Amanda Alves
Zona Morte
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3 min readNov 21, 2019

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Por Amanda Alves, Gabriela Bachinski e Celeste Pereira

É que eu fico mais forte. Enfrento minhas dores. Canto coisas simples, é, essas do coração. Falo de amor, falo do meu povo e da minha cultura popular. Eu caio. Me levanto e não me rendo, nem mesmo em pensamento. Eu sigo, vou em frente. É, isso é mais que resistência cultural, isso é coletivo social.

Sejam bem-vindos ao mundo das organizações autogeridas, descentralizadas, flexíveis e situacionais. O caminho para a democracia em um ambiente compartilhado, de soluções inovadoras e debates igualitários. Bem-vindos aos coletivos sociais.

A sociedade é moldada diariamente por conflitos, e, em cada um deles, existem movimentos que nascem em respeito aos interesses dos mesmos. Para começar, o movimento precisa revestir-se de formas de ação como: burocratizar o grupo, fazer acordos, comprar lideranças com favores ou benefícios, delações ou simplesmente dinheiro.

Dessa maneira, o coletivo apresenta seu prelúdio, pois é necessário tanto para combater esses interesses externos ao movimento quanto para lutar contra interesses internos, surgindo por afinidades em processos de lutas identitárias.

A formação de um coletivo se dá a partir de reuniões, em que afinidades serão expressas em uma carta de intenções. Nela, as individualidades que os formam justificarão a premência de um coletivo. Normalmente, o coletivo terá um nome próprio — para se diferenciar dos outros existentes — além de logotipo e elementos que somem a identidade do grupo.

Como o coletivo é radicalmente anti-hierárquico, ele deve ter reuniões em que as circunstâncias serão discutidas e deliberadas, e os encontros não podem ser esparsos, mas constantes, segundo a disponibilidade de seus membros. Além disso, devem sempre ser transcritas em ata, inclusive, em caso de votações, para que se possibilite o balanço da atuação do coletivo durante a reunião.

Com relação à movimentação financeira, caso o coletivo tenha alguma, é necessário ter um livro-caixa, ou algum controle sobre a grana que entra e a que sai. Lembrando que eles são formados por pessoas que organizam alguma atividade de forma colaborativa e informal (sem registro em cartório ou criação de uma nova entidade jurídica).

O coletivo não se endossa nos partidos, do mesmo modo, não acredita no estado, pois baseia-se na ideia de que o estado é um aparelho de dominação do povo em benefício da elite. Além disso, somam com a ideia que o capitalismo e o estado tiram das pessoas o direito de decidir sobre suas próprias vidas, e, assim, o coletivo é um defensor incansável de decisões coletivas, em que cada um toma responsabilidades e as cumpre, delibera sobre, e se autogoverna individual e coletivamente (autogestão).

E diante dessa realidade de pura luta e resistência, esbarramos no Coletivo Araukaida, situado na cidade de Cascavel-PR.

União, reflexão e ação é o lema dos moradores da região norte de Cascavel, que, atendendo a debates, resolveram entrar de cabeça para ter um maior protagonismo político e social de segmentos até agora segregados da tomada de decisões no direcionamento político.

Além das oficinas e atividades que ofertam à comunidade da Zona Norte, o coletivo já pintou muros, organizou batalhas de rap, cativou pessoas e sorrisos. O que começou num grupo de estudos da música do Facção Central fez do terceiro setor uma expansão para além do gueto.

Em Cascavel, a Zona Morte vive em outros lugares. Seja na Sul, Leste ou Oeste, o Araukaida está realizando suas ações, e levando o seu espaço físico — a Biblioteca Comunitária Mizael Padilha — até outras regiões do município, buscando o desenvolvimento cultural e econômico da comunidade, com atividades voltadas para jovens e adultos e também de cunho educativo e intelectual para crianças e adolescentes.

E é dessa forma que a ação acontece: buscando cada vez mais visibilidade e apoio em suas atividades. E, segundo o próprio Nathan Parteka, um dos membros do coletivo, é exatamente as pessoas que fazem tudo isso existir.

Às vezes, não assimilar as atividades realizadas pelo Coletivo contribui com a pouca procura. Por isso, trazemos também uma radiorreportagem contando a história do Araukaida e suas atuações.

E não para por aí! A história é grande e o movimento é lindo, e não terá fim tão cedo. A Zona Morte vive e segue lutando pela cultura e educação até mesmo onde a disruptividade tenta acontecer. Assim, apresentamos os projetos futuros para o Coletivo.

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