Os vieses cognitivos que me fazem criar produtos ruins

Giuliano Griffante
Zenvia
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4 min readMay 6, 2019

Será que tendências de comportamento aliadas a atalhos mentais podem me fazer tomar decisões ruins em meu negócio?

Os vieses cognitivos são padrões de raciocínio que podem levar a desvios da lógica sistemática, ocasionando decisões irracionais.

Os vieses cognitivos são padrões de raciocínio que muitas vezes temos mas não sabemos explicar o por que, e eles estão aí justamente para explicar decisões que tomamos e para nos ajudar a entender o motivo, para quem sabe em um outro momento não agirmos da mesma forma ou pensar que essa minha decisão está apoiada em algum fato anterior e que não estou totalmente consciente daquilo que estou fazendo.

Seja em nossa carreira, seja nas organizações, temos que fazer escolhas o tempo todo, muitas vezes usamos referências passadas para justificar algo que nem aconteceu ainda ou então não querer arriscar em algo novo, uma vez que não temos informações suficientes do que isso pode causar. Ambos os casos tratam de vieses cognitivos comportamentais.

Vieses comportamentais

Os vieses comportamentais fazem parte de uma classe dentro dos vieses cognitivos, mas na minha opinião são os mais interessantes e os que mais explicam nossa forma de agir. Muitos deles afetam decisões estratégicas e são muito estudados em áreas financeiras e de comportamento humano, mas ao conhecer eles mais, vejo boas e más decisões de design que podem estarem relacionadas aos vieses, como as a seguir:

Ancoragem

Usar eventos passados, acreditando que se repetirão no futuro.

Já vi ocorrer em organizações a descrença que seu consumidor mudou ou que o comportamento do mercado como um todo mudou, e então ter que ouvir frases como “A empresa cresceu sem Product Designers e olha onde estamos hoje, não sei por qual motivo preciso disso para esse projeto”.

Adesão

Tendência de acreditar em algo porque muitas outras pessoas fazem ou usam da mesma forma. É o tradicional comportamento de espelhar-se na concorrência e nos clientes da concorrência, sem entender quem de fato é seu cliente.

Atencional

Comportamento que nos faz ignorar evidências negativas em um estudo, nos fazendo focar em duas ou três outras evidências positivas que confirmem nossa hipótese.

Dá pra citar como exemplo àqueles que gostam de focar em cenários de testes com usuários que comprovam a ideia, sem darem a devida atenção àqueles que não cumpriram uma tarefa de maneira não tão satisfatória.

Congruência

É quando testamos apenas um tipo de cenário em um protótipo de um produto, e ele funcionando bem, damos o experimento como concluído. Isso nos cega para explorarmos outros cenários, o que pode acarretar de abrirmos mão de chegarmos em um resultado melhor ainda.

Escalada irracional de compromisso

É a tendência de nos apegarmos a decisões erradas ou que não vão pra frente por já termos desprendido tempo ou dinheiro para ela. Sabe aquela funcionalidade que ninguém usa, mas que gastamos meses pra por no ar? Ou então aquela página mal arquitetada e desenhada que consome horas do time de atendimento ao cliente todas as semanas mas que “as áreas já foram treinadas para usarem a funcionalidade dessa forma”?

Aqui vão alguns outros vícios mentais que costumamos fazer ou ver alguém fazendo, principalmente dentro de salas de reunião.

Ambiguidade

Evitar escolhas das quais não temos informações suficientes, trazendo uma falsa percepção de improbabilidade de sucesso. É o medo do desconhecido, mesmo que as chances sejam as mesmas em dois casos, temos a tendência de escolher o lado que temos mais informações.

Confirmação

Pesquisar, lembrar de fatos e ir em busca de informações que confirmem nossa hipótese inicial. É uma forma seletiva de realizar pesquisa e entrevistas com usuários, por exemplo.

Efeito falso consenso

Tendência de exagerar o quanto as demais pessoas concordam com você.

Maldição do conhecimento

Quando se domina muito um assunto, e essa habilidade acaba afetando a tomada de decisão em situações mais simples.

Pró-escolha

Enxergar suas ideias melhores do que elas realmente foram. Acho que todos nós temos um pouco dessa.

Ok, ok, mas e agora?

Me vi em vários, mas como eu mudo minha maneira de pensar e agir daqui pra frente?

Bom, é um exercício constante. Eu procuro dia-a-dia estudar mais vieses e tentar responder às perguntas abaixo ao tomar decisões importante:

  • Será que peguei um atalho mental?
  • Será que minha crença inicial se mantém forte ao tentar invalidá-la? Quais os pontos podem derrubar minha ideia?
  • Consigo enxergar pontos positivos e pontos negativos da minha decisão?
  • Se eu levar essa decisão adiante, qual o efeito colateral poderá causar?

Faça esse exercício, pense se você mudou de ideia ouvindo outras pessoas, seja crítico consigo mesmo e de quebra, fique atento a esse outro atalho cognitivo: viés do ponto cego, que é justamente ver os outros agindo de certa forma, achar que estão embasados em algum viés, mas não perceber que você mesmo está agindo e fazendo a mesma coisa.

E você, consegue identificar esses ou outros vieses no seu dia-a-dia?

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Giuliano Griffante
Zenvia
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Product Manager, Process Designer. Lover of business, data, finance and food.