfortante. Ainda mais por não se tratar de um pastiche, mas sim do artigo original.

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Emannuel K.
You! Me! Dancing!

Escrevo ficção e adoro falar sobre arte, filosofia, vinho, história, cinema e, especialmente, literatura e música. Pseudo-intelectual, arrogante e metafórico.