Os desafios das mulheres na área de tecnologia

Jaqueline Borba
Youse Tech
Published in
6 min readJun 17, 2022

O mercado de tecnologia está superaquecido e isso já não é novidade para ninguém. Estamos vivendo um momento exponencial, por conta da tecnologia que está presente cada vez mais em nossas vidas.

A pergunta que fica é: onde estão todas essas mulheres?

Mulheres que são a maioria no ensino superior, que estudam em média mais tempo, que são mães, esposas e filhas, mas quando se trata de tecnologia e inovação, tem sido a minoria esmagadora.

É isso mesmo, esmagadora. Porque quando se é uma mulher dentro da área de tecnologia, assim como eu, leva um tempo para se sentir parte. Talvez seja medo, insegurança ou simplesmente falta de representatividade feminina na área, mas essa realidade tem mudado e agora estamos aqui para bagunçar essas estatísticas.

Hoje, falaremos um pouco mais sobre os ‘Desafios das mulheres na área de tecnologia’, e com o coração cheio de esperanças que em um futuro breve voltaremos aqui para falar apenas de tecnologia e inovação, sem nenhum tipo de distinção de gênero.

Que tal voltarmos um pouquinho no tempo?

Quem fez as bases da tecnologia, computação e internet foram as mulheres. E elas foram completamente apagadas. Mas queria citar aqui algumas que tiveram atuações importantes para a história da tecnologia.

Vocês sabiam que a primeira pessoa, o primeiro ser humano considerado um programador, era uma mulher? Sim, uma mulher! Ada Lovelace, matemática, escritora, condessa e criadora do primeiro algoritmo publicado na história, mas ninguém nunca mais ouviu falar da Ada.

Outro exemplo incrível é a Hedy Lamarr, atriz de Hollywood, com participação em mais de 30 filmes, que fez uma contribuição tecnológica enorme durante a Segunda Guerra Mundial, criando o Wi-Fi. Maravilhosa, né? Deveria ter um filme dessa mulher, mas ninguém mais fala sobre ela.

Grace Hopper, todo mundo fala em “Bug” e, sim, foi ela que inventou esse termo, anotando todos os imprevistos que aconteciam no processamento de máquinas. Durante o expediente, um inseto interrompeu o processo da máquina, causando uma falha. Ela simplesmente colocou o inseto no seu caderno de anotações relatando o erro. Foi daí que surgiu o termo.

Stephanie Steve, criadora do termo “Freela”, forçada a desistir do seu emprego de programadora de software ao se casar com seu colega de trabalho (casais não podiam trabalhar juntos, em 1962). Com isso, começou a sua própria empresa de software: Programadores Freelance. Cansada da misoginia casual do local de trabalho que ela enfrentou até aquele ponto (quando um homem beliscou sua bunda, ela gritou em voz alta: “tire suas mão de mim!”), passou a só contratar programadoras. Ela fez o software da Boeing. Foi essa mulher que fez. Sua empresa foi avaliada em US$ 3 bilhões e 70 membros da sua equipe se tornaram milionários. Mulher, programadora, mãe de Giles, que lutou por 37 anos contra o autismo, em 2014, Steve doou parte de sua fortuna para ajudar nas pesquisas de autismo como forma de homenagear seu falecido filho. Novamente, não ouvimos falar dessas mulheres e suas contribuições para a evolução da tecnologia.

Na primeira turma de Ciências da Computação, na USP, em 1970, 70% dos alunos matriculados eram mulheres. Hoje, o presente não é tão legal assim. Na minha sala de aula, apenas 8,2% dos 78 alunos matriculados são mulheres. Essa porcentagem representa apenas 7 mulheres em uma sala com 78 pessoas. Ainda precisamos evoluir muito para esses números mudarem, mas por qual motivo será que existe tanta diferença assim?

Na minha infância, eu sempre sonhei com um lindo Playstation. Nossa, que irado! E o que ganhava? A cozinha cor de rosa, a lousa para ser professora, as bonecas para me tornar uma boa mãe e, sim, hoje eu entendo como isso influenciou de forma muito direta a desenvolver todas as minhas inseguranças de me tornar quem eu realmente queria ser.

Na casa dos meus primos nunca foi diferente. Eu me divertia com o computador e o Nintendo que ficava no quarto do meu primo. Já o quarto da minha prima, eu não passava nem perto, porque era só reflexo de tudo que eu tinha acesso em casa.

Desde sempre, a sociedade impõe o que são coisas de menino e coisas de menina. Com isso, temos números que mostram que a quantidade de mulheres matriculadas no ensino superior em Pedagogia é sempre muito alta, já em Ciência da Computação eu não preciso nem dizer, né?

Nas escolas, as meninas até demonstram interesse na área, mas na hora de se matricular acabam desistindo, e eu não tenho dúvidas que seja por medo, insegurança e falta de representatividade. Falo com propriedade, pois se trata de uma experiência pessoal.

E os desafios das mulheres na área?

Eles são diários. Eu cheguei a ouvir que em uma empresa as mulheres Devs utilizavam o mesmo banheiro que os homens, já que lá o quadro de funcionários era 100% masculino. Isso em 2017, hein. Não faz tanto tempo assim.

Em uma sala de desenvolvedores no Discord, fazendo trabalho da faculdade, um cara se referiu ao código do outro como “coisa de mulherzinha”. O que é “coisa de mulherzinha”? Eu, uma mulher, sem entender, o questionei. O resultado foi um silêncio ensurdecedor, e não consegui uma resposta.

Mas, partindo desse fato, cozinhar, lavar, passar, cuidar da casa, educar os filhos, chorar etc., correspondem ao papel da mulher. Enquanto tarefas mais “nobres”, seriam coisas de homem e, ali, o que não o agradou, ele diminui como se fosse “coisa de mulherzinha”.

Atualmente, as coisas não são bem assim, mas ainda tem muita gente que quer viver como se estivesse no passado. Essa é a minha visão e, não satisfeita, fiz uma breve pesquisa pelo Google Forms, pedindo que algumas mulheres do LinkedIn descrevessem algum relato preconceituoso que já passaram na área de tecnologia por ser mulher. Essas são algumas respostas:

  • “Na empresa onde atuo, eu sofro diariamente com dúvidas, para os devs homens elas são respondidas de forma mais rápida, eu tenho que mandar e ficar cobrando”.
  • “Quando iniciei minha carreira, senti falta de representatividade feminina, e muita das vezes me vi com medo de expor minhas ideias e opiniões por conta da proporção de homens na área”.
  • “Em uma empresa fui assediada por um cara e subi o assunto para meus gestores, mas disseram que não podiam fazer nada, pois ele tinha um papel importante no cliente. Logo em seguida, uma gerente de projetos foi demitida, pois estava se relacionando com um rapaz da empresa”.

E como é aqui na Youse?

Iniciei minha carreira profissional na Youse através de um programa de estágio com 7 vagas, destas, 6 foram ocupadas por mulheres. Isso foi incrível! Rolou uma dinâmica bem leve e descontraída, muito diferente de outros processos seletivos que eu tive a oportunidade de participar.

Aqui, na Youse, nos meus 3 primeiros meses tive um período de imersão, onde os estagiários foram apresentados para todas as áreas da empresa. No final, fomos direcionados para uma área de desenvolvimento a fim de se especializar. Essa iniciativa precisa ser usada como referência para outras empresas, e que entendam que o momento é de empoderar, dar espaço e aumentar a inclusão das mulheres na área.

Sim, os desafios são muitos e diários. Não estou aqui apenas para citá-los, quero propor mudanças. Como falei: “Quero bagunçar essas estatísticas”. Acredito em um futuro com mais mulheres sendo referência, com mais representatividade e espaço para crescer.

Se trabalharmos com essas meninas que sonham estar em tecnologia, podemos estar inspirando uma geração inteira e fazer com que essas diferenças fiquem no passado.

Nós temos que inspirar crianças e jovens para que eles não façam distinção de gênero, para que não carreguem nenhum tipo de estereótipo de tecnologia, para que possam usar tecnologia e inovação com criatividade, e não só como um trabalho técnico e massivo. Vai muito além!

Tenho certeza que se nós mostrarmos tudo isso para essa nova geração, conseguiremos melhorar o mundo. Com mais igualdade, educação, iniciativas e inclusão, tenho certeza que as coisas vão melhorar. Vou colocar isso em prática nem que seja necessário fazer com uma menina por vez, e mostrar pra elas que lugar de mulher é onde ela quiser, inclusive na tecnologia!

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