Widowspeak — The Jacket

Maturidade é o conceito central de álbum que vai contra as tendências musicais contemporâneas

Emannuel K.
You! Me! Dancing!
3 min readJun 20, 2022

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The Jacket

Widowspeak

Ouça: O disco todo, com bons fones de ouvido, para prestar atenção nas texturas sonoras
Nota: 9.0
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Continuando a trajetória de setorista de Widowspeak daqui do You! Me! Dancing!, venho fazer a quarta resenha de um álbum do grupo. Essa curiosidade é certamente irrelevante para você que me lê, mas, ao mesmo tempo, acredito que diz muito sobre a banda. Não é como se esse sexto disco de estúdio do duo fosse voltado para atrair novos ouvintes. A maior parte de quem tocar play em The Jacket provavelmente já conhece os trabalhos anteriores e sabe o que esperar de um disco com o nome Widowspeak na capa.

Quem acompanha essa trajetória vê, agora, uma banda muito mais madura. Se essa palavra já era chave para o disco anterior, Plum, é ainda mais significativo agora. O som que Widowspeak faz é um som adulto, que está anos-luz distante do cenário musical voltado para bombar com dancinhas no TikTok. Não, The Jacket fala para uma geração anterior a isso. E, mais especificamente, a uma parcela bem restrita dessa geração que já não é mais jovem ou sequer jovem adulta. É muito mais fácil imaginar esse álbum fazendo parte da coleção de uma pessoa que aprecia coisas refinadas. Mais ou menos como, para essa geração, as pessoas mais velhas que queriam reafirmar sua seriedade colocavam uma obra obscura de jazz para tocar. Porque a técnica que o duo desenvolveu ao longo dos anos e que aparece de forma muito marcante nesse álbum é comparável à dos compositores admirados de gêneros musicais que o tempo deixou para trás.

The Jacket não parece um disco de 2022. O som é orgânico demais, limpo demais. Mesmo os vocais mais cantaroláveis dos hits dos discos anteriores desapareceram. Ao mesmo tempo, a voz de Molly Hamilton nunca esteve tão bela. As letras não são sensacionais, são apenas um meio através do qual transportar os tons etéreos da cantora. Mas evitam repetições exaustivas que são uma das presenças mais frequentes no indie contemporâneo, e que estiveram presentes em outros trabalhos da banda. E as instrumentações continuam primorosas, continuam sendo o ponto forte do grupo, mas que, agora, parece exigir mais atenção para que possa mostrar suas qualidades. The Jacket tem tudo para se tornar uma obra-prima esquecida num cenário musical que parece valorizar exatamente o oposto do que o disco apresenta. Mas, para quem acompanha a trajetória da banda ao longo dos anos, com certeza será um ponto alto, e uma prova de que o amadurecimento pode trazer muitas qualidades, que, mesmo sutis, merecem ser apreciadas.

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Emannuel K.
You! Me! Dancing!

Escrevo ficção e adoro falar sobre arte, filosofia, vinho, história, cinema e, especialmente, literatura e música. Pseudo-intelectual, arrogante e metafórico.