SC e SP lideram ranking de mortes por crimes em escolas nos últimos sete anos

Pesquisa nacional indica que 26 pessoas perderam a vida no estado desde 2017. Ataque de hoje em creche de Blumenau registrou mais quatro mortes. Autoridades estudam ações emergenciais para conter violência escolar

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3 min readApr 6, 2023

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Reportagem por: Alan Cavalieri e Clarisse Claro

ATUALIZADO: 07 de abril de 2023, às 18:26.

Com as mortes de hoje na creche Cantinho Bom Pastor, na cidade de Blumenau, Santa Catarina torna-se o estado, junto a São Paulo, com mais óbitos por crimes em escolas do Brasil, segundo dados de pesquisa da Campanha Nacional pelo Direito à Educação. No país, 13 ataques em escolas com armas de fogo ou armas brancas foram registrados desde 2017, cinco deles em 2022. No total, 26 pessoas, maioria crianças, perderam a vida devido a crimes desse tipo. Cinco operações policiais foram realizadas envolvendo ameaças contra escolas de SC só nos últimos 14 meses. Hoje morreram quatro crianças, de 3 a 7 anos, e mais quatro ficaram feridas.

Infográfico: João Wesley

A psicóloga da Polícia Civil em Santa Catarina, Maíra Marche Gomes, de 43 anos, diz que é preciso medidas que tragam segurança para além dos aparatos efetivos, como detectores de metais e câmera de monitoramento, por exemplo.“É preciso que mudemos a cultura de violência destinada às crianças e aos adolescentes para efetivar uma real solução”. Ela defende que práticas educacionais, que modifiquem os costumes de violência do Brasil entre as próprias famílias, podem ser mais efetivas. Assim como o acesso gratuito a profissionais que promovam e analisem a saúde mental dos que precisam de atendimento.

Apesar de ser “imprevisível” a detecção desses casos, como no atentado de hoje, a delegada alerta que “todo cuidado é pouco”. Maíra questiona a falta de mais segurança nas escolas. “Por que creches costumam ter menos obstáculos para entrada e saída do que escolas convencionais? A segurança acaba ficando mais focada em impedir que os alunos saiam. Ninguém imaginou que um jovem iria pular o muro da creche e fazer o que fez”, reflete a psicóloga. Para ela, é importante mais preparo para além do monitoramento.

Em coletiva de imprensa na tarde desta quarta-feira, 5 de abril, o delegado-geral da Polícia Civil de SC, Ulisses Gabriel, afirmou que o estado está desenvolvendo um protocolo de prevenção e contingência para ocorrências com múltiplas vítimas. Segundo ele, esse protocolo inclui levantamento de todas as escolas de Santa Catarina, para a verificação das vulnerabilidades e das possibilidades de ataques, além da utilização de câmeras inteligentes para o reconhecimento de armas e possíveis situações de risco. Outra medida de segurança proposta é a ação preventiva por parte dos professores, com a capacitação dos funcionários das escolas para o enfrentamento de situações semelhantes. Na última semana, a Polícia Militar finalizou uma série de treinamentos sobre ocorrências com múltiplas vítimas em todo o estado, com a participação de mais de 400 professores.

A notícia da morte das quatro crianças e do ataque a outras quatro inundou os canais de notícias e redes sociais. O assassino de 25 anos se entregou na sede do 10º Batalhão de Polícia Militar (BPM), no mesmo bairro, e está preso desde então. A audiência de custódia está marcada para amanhã pela manhã. O governador do Estado, Jorginho Mello (PL), decretou luto pelos próximos três dias “pela perda irreparável dos familiares e da comunidade local”. Cidades de todo o estado suspenderam as aulas dos próximos dias, pois o medo de ataques semelhantes tornou-se realidade para a população de Santa Catarina.

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Jornal-laboratório do curso de Jornalismo da UFSC