O que esperamos das escolas?

A visão de um ecossistema escolar saudável

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Quando se entra numa escola esperamos sentir felicidade, não seja este um dos locais onde há mais crianças.

Espera-se que existam rotinas adequadas às necessidades das crianças e dos pais, e que estas sejam fáceis de aplicar e compreender pelos agentes educativos. Espera-se ainda que estas rotinas sejam fixas sem o serem, ou seja, que as rotinas existam para que a criança pressinta uma estabilidade, mas que também possam ser quebradas em dias de “festa”.

Espera-se que se pratique o respeito mútuo, a partilha e a escuta ativa, espera-se que quem trabalha na escola saiba ser criança e adulto, e que esperem das crianças o que se deve esperar das crianças… Ou seja, que sejam reguilas, que testem limites e quebrem regras, que não gostem de estar muito tempo paradas numa sala, que corram para o recreio, que gostem mais de uns do que de outros e que não tenham medo de o mostrar! Espera-se que gostem de ficar na escola e que gostem de ir para casa com os pais.

Espera-se que sejam estimuladas com amor e tranquilidade, que não sejam castigadas porque não conseguem aprender as contas de somar ou de subtrair, que não sejam chamadas à atenção à frente da turma toda e que sejam elogiadas à frente da turma toda.

Espera-se que os professores sejam um bocadinho como os pais e tenham — no seu íntimo — preferências… Mas que não as mostrem abertamente, para não magoar os corações das crianças e dos pais.

Espera-se que os agentes educativos conheçam as crianças e os pais e que tenham tempo para ajudar um pai em apuros ou uma criança revoltada com um divórcio, ou ciumenta pelo nascimento de um irmão… Espera-se que o ecossistema funcione como um ecossistema, e que por isso as crianças, os pais e os educadores comuniquem aberta e carinhosamente acerca do que se passa naquele local mágico, onde se formam os adultos de amanhã.

Espera-se que os valores estejam expostos a todos, e que em vez de se exigir notas de rankings, se exija que as crianças respeitem o outro e se respeitem, que partilhem, que confiem, que cresçam com confiança para explorar e desafiar o mundo, que critiquem como só eles sabem fazer e que agucem a curiosidade dos adultos a redescobrir novamente o que é ser criança e a inovar.

Esperamos encontrar salas coloridas, com obras primas nas paredes — e que os pais possam e devam ser puxados pelas mãos dos filhos, que orgulhosamente dizem: -“ Pai, este fui eu que fiz! E aquele ali és tu!”.

Espera-se que os educadores chamem os pais à atenção e que os pais chamem os educadores à atenção, espera-se que o principal objetivo de um ecossistema escolar seja sempre o desenvolvimento do potencial das crianças, nas suas mais variadas vertentes.

Espera-se sensibilidade e amparo nas situações difíceis e espera-se que os adultos consigam conter em si mesmos as suas preocupações, ansiedades e preferências e que não as passem para as crianças, para que assim, elas continuem a sentir que podem crescer seguras e desafiar os contratempos da sua vida, sem estarem com medo de olhar por trás do ombro e não encontrarem ninguém para as ajudar a compreender os porquês e para quês da vida… ou os como, ou os quem… ou mesmo os quando.

Espera-se mais tempo de brincadeira livre e pais e educadores menos académicos, espera-se que aprendam a ler e a escrever através de histórias lúdicas, que desenvolvam o cálculo matemático enquanto jogam à macaca, e que aprendam a defender-se no recreio, quando os maiores lhes roubam a bola de futebol!

Espera-se que a escola, seja uma escola. Mas não uma escola académica, de onde saem meninos com canudos debaixo do braço a papaguear excertos dos Lusíadas na perfeição. Espera-se que seja uma escola que prepare para a vida, e na vida não é com canudos que se constroem as pessoas, é com valores de partilha, generosidade, aceitação da diferença, capacidade de trabalho para atingir os objetivos, cooperação e respeito…

E são estes os valores que queremos sentir ao entrar numa escola…

Sara Carvalho
COO —
Yourself Clinic
Empreendedora, psicóloga clínica, formadora e coach é uma amante de pessoas que acredita na gestão através da generosidade e gratidão.

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