Yael Naïm — nightsongs

Não tente fazer outra coisa, nightsongs irá roubar sua atenção

Quel Batista
You! Me! Dancing!
3 min readJun 30, 2020

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nightsongs

Yael Naïm

Lançamento: 20/Mar/2020
Ouça: “Daddy”, “How Will I Know” e “Watching You”
Nota: 8.0
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Escrever esta resenha foi um tanto quanto desafiador, devo dizer. No meu processo criativo, gosto de ouvir o disco sobre o qual escrevo, enquanto escrevo. Com nightsongs, mais recente álbum cheio da cantora franco-israelense Yael Naïm, isso quase não foi possível.

São doze faixas que roubam a sua atenção já nos primeiros arranjos. Como um quadro intrigante na parede de uma galeria, é uma obra que prende do início ao fim.

Inegavelmente revelador, este lançamento deixa os arranjos instrumentais de orquestra soarem com liberdade, sem se preocupar em preencher com a voz todos os espaços. Mas não pense você que esta voz é coadjuvante, pelo contrário, sempre que empregada, acerta. Os instrumentais, por sua vez, co-protagonizam as canções nas quais Yael brinca bastante com as ambiências e não se atém a aparar o que alguns chamariam de “sobras”, mas que, acredito, têm o seu lugar nestas composições.

Em sonoridade, nightsongs pouco lembra She Was A Boy e o homônimo Yael Naïm. Enquanto este ousa e imprime uma identidade mais madura, de uma mulher de 40 anos — em sua plenitude vocal e do seu feminino — os trabalhos anteriores tinham características sonoras quase pueris, um coming of age dos vinte e poucos anos.

Nas letras, Naïm conversa consigo e com o seu passado. Enquanto conversa, convida o ouvinte a seguir com ela pelo caminho e revisitar suas próprias histórias, suas relações familiares, sonhos antigos, frustrações. De alguma forma, o disco parece bastante adequado para o momento em que vivemos, no qual somos obrigados — pelo isolamento — a encarar nossa própria escuridão.

Saying goodbye to all my friends
While I’m still alive… Till when?
I’ve got to know who I am
Laughing about it all… now

Cantado majoritariamente em inglês, nightsongs traz algumas canções em francês, língua mãe da artista, que rememoram sons dos idos do início da carreira da cantora, amadurecidos porém. Há ainda momentos em que inglês e francês se misturam, como em “How Will I Know”, um verdadeiro deleite sonoro e lírico, capaz de levar os mais sensíveis, como eu, às lágrimas.

Este disco parece ter sido pensado para ser uma trilha sonora, seja da vida de Yael Naïm, seja de uma peça inspirada nos dias que vivemos. Portanto, se ao ouvir este disco esta impressão atingi-lo, não é sem razão. Muito devido ao histórico pregresso de musicais da formação da cantora e também à escolha do piano como instrumento principal. Delicado, sensível e confessional seriam bons termos para definir nightsongs, que certamente vale sua atenção.

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Quel Batista
You! Me! Dancing!

Escritora, produtora cultural, publicitária e podcaster.