CRÔNICA

Lições que só uma Copa do Mundo pode ensinar

Kleber Camargo
ZACHPOST - Indie e Indispensável

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Por KLEBER CAMARGO

Em época de Copa do Mundo egosto de ver o que o tempo fez com cada seleção. Os novos jogadores de ataque de uma ou como mudou a formação do meio-campo da outra. Aquelas mudanças que se fizeram necessárias para que o time pudesse se adaptar aos que saíram e aos que entraram, aquelas mudanças para atualizar o sistema de jogo, sempre em busca das vitórias, de serem melhores.

Eu gosto porque eu aprendo sobre os outros, aprendo sobre mim. Aprendo como o tempo, sejam os quatro anos que separam uma Copa do Mundo da outra ou o intervalo de quinze minutos de um jogo, podem nos mostrar que tudo é momento, que tudo se transforma, tudo passa e que nada é imutável.
Eu gosto da correlação tempo e aprendizado. Sabe quando achamos que estamos certos sobre algo, isso depois de termos passado diversas vezes (ou só uma) por aquela situação?! Estamos certos? Na verdade só estamos menos errados, menos errados que um pouco antes. Sempre, seja na vida ou no campo, vai ter outro ponto pra entender, outro time pra estudar, alguém mais técnico pra nos confrontar e aí nos fazem pensar: “Putz, eu não sou o ápice da sapiência interplanetária nisso, posso sempre melhorar”.

Eu gosto porque percebo sobre as dificuldades. O que acontece comigo pode até não ser minha culpa, mas é minha responsabilidade. A partir do momento que a situação passa por mim, eu me torno responsável pelo que fazer com ela. Se vou levar como algo de incentivo ou algo que me destrua emocionalmente… Modric que o diga né?! No jogo Croácia x Dinamarca pegou a bola pra bater o pênalti que não foi ele que sofreu e se tornou responsável pela glória do gol ou frustração da perda dele. Toda a intensidade dos dois lados de um sentimento ficou na sua responsabilidade, não a culpa. Isso é importante lembrar: Quando você quer o prazer de algo/alguém, tem que se lembrar que o ônus que ele traz também deve ser medido antes da aceitação da parte boa. Não sei se ele mediu, mas o croata errou um pênalti que levaria sua seleção direto para as quartas-de-finais. Ponto. A vida continua. E é aí que se firma um conceito, o de que um passo importante para não dar tanto valor para as adversidades é encontrar algo mais importante que elas, até porque as adversidades nunca acabam, apenas são substituídas. Na disputa de pênaltis entre os dois times, a seleção croata se classificou. Parabéns Croácia, com uma penalidade convertida por Modric, passou para a próxima fase, mesmo depois do perrengue.

Eu gosto dessa época de Copa do Mundo porque eu lembro de ser menos. Penso que eu tenho mais informações sobre o time da Espanha que meu falecido avô, e que com certeza falaria pra ele sobre os meio campistas rápidos e de toque de bola refinado que iam alimentar o ataque espanhol com Diego Costa, mas ele esperaria eu falar toda a teoria funcional de cada stats e calmamente teria a sabedoria de me falar que toda seleção da casa sempre vai jogar com mais emoção,raça e disposição em um mata-mata, o que dificultaria um time favorito, e internamente quebrado, como a Espanha passar. Eu iria rir, até porque o ataque da Rússia é mais ruim que acordar de segunda-feira pela manhã. Pois bem, no confronto Rússia x Espanha a sabedoria do meu avô ia vencer as centenas de informação que eu tinha. Rússia passou da Espanha. Experiência vale mais que conhecimento.

Em época de Copa do Mundo eu gosto de ver o quanto cada jogo me mostra um pouco mais das pessoas, isso tudo através do tempo. É incrível. Entre jogadores cai-cai, os raçudos que deixam sangue em campo, os que correm muito, aqueles que só crescem quando o calo aperta… o tempo mostra não quem se destaca, mas o que se destaca. Cada traço de personalidade, de se encontrar como ser humano, de entender se é mais um minuto ou menos um minuto de vida. Piiiii, apita o árbitro, acaba o jogo. Não podemos ficar olhando pro tempo e esquecer de viver. Devemos pensar em nós mesmos, depois nas coisas exteriores a nós. Estar em nossa melhor forma de aprendizado para depois tentar ensinar alguém. Não tem como aprender de fora se a gente nem se conhece por dentro. Ser bom pra nós pra ser bom para os outros. Jogo da vida que o tempo passa. É simples, mas não é fácil. Nem pra você, nem pro Neymar.

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