Golpes virtuais mudam o tempo todo, de olho na vulnerabilidade dos usuários

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5 min readJul 5, 2023

Só em 2022, houve aumento de 120% nas tentativas de fraudes online. Golpistas usam da criatividade para simular situações do ambiente virtual, forçando vítimas a agir por impulso

Por Escarlete Brizola

“Cadastre-se e ganhe 50% de desconto em sua primeira compra”. É dessa forma que um golpe pode começar. João Carlos, um aposentado de 67 anos, que se tornou vítima de uma tentativa de golpe online, percebeu isso ao deparar-se com uma postagem promocional comum no Instagram. No ano passado, quando um novo supermercado foi inaugurado em sua cidade, uma suposta página da rede de supermercados começou a segui-lo no Instagram, oferecendo-lhe uma oportunidade de desconto. Sem suspeitar, ele seguiu as instruções da postagem e forneceu seus dados pessoais, como nome, data de nascimento, filiação, endereço, CPF e RG. Foi somente quando lhe solicitaram uma foto de seus documentos que ele percebeu tratar-se de uma fraude.

Os golpes financeiros na internet têm aumentado significativamente nos últimos anos. De acordo com o Relatório Global de Impacto de Fraude da IBM (International Business Machines), 31% dos brasileiros afirmaram ter sido vítimas de golpes relacionados a cartões de crédito online em 2022. Além disso, dados da empresa de tecnologia Psafe mostram um aumento de mais de 120% nas tentativas de golpes em dispositivos eletrônicos no mesmo ano.

Laura Piazza, analista de Marketing, 29 anos, passou por uma situação angustiante, assim como João. Ela estava no trabalho quando recebeu uma mensagem de uma amiga perguntando sobre itens que supostamente estaria vendendo no Instagram. Inicialmente confusa, Laura percebeu que algo estava errado ao tentar acessar sua conta na rede social e não conseguir. Ela relata ter agido rapidamente para alertar amigos e familiares de que não estava vendendo nada e que sua página havia sido hackeada.

Os golpes estão sempre mudando, buscando se adaptar ao ambiente virtual. Hoje já existe uma ampla gama de golpes que podem comprometer a segurança dos usuários na internet. Desde os clássicos golpes de phishing, nos quais os criminosos utilizam mensagens enganosas para obter informações confidenciais, até a exploração de técnicas de manipulação psicológica para obter vantagem. Dessa forma, é fundamental adotar medidas de segurança e manter-se informado para evitar cair nas armadilhas dos golpistas virtuais.

Os principais golpes

De acordo com o Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJSC), os golpes mais comuns na internet atualmente são:

  • Furto de identidade: Nesse golpe, os criminosos se passam por outras pessoas, visando obter benefícios ilegais. As consequências incluem perda financeira, danos à reputação e possíveis problemas no histórico de crédito das vítimas.
  • Antecipação de recursos: Os golpistas persuadem as vítimas a fornecer informações confidenciais ou realizar pagamentos antecipados, prometendo vantagens futuras. Entretanto, as vítimas acabam percebendo que foram enganadas, tendo seus dados e dinheiro nas mãos dos criminosos.
  • Golpe de compras online: Nesta modalidade, os golpistas se aproveitam da confiança dos usuários em transações pela internet. Eles oferecem produtos com preços muito abaixo do mercado, mas, após o pagamento, o comprador não recebe o item adquirido. Além disso, há o risco de comprometimento dos dados pessoais.

Como se proteger

Para o desenvolvedor de sistemas, Matheus de Assis, é necessário estar atento ao navegar na internet e dá algumas dicas para usuário de como se proteger.“ É necessário utilizar navegadores conhecidos e atualizados, usar métodos de verificação de fator duplo, evitar a utilização do número de celular para autenticação, devido ao maior risco de exposição.” Segundo ele, é melhor que os usuários utilizem aplicativos confiáveis que controlam chaves de autenticação para assim garantir maior segurança.

Matheus explica que, ao receber um e-mail, é essencial estar atento ao remetente e desconfiar de qualquer mensagem que pareça suspeita. “Muitos golpes empregam táticas como e-mails parecidos com os de empresas conhecidas ou textos convincentes para enganar os destinatários”. Além disso, enfatiza a importância de ter cautela ao clicar em links contidos nos e-mails. “URLs desconhecidas ou de verificação difícil devem ser evitadas. No caso de URLs de sites conhecidos, é aconselhável realizar uma pesquisa para confirmar sua autenticidade.”

A atenção deve ser redobrada ao interagir com anúncios online. “Ao acessar anúncios em sites, é recomendável posicionar o cursor do mouse sobre o anúncio para verificar se o link de redirecionamento corresponde ao conteúdo apresentado. Em pesquisas online, é comum encontrar anúncios do Google, mas é importante observar os primeiros resultados, pois podem conter anúncios não verificados.”

Quanto aos aplicativos informa que é fundamental optar por aqueles disponíveis em lojas oficiais e devidamente aprovados. E que os usuários devem sempre verificar os comentários e informações sobre o desenvolvedor do aplicativo, pois podem fornecer indícios sobre sua confiabilidade. “Procure buscar informações nas redes sociais das empresas para confirmar a autenticidade do aplicativo antes de instalá-lo”, recomenda ele. Outra dica importante é buscar pelo CNPJ do anunciante e digitar o número na internet, para localizar possíveis reclamações ou processos judiciais contra ele.

Fragilidade emocional explorada

Os golpistas são mestres em identificar e explorar a fragilidade emocional das pessoas como estratégia para aplicar golpes. Eles sabem que momentos de vulnerabilidade podem levar as vítimas a tomar decisões impulsivas e pouco racionais, e dessa forma buscam geralmente ganhar a confiança das pessoas para obter benefícios financeiros. É importante estar ciente desse tipo de abordagem e manter-se atento, buscando apoio de pessoas confiáveis, além de tomar decisões com calma.

A agente de saúde, Rosméri Orsato, de 57 anos, relata ter recebido mensagem pelo aplicativo de mensagens WhatsApp de um indivíduo que se passou por um de seus primos. Recentemente Rosméri havia retomado o contato com um de seus primos por meio das redes sociais. Diante dessa circunstância, quando o golpista se apresentou como esse familiar, ela não suspeitou e acabou fornecendo informações que foram posteriormente utilizadas contra ela.

O roteiro não é novo, mas a situação pareceu pertinente naquele momento. A agente de saúde acredita que a coincidência da situação contribuiu para que ela caísse no golpe. “Ele se passou por um primo meu, disse estar em Porto Alegre e que planejava me fazer uma visita, disse que iria almoçar”. Ela conta que estava se organizando para receber mais pessoas para almoço quando o golpista voltou a fazer contato falando que o carro estragou na estrada. “Disse estar a caminho da minha casa, que estava com a mãe [tia de Rose] idosa junto e pediu dinheiro para arrumar o carro”. A agente de saúde disse que não desconfiou de nada e prontamente realizou uma transferência para o golpista.

O que fazer se for vítima de um golpe

A advogada penal, Valeska Amador, afirma que com o aumento dos golpes na internet durante a pandemia alterações na lei foram necessárias. “Em 2021, uma lei [Lei nº 14.155/2021] foi implementada para incluir qualificadoras nos crimes de estelionato e furto, resultando em penas mais severas para os praticantes de fraudes eletrônicas”. Agora, aqueles que cometem estelionato podem enfrentar uma pena de quatro a oito anos de reclusão, além de multas. No entanto, no campo cível, os tribunais continuam trabalhando com diferentes entendimentos para o ressarcimento dos valores perdidos. “O Superior Tribunal de Justiça (STJ) considera que os bancos têm responsabilidade objetiva, independentemente de terem agido com dolo ou culpa. Eles são responsáveis por fornecer os dados das vítimas ou permitir que terceiros mal-intencionados abram contas para realizar esse tipo de procedimento.”

Valeska ressalta a importância de agir rapidamente caso alguém seja vítima de um golpe. “Quanto mais rápido a pessoa perceber que caiu em uma fraude e tomar providências, maior será a chance de ser ressarcido. É crucial notificar o banco, o Procon e registrar um Boletim de Ocorrência (B.O.), além de coletar todas as informações relevantes. Se o banco não resolver o problema, pode ser necessário abrir um processo judicial, onde essas informações serão fundamentais para o caso.”

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Jornal-laboratório do curso de Jornalismo da UFSC