Os Amigos do AMIGA: O caminho para o sucesso em PHP
Novos horizontes tecnológicos, jovens empreendedores e motivados, à descoberta de novos desafios, podemos afirmar que era o contexto dos navegadores portugueses no novo mundo.
Ao misturar isto com a adrenalina de quem desconhece as consequências dos seus atos, por serem os primeiros a fazê-lo, permite desenhar o panorama daqueles que no início dos anos 90 se aventuraram pela World Wide Web.
Entre eles, o Manuel Lemos, licenciado em Engenharia Eletrónica e Telecomunicações pela Universidade de Aveiro no ano de 94, possui um extenso curriculum a trabalhar com linguagens de programação, participando e orientando vários projetos onde reside no Brasil, e daí também para o mundo inteiro.
Sobre o seu trabalho deve-se salientar a importância do seu contributo na área do PHP, linguagem que possibilita o desenvolvimento de projetos web, destacando o repositório do site PHPClasses.org de classes para PHP por ele desenvolvido. Este está disponível ao público sem nenhum custo e alberga uma rica base de dados com tutoriais, scripts recomendados, informação dinâmica e completa.
Na sua maioria, os artigos dispõem de variados suportes audiovisuais que simplificam o assimilar dos conteúdos apresentados por ele e outros que contribuem para o repositório.
Tive a oportunidade de o entrevistar e durante a nossa conversa fizemos uma visita aos momentos chaves da sua trajetória no mundo da programação. Igualmente ao longo da narrativa deixou conselhos úteis para quem pela primeira vez se aventura nas tecnologias da comunicação.
Ao falar do seu percurso em Portugal, no início dos anos 90, ele salienta várias diferenças para agora. Começa por identificar o fenómeno da globalização, onde atualmente a comunicação é mais rápida do que uns anos atrás, isto possibilita alcançar um maior público e em menos tempo do que era 30 anos atrás.
Nas suas palavras, “O principal é que a comunicação se tornou mais rápida a distância. OK, isso tem uma vantagem em termos comerciais, que é ter um alcance, um público maior em menos tempo, mais pessoas e menos tempo. Você pode ter um alcance global.”
Outra diferença apontada por ele tem a ver com a atitude das novas gerações perante ao trabalho. Atualmente existe uma mentalidade de não ser necessário adquirir conhecimento, competências, de que o mundo tem a obrigação de nos dar emprego, qualidade de vida e satisfações, sem que exista esforço da nossa parte, em que as pessoas nem se dão ao trabalho de entender como deve ser feita uma pesquisa no Google.
Recordou como foi importante para os inícios da internet em Portugal, projetos como o “SAPO” criado por uma equipa fantástica, com pessoas reputadas como Benjamin Junior, Sergio Bernardo, Celso Martinho, João Luís, Hélder Bernardo e Fernando Cozinheiro.
A partir da sua criação foi possível permitir às pessoas em Portugal encontrar páginas portuguesas com maior facilidade. Os fundadores do “SAPO” foram à procura da informação, do conhecimento para desenvolver este produto que não existia em Portugal e com ajuda de ferramentas como o AmigaOS, foram criadas soluções que as pessoas ainda não percebiam como seriam necessárias e importantes para a evolução da internet em Portugal, “Depois, até ter chegado o Yahoo e depois o SAPO que foi assim um pouco inspirado no Yahoo. Isso já facilitou a muitas pessoas a entenderem onde é que está aquilo que procuram e que elas querem na internet para elas…”.
Finalmente sobre isto, afirmou que cabe a nós ir à procura da informação, do conhecimento, devemos absorver competências que nos permitam criar valor, que nos permitam uma estabilidade económica. “Uma pessoa tem de ter foco numa coisa que tenha procura ou demanda, e tem de ser naquilo que você é melhor, que está ao seu alcance. Se chegar num trabalho e tem de fazer uma coisa que você não sabe, o mundo está à espera, o mundo está impaciente, se demorarmos a responder o mundo vai passar para outra alternativa”.
Sobre este caminho rumo ao conhecimento, com altos e baixos, ele defende como muito importante termos um plano, definir um percurso que nos leve do ponto A até o ponto B.
Para isto ele vivamente recomenda e afirma que foi determinante ter adotado a metodologia de trabalho de Design Thinking, amplamente desenvolvida no trabalho feito pelo Donald Norman sobre Human Centered Design, e que esta o ajudou a ter muito sucesso nos seus projetos.
Para completar essa fórmula para sermos bem sucedidos, principalmente quem se aventura pela primeira vez no mercado de trabalho, defende que se deve apresentar um trabalho honesto, organizado, com paciência, não se deve desistir ao primeiro obstáculo.
Também recomenda sermos criativos e inovadores, aqui recorda especialmente um episódio ocorrido durante a licenciatura de Engenharia em Eletrónica e Telecomunicações, onde pensar e agir mais além do esperado, teve repercussões muito positivas.
Quando apresentou o seu projeto para a disciplina de Circuitos e Sinais, aproveitou os seus avançados conhecimentos com computadores que usavam o sistema operativo (SO) AmigaOS, para criar uma apresentação dinâmica e atrativa, usufruindo das vantagens e desvantagens que este SO possuía e poucos conseguiam manipular, surpreendendo o docente da disciplina e atualmente renomeado professor catedrático A. Manuel Oliveira Duarte.
No final da aula o docente convidou o aluno Manuel Lemos para realizar trabalho de investigação no departamento. Posteriormente, o seu trabalho como investigador resultou num convite para trabalhar na Universidade Politécnica de Madrid e o resto, como comenta, é história.
Assim como existem momentos vividos na academia com final feliz, como o anteriormente relatado, também há outros que na altura não foram nada positivos. Um em particular teve grandes repercussões profissionais e pessoais, que ele recorda vivamente e serve-lhe hoje como lição de vida.
O relato do acontecimento é feito com animosidade ao reconhecer hoje o caricato da situação, mas que na altura foi uma terrível e assustadora experiência que ele e outros colegas de licenciatura vivenciaram como fruto do comportamento incorreto que tiveram.
Este grupo de jovens programadores utilizando os seus computadores pessoais, alguns com o SO AmigaOS, descobriram uma forma de se sobrepor ao sistema de cobrança de chamadas implementado na altura pela Portugal Telecom.
Fizeram isto achando que ninguém seria prejudicado, nem mesmo a empresa distribuidora do serviço. Estes jovens estiveram meses a realizar chamadas para o mundo inteiro sem receber fatura, acreditando que esta era inexistente.
Na realidade, isto criou um grande prejuízo para a Portugal Telecom, atualmente incorporada pela empresa Altice, que não teve outra opção se não levantar um processo judicial contra os jovens programadores.
Ao longo de meses foram seguidos e investigados pela polícia, como mencionado na reportagem feita pela SIC com o título “Os Bons Piratas”. Foi em 1992 que mais de 20 jovens acabaram por passar uma manhã nas instalações da Polícia Judiciária.
Foi aí onde aconteceu o momento mais surreal e caricato de toda a situação, aquele em que após horas de interrogatório, estavam todos os jovens a comer umas sandes acompanhados por polícias extremamente simpáticos, que, ao mesmo tempo, não estavam preparados para a estranheza desta situação nunca vista em Portugal, adolescentes acusados de pirataria informática.
Deste episódio retira lições importantes para a sua vida pessoal e profissional, “Tudo o que é errado só dá certo durante algum tempo. E esse tempo em que se faz errado se chama de ilusão. A pessoa está iludida até um dia em que a realidade surge e terá uma penalidade”. No caso a penalidade foi terem ficado sem os seus computadores, que foram apreendidos pela polícia judiciária, e por isso admitiu ter vergonha desse momento de ilusão.
Igualmente, isto reforça o que anteriormente já tinha afirmado, onde o conhecimento recebe destaque como sendo fundamental para ser bem-sucedido. Visto eles terem sido ignorantes perante as consequências dos seus atos, o fracasso era uma questão de tempo.
Finalmente, sobre este tópico, indica que o importante não são as histórias, estas são meros passos no nosso percurso, o importante é retirar a moral deles, só assim conseguimos crescer.
Como mensagem final para os próximos desenvolvedores de conteúdos web, este insiste na procura do conhecimento, onde este não é possível de forma isolada, isto é, devemos ter em atenção os estímulos existentes à nossa volta. Não somos nós que definimos a qualidade do nosso trabalho, são os clientes satisfeitos.
Se não conseguirmos produzir soluções que vão ao encontro das necessidades dos nossos clientes, não teremos uma proposta de valor que mereça o investimento de terceiros.
Para terminar, algo que ao longo da entrevista surgiu em vários momentos, tanto a comparar o passado com o futuro, como a identificar situações marcantes e finalmente como princípio a ter em conta para quem inicia o seu percurso profissional, é o de abraçar as críticas, sejam estas construtivas ou não.
Ao desenvolver um projeto, uma solução, um produto, não devemos fugir das críticas ou fechar ouvidos a estas. Existe sempre informação pertinente que podemos retirar para crescer pessoal e profissionalmente.
Nas palavras do próprio, “Quem tem maturidade, aceita as críticas como uma coisa boa, porque ninguém critica quem é irrelevante”.
Espero que tenha sido uma leitura interessante, sobre alguém com uma vasta experiência de vida, que deixa com o seu testemunho conselhos importantes para quem se inicia no mundo dos conteúdos digitais.
Devemos retirar máximas de vida sobre a atitude profissional que devemos ter perante os desafios e comportamentos menos adequados a evitar que podem certamente ser um obstáculo no nosso caminho ao sucesso.
Se tiveres mais curiosidade, em baixo deixo alguns links interessantes que podes pesquisar para aprofundar sobre a vida e obra de Manuel Lemos.
JS Classes — Free ready to use OOP Components written in JS: www.jsclasses.org
PHP Classes — Free ready to use OOP Components written in PHP: www.phpclasses.org
