Uma viagem pelas fotos: a história da fotografia no Brasil em “Fotografação” — #ZumbidoNaCabine

Ana Salmont
Zumbido Audiovisual
4 min readFeb 29, 2020
Poster da cabine de “Fotografação”, filme de Lauro Escorel de 2019

Com a proposta de trazer momentos marcantes da história da fotografia brasileira, o documentário “Fotografação” traz pedaços importantes do começo a meados do século XX, pulando para as tecnologias do século XXI. O filme estreia dia 5 de março.

Apresentando uma montagem baseada nas entrevistas, filmagens e fotografias de arquivo, tem uma estrutura clássica de documentário. É um filme com um tom nostálgico com traços pessoais do diretor, Lauro Escorel, que tem uma carreira como diretor de fotografia e assina a direção de filmes como Primeiro de Maio (1972), Teatro de la calle (1974), Libertários (1976), Arraes de Volta (1979), Sonho sem Fim (1986) e Improvável Encontro (2016). O roteiro também é de Escorel em parceria com Evaldo Mocarzel e pesquisa de Anonio Venancio. A produção executiva é de Zita Carvalhosa, produzido por Cinematográfica Superfilmes em coprodução com a Spcine e associada a Cinefilmes. O documentário em português é de 2019, foi produzido no Brasil, sua duração é de 1h16min e tem a classificação livre.

Construído num formato tradicional — entrevistas intercaladas por imagens do assunto –, o documentário une entrevistas de pessoas que conhecem os fotógrafos citados com as obras. Traz uma linha do tempo um tanto intermitente, o que é compreensível por focar em fotógrafos específicos. Porém a escassa presença de fotógrafos brasileiros foi um tanto incômoda, por causa da ausência de identificação. Além da pouca representatividade nacional, o filme ainda peca por não demonstrar um esforço em trazer diversidade no quesito artistas, há apenas uma mulher dentre os outros fotógrafos homens.

Maureen Lauro e Lucio Kodato fotografados por Antonio Escorel numa sala de paredes laranjas numa sala de estudos

Outro incômodo foi o esquema de luz de uma das entrevistas que deixou um ponto escuro demais, mas foi algo que chega a ser imperceptível. A entrevistada em questão é capturada numa biblioteca de paredes de cores quentes e para talvez criar um aspecto intimista, foi colocada uma meia-luz que acabou se tornando ineficiente. Para além disso, a direção de fotografia assinada por Carlos Ebert, Guy Gonçalves, Jacques Cheuiche e Lúcio Kodato é agradável e reafirma a ideia de um documentário tradicional.

A história do diretor também está no filme, algo pra ter intimidade com o espectador. Ele assume que alguns fotógrafos ali foram parte importante para compor suas referências pessoais em filmes ou como ele se ligava a determinados personagens. Pudemos conhecer mais do autor e de sua personalidade, tendo um breve olhar sobre sua trajetória e processo criativo, tornando-o mais palpável.

Dando um tom de nostalgia com resquícios de uma saudade difícil de se definir, a trilha sonora feita por Zé Nogueira é o acompanhamento perfeito para a abertura do baú de histórias do Brasil. Vejo que em alguns momentos, a trilha podia combinar mais com o assunto tratado nas fotos mas compreendo a necessidade de manter uma unidade na narrativa ao longo do filme. É apreciável como o ambiente sonoro foi bem editado e composto, assinada pela direção de som de Miriam Biderman e o desenho de som de Ricardo Reis.

O trecho final, no entanto, soou como um salto com pouco preparo narrativo. Tive a impressão de que a questão da tecnologia foi posta como uma obrigação de último minuto. Apesar de uma transição temporal na narrativa aparentemente forçada, foi uma excelente adição ao filme, dando uma dimensão maior sobre passado e presente.

Por fim, apesar de tradicional, elogio a composição e ordenação das fotos, com a montagem feita por Idê Lacreta, que deram uma estrutura narrativa de peso para um filme que, além de educativo, é um ótimo aperitivo para o lanche de uma tarde chuvosa.

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