O Jovem Leonardo da Vinci

Um Dos Mais Completos Artistas De Todos Os Tempos

Ivan Chagas
Young Polymaths
9 min readOct 27, 2020

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Uma Rápida Introdução:

Nada mais apropriado que a terceira entrada nesta série Mestres de Tudo seja feita no aniversário de 500 anos de seu falecimento. Conhecido por sua imaginação inventiva fervente e sua curiosidade insaciável, o homem original do Renascimento, Leonardo Da Vinci, é consistemente referenciado como uma das mentes mais importantes e criativas de todos os tempos.

Provavelmente o maior pintor de todos os tempos, sua vida de conquistas passou por muitas disciplinas. De invenções militares, a observações anatômicas, a esboços utópicos, Leonardo Da Vinci definiu o padrão dos polímatas. Nesta mini-série, falamos anteriormente dos anos de formação de Benjamin Franklin e Bertrand Russel. Vamos manter o mesmo foco ao focar num período específico da vida de Leonardo da Vinci. Como ele era em seus vinte e poucos anos?

Algumas De Suas Conquistas Notórias:

Dos 20 Aos 30 (1472–1492):

Perceberam que Da Vinci possuía um grande talento artístico desde cedo em sua vida. Isso é evidente por ter se tornado um aprendiz quando fez 14 anos. Gastou a maior parte da sua infância em Vinci, um território que fica em um vale na atual Florença, aos 14 ele mudou-se para a cidade para trabalhar diretamente com Andrea del Verrocchio. Com uma lenda das artes do seu lado, o estúdio de Verrocchio era possivelmente uma das melhores oportunidades de aprendizado para qualquer artista jovem naquele período. Ainda que Verrocchio fosse o melhor pintor em Florença, seu estúdio oferecia uma educação mais ampla. Outras figuras famosas pisaram no estúdio e esbarraram com o jovem Leonardo, como Domenico Ghirlandaio, Pietro Perugino, Sandro Botticelli e Lorenzo di Credi. Com um acesso a um talento técnico tão diverso e princípios teóricos, é pouco surpreendente que Leonardo aprendeu tantas disciplinas como esboço, carpintaria, desenho, pintura, escultura e modelagem.

É amplamente conhecido que Verrocchio, como mestre do estúdio, frequentemente deixava vários de seus aprendizes e assistentes contribuírem com seus trabalhos comissionados. Como a história conta, dos tipos de pinceladas e a atenção à luz, a influência de Leonardo é vista em pelo menos uma das obras de Verrocchio — A Anunciação, em particular, é frequentemente listada como a primeira “obra” de Da Vinci.

A Anunciação — Verrocchio

Da Vinci fez 20 anos em 1472. Esse ano de início foi marcado por dois grandes eventos em sua vida. Primeiro, depois de sete anos, Leonardo finalmente deixou o estúdio de Verrocchio com seu pai para montar seu próprio workshop. Só que ele percebeu rapidamente que preferiria a chancela que o estúdio de Verrocchio oferecia e retornou antes do fim do ano. Segundo, baseado em seu trabalho com Verrocchio, ele foi convidado para se juntar à guilda de São Lucas, a guilda dos pintores, em Florença. Na maior parte da Europa, desde a expansão das cidades, artes e profissões manuais eram governadas por entidades locais conhecidas como guildas. Essencialmente sindicatos municipais, essas associações controlavam o comércio, limitavam a concorrência, estabeleciam padrões de qualidade e ditavam regras para o treinamento de aprendizes. A membresia era geralmente compulsória — somente membros da guilda podiam praticar comércio na cidade e território. Raramente eram convidados membros tão jovens, o que aponta ao grau que seu talento demonstrava.

No ano seguinte, já com 21, ele publica seu primeiro trabalho original, oficial e comissionado. Datado em 5 de Agosto de 1473, Leonardo desenhou uma paisagem retratando o Rio Arno e o Castelo Montelupo.

Aos vinte e dois, em 1474, ele recebeu sua primeira comissão por um retrato de Ginevra de’ Benci de 16 anos. Enquanto o patrono é deixado um pouco de lado pela história, os contos vão de seu prometido Luigi Niccolini a seus admiradores, um dos quais era o aristocrático Lorenzo de’ Medici, parte da família de elite Medici.

Ginevra Benci — Da Vinci circa 1474

No ano seguinte, 1475, Da Vinci começou vários projetos individuais que seriam lançados posteriormente; só que é impossível de determinar quando cada pintura foi iniciada. É confirmado, de qualquer forma, que esse é o ano que ele e Verrocchio terminaram o Batismo de Cristo.

No ano seguinte, 1476, o Da Vinci de 23 anos sofreu um grande constrangimento pessoal e público. Quase a ponto de se tornar um mestre por seus próprios méritos, ele foi subitamente atormentado por um escândalo: Da Vinci, junto com três outros jovens, foi anonimamente acusado de sodomia (ainda um crime em Florença). A acusação foi particularmente embaraçosa para Da Vinci porque a acusação era de Jacopo Saltarelli, um prostituto.

Seguiram-se cinco anos de profundo desespero, isolamento, fracasso comercial e obras inacabadas. Nos dois anos seguintes imediatamente após as acusações, 1477 e 1478, quase nada se sabe sobre Leonardo aos 24 e 25 anos. Nem paradeiro ou seus trabalhos em andamento — apenas que ele aparecia intermitentemente no estúdio de Verrocchio.

Durante os três anos seguintes, Da Vinci novamente saiu por conta própria; apenas para, mais uma vez, falhar comercialmente. Devido ao seu crescente renome, ele pelo menos conseguiu receber um total de três comissões, mas não conseguiu concluir uma única obra.

Ele começou dois trabalhos, deixando-os inacabados, então ignorou completamente sua terceira comissão. No entanto, uma das duas encomendas inacabadas, A Adoração dos Magos, apesar de não ter sido concluída, impulsionou a reputação de Da Vinci de 28 anos como um talento artístico da geração.

Adoração dos Magos — Leonardo Da Vinci circa 1481

Em 1482, Leonardo criou uma lira de prata no formato de uma cabeça de cavalo. A aristocracia local, Lorenzo de’ Medici, viu uma oportunidade aqui para reacender um relacionamento tenso ao enviar Leonardo a Milão, levando a lira como um presente, para garantir a paz com Ludovico Sforza, duque de Milão.

Em uma tática pouco característica e ortodoxa, Leonardo também viu uma oportunidade aqui de deixar sua cidade natal e escapar de sua reputação difamada procurando emprego com o destinatário da mensagem. Junto com a lira, Leonardo entregou uma carta escrita à mão afirmando um conjunto extraordinário e diversificado de habilidades, algumas das quais ele claramente não tinha experiência anterior. Algumas dessas afirmações bizarras são:

Eu tenho uma espécie de pontes extremamente leves e fortes… que são seguras e indestrutíveis por fogo e batalha.

…Eu tenho métodos para destruir todo tipo de pedra ou outras fortalezas, mesmo que tenham sido fundadas sobre uma rocha.

Eu tenho morteiros… que podem arremessar pequenas pedras quase como uma tempestade; e com a fumaça delas causar grande terror ao inimigo.

E quando a luta for no mar, eu tenho muitas máquinas mais eficientes para ataque e defesa; e embarcações que irão resistir ao ataque das maiores armas.

Embora seja inteiramente possível que Leonardo tenha esboçado muitas dessas invenções, ou mesmo as tenha considerado em experimentos mentais, foi realmente do nada que ele hiperbolizasse tanto. Também foi bastante tempestuoso desafiar a credibilidade das reivindicações, terminando a nota com:

Se qualquer uma das coisas mencionadas parecer a qualquer um impossível ou inviável, estou mais que pronto para fazer a experiência em seu parque, ou em qualquer lugar que possa agradar a Vossa Excelência.

Madona das Rochas — Leonardo Da Vinci circa 1484

Talvez com o objetivo de matar dois coelhos com uma cajadada só movendo de local e reconfigurando sua carreira como engenheiro-artista em vez de pintor, a tentativa arriscada de Leonardo funcionou: Da Vinci, aos 29 anos, estava a caminho de Milão como oficial “Pintor e Engenheiro do Duque.”

No ano de encerramento desta minissérie, aos trinta, nosso protagonista se envolve em sua primeira encomenda em Milão: a Madona das Rochas. Como suas comissões anteriores, no entanto, esse projeto específico se arrastou por vinte e cinco anos antes de receber o pagamento, resultando em duas versões finais diferentes.

Peculiaridades, Rumores E Controvérsias:

Mais uma vez, chegamos ao ponto desta série que a coisa fica séria: quão infalíveis são esses polímatas aparentemente perfeitos?

Em termos peculiares, Leonardo Da Vinci viveu um traço de personalidade acima de tudo: a curiosidade. Conforme observado em seu diário e observações, Da Vinci simplesmente alimentou essa curiosidade insaciável por toda a sua vida — o que é fácil de classificar como crítico em seu caminho em direção à genialidade universal. Um dos melhores exemplos frequentemente citados de sua curiosidade é uma nota escrita por ele mesmo para estudar um assunto específico de intriga:

Descreva a língua de um pica-pau.

Como Bertrand Russell, Leonardo, sem dúvida, mergulhou no lado negro de suas emoções e psique ao longo de sua vida (embora nunca um suicida declarado). Ao contrário de Benjamin Franklin, Leonardo foi um desastre com suas finanças pessoais e quase igualmente irresponsável com seus compromissos comerciais.

Como fica evidente pela turbulência pessoal causada durante as acusações de sodomia, Leonardo, às vezes, passava de seu eu gregário para um criativo isolado marcado pela depressão, tristeza e culpa. Outro desses momentos ocorreu quando ele foi esmagado por Michelangelo em uma batalha de gênios artísticos, desistindo antes mesmo do início da competição.

À parte dos distúrbios mentais e emocionais leves e intermitentes, Leonardo Da Vinci era absolutamente péssimo no que dizia respeito a suas finanças pessoais ou a seus compromissos comerciais. Conte o histórico acima — apenas nesse resumo de dez anos, ele literalmente entregou apenas um trabalho, de um total de cinco comissões. Pergunte a qualquer freelancer, largar projetos incompletos significa mergulhar de cabeça na caixa de Pandora — isso obviamente torna a coleta de pagamentos e alcançar a estabilidade financeira ridiculamente impossível. Felizmente, a rede cada vez maior de Da Vinci, particularmente nos círculos de alta classe, forneceu-lhe hospedagem e alimentação. Ele teve um estilo de vida rico, embora não tivesse muita riqueza pessoal. Se ele exibisse a mesma apatia em relação aos compromissos no contexto de mídias sociais de hoje em dia , é altamente provável que ele teria se queimado e talvez nunca mais fosse contratado novamente.

Fechando:

Quem foi Leonardo Da Vinci em seus vinte e poucos anos? Um pintor extraordinariamente talentoso com uma curiosidade febril à beira de expandir enormemente seu repertório.

Ele teve conquistas nesse tempo? Sem dúvida, mas com uma ressalva. Enquanto ele tinha muito talento durante esses anos de formação, é difícil dizer que ele “realizou” muito em termos de conclusão de pedidos ou gerenciamento comercial de seu próprio estúdio.

Na verdade, olhando apenas para esse período de tempo, com exceção da carta audaciosa que escreveu ao duque de Milão, Leonardo Da Vinci era bastante unidimensional. Ele tinha um talento extraordinário como pintor e exibia grande potencial em outros empreendimentos, mas nada mais. Na casa dos vinte anos, o Homem do Renascimento estava longe de ser o gênio universal que ele seria reconhecido depois — então não se preocupe em diversificar suas habilidades tão cedo. É muito mais crítico alcançar o domínio em uma área durante esses anos e, em seguida, aplicar esses modelos mentais a conjuntos de habilidades adicionais.

Fontes:

Leonardo Da Vinci — Walter Isaacson

World History Project — Leonardo Da Vinci

Da Vinci Life — Timeline

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Ivan Chagas
Young Polymaths

Proudly Brazilian, founder of School of Polymaths and obsessed with learning. Making Education more open and accessible.