A Brilhante Falta de Originalidade de Stranger Things

Matheus Ferreirinha
Água de Salsicha
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4 min readAug 9, 2016

Não existe uma pessoa na internet que desconheça o universo de Stranger Things. A mais nova série da Netflix gerou uma legião inacreditável de fãs em pouco menos de um mês, se igualando a outros programas que rondam a televisão por anos. Essa boa resposta do público fez com que os produtores já confirmassem uma segunda temporada. Porém, será que esse sucesso todo é justificado?

Ambientada em uma cidade do interior dos Estados Unidos no ano de 1983, a série conta a história do desaparecimento de Will Byers, quando voltava para casa após uma longa partida de Dungeons & Dragons. Apesar da ajuda da polícia a maior parte dessa aventura gira entorno de seus amigos nerds, Mike, Dustin e Lucas, e de sua mãe, Joyce. Inicia-se então uma incansável procura pelo garoto desaparecido, trazendo mais perguntas do que respostas como o surgimento de Onze, uma garota estranha com poderes inimagináveis. Com esse clima de suspense e aventura, somos levados a cada momento ansiosos para o próximo episódio.

Grande parte do sucesso da série é dado pelo carisma e brilhantismo do elenco. Mesmo contando com um trabalho digno da memorável carreira de Winona Ryder, quem realmente rouba a cena são os atores mirins. Com rostos praticamente desconhecidos, os jovens atores são capazes de convencer o mais crítico dos expectadores. Grande parte disso é a capacidade por parte dos mesmos de mesclar uma excelente atuação em uma série de terror/suspense com um tom jocoso e leve próprios de uma criança.

Muito mais que apenas atraente, a ambientação nos anos 80 tem um papel importante para o sentido da história. Baseando parte de sua narrativa no cenário cauteloso pós Guerra Fria, Stranger Things traz uma atmosfera de suspense e terror única. Além disso, temos a nítida impressão que a série é uma espécie de homenagem aos grandes ícones do cinema da década. Desde os anúncios da Netflix até os cartazes escondidos, a série faz referência a uma vasta quantidade de filmes, como “Star Wars”, “ET”, “Os Goonies”, “Alien”, “A Hora do Pesadelo”, “Contatos Imediatos de Terceiro Grau”, “Firestarter”, entre outras. Isso é tão visível que o trabalho dos irmãos Duffer parece algo escrito por Stephen King e dirigido por Steven Spielberg, uma mistura que não tem como dar errado.

Entretanto, parte desse entusiasmo nostálgico é também um grande risco para o futuro da série. Com um ambiente inteiramente imerso na cultura dos anos 80, a segunda temporada pode se tornar apenas mais do mesmo. Sendo assim, os diretores e produtores devem ser cautelosos com o rumo que pretendem tomar, dando mais foco para lados menos explorados da história, como o núcleo adolescente e o passado do delegado Hopper.

Outra preocupação é o real motivo por trás de tanto sucesso. Não há dúvida que a série é plasticamente atraente, trazendo uma narrativa de terror e suspense envolvente. Entretanto, o maior acerto da Netflix foi decidir a data do lançamento de Stranger Things. Começando próxima ao season finale de Game of Thrones, a série foi alavancada graças à “transferência emocional” por parte dos fãs da saga da HBO. Isso foi intensificado pelo famoso eco social, fenômeno que surge a partir da exposição repetitiva de algo pelas mídias sociais simplesmente por ser visto em publicações de amigos ou páginas importantes. Assim, é necessário que os responsáveis pelo futuro da série não relaxem com o aparente sucesso inicial e consertem todos os pequenos erros, como um professor de ciências com um conhecimento fora do comum e o velho maniqueísmo das conspirações governamentais.

De qualquer modo, a série continua sendo uma parada obrigatória para todo amante de cinema, independente da sua preferência de gênero ou descaso pelos anos 80. Contando inclusive dos próprios homenageados Stephen King e Spielberg, os irmãos Duffer são uma dupla promissora para o futuro do mundo da séries. Quem sabe não teremos outras novidades dos dois vindo por aí?

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Matheus Ferreirinha
Água de Salsicha

Amante de livros, quadrinhos, séries e filmes. Jogador em tempo integral. Escritor amador. Médico nas horas vagas.