U.S. Girls — Heavy Light

Novo álbum de Meghan Remy traz alguns bons momentos, mas é pouco ambicioso sonoramente

Giovanni Vellozo
You! Me! Dancing!
2 min readMar 16, 2020

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Heavy Light

U.S. Girls

Lançamento: 06/Mar/2020
Ouça:
“4 American Dollars”, “Denise Don’t Wait” e “State House (It’s A Man’s World)”
Nota:
6.0
Stream

Nos últimos dez anos, o projeto-de-uma-pessoa-só U.S. Girls, da produtora Meghan Remy, construiu uma discografia em uma crescente. Isso desde os primeiros trabalhos em uma estética psicodélica lo-fi até chamar definitivamente a atenção em trabalhos melhor produzidos, principalmente os lançados pela 4AD — Half Free (2015) e In A Poem Unlimited (2018). Tudo nessa trajetória indicava para uma ambição maior em arranjos e estruturas musicais. Mas em Heavy Light, lançado no último dia 6 de março, foi dado um passo atrás.

Claro que seria grosseiro dizer que isso em si é um problema. Há incontáveis casos na história da música de artistas que fizeram grandes trabalhos fugindo de produções superlativas e sofisticadas. E, de certa forma, não é também como se o novo trabalho de Remy seja completamente cru ou simplório — longe disso. E não precisa muito, dá para sacar já de cara, na abertura com “20 Reais”, não, pera, “4 American Dollars”. Com uma pegada mais soul, a faixa traz um comentário ácido sobre desigualdade financeira que facilmente gruda na cabeça, principalmente pela repetição constante nos refrões e ao final.

Repetição, aliás, aparece constantemente em Heavy Light. Boa parte das músicas segue essa característica da faixa inicial, o que pode gerar momentos interessantes como “Denise Don’t Wait” ou a balada ao piano “Woodstock ‘99”. Mas em outros, pode soar apenas como um artifício mais preguiçoso e insípido, como em “Born To Lose” e “Red Ford Radio”. E infelizmente o mesmo pode ser dito dos três interlúdios do disco, compostos apenas com falas aparentemente profundas sobre memórias e traumas pessoais, mas que acabam soando completamente deslocadas do restante.

Sintomaticamente, há também uma regravação da música “State House (It’s A Man’s World)”, originalmente lançada lá em 2011. Construída em cima da consagrada batida de “Be My Baby” e com um comentário sobre os papéis de gênero, essa faixa de menos de dois minutos condensa boa parte do que torna o projeto U.S. Girls o que é. Nesse sentido, Heavy Light é um disco certamente coerente, mas em menor escala. Infelizmente, esse resultado final é pouco para quem já alçou voar mais alto.

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