73% dos alunos LGBT já sofreram agressão verbal na escola, diz pesquisa
Estudo também colheu depoimentos de estudantes sobre suas experiências dentro da sala de aula
Da Redação*
“Certa vez ao sair da escola com a minha amiga, que é lésbica, dois garotos da nossa sala nos perseguiram até quase chegarmos à minha casa, moro a 5 km da escola. Enquanto corríamos com medo, os dois gritavam coisas como: aberrações, filhos do capeta, abominação e coisas do tipo. Depois do ocorrido fui para a escola por mais uma semana, e depois desisti de estudar aquele ano (2015), pois não me sentia seguro”. Esse é um relato de um estudante de 16 anos do estado do Mato Grosso registrado na Pesquisa Nacional sobre o Ambiente Educacional no Brasil 2016, divulgada nesta semana.
Outros depoimentos de estudantes, obtidos através das redes sociais, são ainda mais assustadores (leia a pesquisa completa). Por se tratar de uma pesquisa anônima, os estudantes não foram identificados. De acordo com a pesquisa, 73% dos estudantes gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais afirmam que já sofreram agressão verbal e 36% relataram que foram agredidos fisicamente dentro do ambiente escolar.
Segundo a pesquisa, os estudantes LGBT que vivenciaram maiores níveis de agressão verbal devido à orientação sexual ou identidade de gênero tem probabilidade 1,5 vezes maior de relatar níveis altos de depressão. Alguns dos depoimentos de estudantes evidenciam também níveis mais baixos de autoestima e até mesmo desejo de cometer suicídio. 60,2% dizem que se sentem inseguros na escola por serem LGBT.
O relatório foi elaborado pela Secretaria de Educação da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT) e apresentado na Comissão de Legislação Participativa da Câmara dos Deputados. Trata-se de um dos primeiros levantamentos sobre o cenário educacional a respeito da diversidade sexual.
A abordagem da temática no ambiente escolar também foi questionada. A ABGLT argumenta que é preciso que os educadores tenham uma formação com conteúdos específicos voltados ao tratamento adequado às minorias sociais, promovendo o respeito dentro das salas de aula. Entre outras ações, a entidade também sugere a criação de canais para que os estudantes possam relatar agressões, políticas públicas inclusivas e leis para combater a discriminação.
60,9% dos participantes relataram que ficam muito à vontade ou mais ou menos à vontade para conversar com professores sobre questões LGBT. Metade fica à vontade para falar com pedagogos e 38,1% com diretor. Mais da metade dos estudantes (56,9%) informaram que as questões LGBT não foram abordadas na escola durante o ano anterior. Cerca de um quinto, 20,2% relatam que aprenderam questões positivas; 16,7%, questões negativas; e, 6,2%, positivas e negativas.
O Ministério da Educação (MEC) pretende lançar curso de direitos humanos para professores da educação básica. Serão módulos de estudo online nos quais os professores terão acesso a temas como racismo, homofobia e bullying. A intenção é que eles tenham subsídio tanto para lidar com essas questões na escola quanto para levar os temas para a sala de aula. O lançamento deve ocorrer em 2017.
*Com informações da Agência Brasil e ABGLT