Beatrys Rodrigues
ZERO42
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4 min readMar 21, 2016

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zeronews #2 | Uma renda universal, um sexismo nada banal e uma derrota colossal

Quando for sacar sua renda universal pela primeira vez

Pergunte: “Foi o Canadá que começou com isso, né?”

O quê?

É, não foi o Suplicy. Essa semana, Toronto realizou o sonho de infância de nosso ilustre senador e decidiu que vale a pena testar uma renda universal base. Em dezembro, a Finlândia quaaase fez. Mas o Canadá passou na frente. A ideia é distribuir mensalmente uma quantidade de dólares — ainda não definida — para cada habitante de Toronto, independentemente de sua condição social.

Por quê me importaria?

Porque, no seu futuro, provavelmente não vai ter muito trabalho por aí. Daí que diversas políticas de seguridade social que temos hoje em dia deixam de valer. Como ficam seguro-desemprego, sindicatos, legislação trabalhista e aposentadoria se não há emprego? Como fica a desigualdade social se são as máquinas que produzem e só seus donos recebem algo por isso? (E o sonho da bolsa-robô, como fica?) Pode até ser que no final das contas, ninguém precise trabalhar mesmo e a produção das máquinas seja dividida para todo mundo (o sonho da galera). Mas até chegar ainda tem chão. Um chão esburacado e que pode machucar muita gente que pegar essa estrada (a realidade da galera).

É dessa situação que nasce a necessidade de pensar, rápido, em novas políticas sociais. E, dentro das diversas possibilidades, a renda universal é uma das que mais chama atenção, pela sua idade — foi proposta em 1797, por Thomas Paine — e pela sua simplicidade. O mais curioso é ser uma ideia que agrada vários lados: do Vale do Silício a alguns marxistas. Kathi Weeks, por exemplo, defende a ideia, mas aponta os diversos perigos em achar que apenas uma renda universal qualquer irá resolver nossos problemas futuros: se o programa for mal estruturado, mais desigualdade estaria aí na nossa porta. Entram aqui duras críticas à mentalidade siliciana (pode?), que acha que pode resolver tudo com rapidez e simplicidade. Mas deixar pro Vale resolver o problema do trabalho pode não ser uma ótima ideia (a gente tá te vendo, Uber!), então tomemos essa pílula de esperança com uma boa dose de realismo e desconfiança. Pode ser que funcione, pode ser que não, mas uma coisa é certa: “Nosso sistema econômico requer que as pessoas possuam riquezas ou trabalhem para se manter, assumindo que a economia cria empregos para todos que precisam deles. Se essa hipótese for quebrada — e o progresso em automação tende a quebrá-la, acredito — então deveremos repensar a estrutura básica de nosso sistema econômico”, diz Moshe Vardi.

Quero saber mais!

Renda universal {
e seu bromance com o Vale do Silício;
e seu potencial de acabar com a pobreza;
e porque pode não rolar
}

NÃO MENOS IMPORTANTE…

Quando você ouve um “Parabéns pelo seu dia, lindas”

Respire fundo e lembre da SpaceX

O dia internacional da mulher veio, e o sexismo ficou. Ainda teima em se esconder, mas não adianta: tá aí pra quem se der ao trabalho de olhar com um mínimo de vontade (a gente achou até um desenho explicando pra você). Não é uma questão apenas de desigualdade salarial, mas de como novas tecnologias são pensadas e criadas. Pot-pourri de um futuro machista: Realidade virtual, carreira, assistentes digitais,

Maaas nem só de coisa ruim vive o mundo feminino. Pot-pourri de um presente feminista: Megan Smith, Angelica Ross, Joelle Emerson, Anne Wojcicki,Gwynne Shotwell (quem sabia que a presidente da SpaceX é uma mulher levanta a mão, por favor) e outras 16 mulheres criando nosso futuro.

+ Tecnologia e gênero é um assunto complexo e lindo, que você pode ler sobre aqui.

Quando seu filho ganhar de você no xadrez

Fique confuso: “Hmmm… orgulhoso ou preocupado?”

Foi assim que a humanidade se sentiu essa semana. AlphaGo, uma AI da DeepMind, vem enfrentando Lee Sedol — um dos melhores jogadores do mundo — em diversas partidas de Go, um dos jogos de tabuleiro mais complexos que existem — a quantidade de combinações possíveis é maior do que a quantidade de átomos no universo. Portanto, apenas capacidade de processamento não ajuda; o que importa é a intuição e a capacidade de “enxergar” o tabuleiro.

No estilo “melhor de cinco”, quem ganhar leva um milhão de dólares (e preserva a dignidade de sua raça, de brinde). O que parece que vai ser difícil para os humanos: o AlphaGo já ganhou duas partidas. Lee Seedol entrou em choque com os resultados; Demis Hassabis, CEO da DeepMind, entrou em êxtase. E a gente? Em um leve desespero.

+ Para entender melhor como a DeepMind fez isso, aqui. E dá para acompanhar todas as partidas no YouTube.

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SEU CÉREBRO, AMANHÃ

Começa com ratos
Ratos cyborgues, da
Quartz.

Se espalha para macacos
Nicolelis fazendo o futuro, pela
Uol.

Vai pro exército
Soldados controlando drones com o cérebro, no
The Daily Beast.

E depois te abandona quando não precisar mais de você
Um computador que se alimenta de ATP para sobreviver, da
McGill.

RAPIDINHAS

Thirty Under 30 de humanas, no Pacific Standard
O que acontece quando você desafia hackers profissionais, pela
Fusion
Descubra se você foi powned, na
Motherboard
O último trabalho da Terra, vídeo criado pelo
The Guardian

TEXTÕES QUE A GENTE AMOU

Um código de ética para a realidade virtual, da Motherboard
A dor de ser um cyborgue, pela
Motherboard também
Uma economia baseada em atenção, pelo
Pacific Standard

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Beatrys Rodrigues
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Trying to inspire and understand the world. Tech and gender, social impacts of AI and gaming. PhD Candidate at Cornell, co-founder zero42.