Astronomia: hobby ou profissão?

Lilianne
Zona científica
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2 min readJun 25, 2020

A astronomia é certamente uma das ciências que mais encantam o público geral. “De onde viemos? Para onde vamos? Estamos sozinhos no Universo? O que existe além?” são questionamentos comuns. Não foi à toa que antes de decidir seguir na profissão de cientista eu tive a astronomia como meu maior hobby por alguns anos.

Via Láctea
Foto da Via Láctea tirada por mim.

Algum tempo atrás participei de uma Feira de Profissões da USP, ajudando a divulgar e a tirar dúvidas sobre o curso de Astronomia. Entre tantas conversas que tive com adolescentes indecisos quanto ao vestibular, percebi algo recorrente: a dificuldade em separar o que é apenas fascínio e o que é anseio.

Do dicionário:

Fascínio - qualidade ou poder de fascinar, de exercer forte atração. Sensação de deslumbramento, de encanto

Anseio - ato ou efeito de ansiar. Aflição. Angústia. Desejo ardente e veemente

A astronomia é fascinante por si só, não podemos negar. Ela descreve como é o Universo em que vivemos, sem que possamos ver ou tocar — quão incrível é isso? Ficamos limitados à nossa imaginação e isso nos intriga. E o que intriga, fascina.

Mas para ser cientista é preciso mais do que o fascínio. Também é necessário um sentimento angustiante, uma ânsia de querer saber mais, de querer entender as leis que nos regem, de querer se aprofundar nesse vácuo e descobrir o nunca descoberto.

Antes de ter certeza do meu anseio pelo assunto eu participei do Clube de Astronomia de São Paulo. Frequentei as aulas gratuitas do clube por 2 anos e meio. Lá todo o trabalho de ensino e divulgação é feito por voluntários estudiosos, amantes da área — os astrônomos amadores. Talvez eu também possa dizer que fui astrônoma amadora antes de ser astrônoma profissional.

Nessa época, nós viajávamos com frequência para cidades isoladas de São Paulo. Pegávamos estrada logo após as aulas, que iam até às 13h dos sábados, levando conosco telescópios e câmeras fotográficas. Passávamos a noite inteira observando o céu (e morrendo de frio!). Voltávamos no dia seguinte, em geral, sem dormir.

Foi com essas experiências que aprendi a reconhecer o céu e a localizar algumas estrelas e constelações. Sendo bem sincera, poucos astrônomos profissionais saberão te apontar mais que duas ou três constelações no céu. Contudo, eles saberão explicar com maestria como simulamos uma fusão de galáxias, como calculamos o tempo de vida do Sol, ou como podemos encontrar novos planetas em outros sistemas solares.

Após esses anos no clube, ainda me restava a ânsia por todo esse conhecimento e por um aprofundamento matemático. Assim, descobri que o hobby não era suficiente e resolvi seguir a profissão. Mais detalhes sobre a profissão de um astrônomo ficará para um próximo artigo…

O astrônomo profissional é um eterno e extremo curioso que, além da admiração e do fascínio, quer entender a fundo todos os comos e os porquês.

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Lilianne
Zona científica

Doutoranda em Astronomia, bacharela em Estatística e em Astronomia pela Universidade de São Paulo (USP). Aplica ML em grandes bancos de dados astronômicos.