sonetos

(5 sonetos esparsos)

André Frazão
2 min readJul 27, 2024
René Magritte, A arte da conversa (1963).

QUERO VIVER O INSTANTE

Não quero temer a idade
Sentir que se foi o momento
Estagnar em lamentos
Com saudosismo da mocidade

Quero viver o instante
Não apenas de modo certeiro
Quero ser errante
Calcular depois, tentar primeiro

E se do erro surgir aprendizagem
Validará minha tentativa
Caso não, que não se finde a vida

Ninguém precisa a totalidade entender
Basta compreender a mesclagem
Errando ou acertando, o necessário é viver.

SONETO DE AMARGURA

O pensamento é constante no fato
De tudo ter fim, sem retirar o amor do julgamento
Pois sim, ele se esvai, jogando-nos em sofrimento
Tantas vezes, dissipando-se de inexato.

Há, no entanto, o dever ingrato
De ter de aceitar esse desalento
Sem mitigar o efeito do esmorecimento
Tendo apenas consciência do triste ato.

Aceita-se, enfim, mesmo que após o pranto
O fim dessa triste imensidão
Que é o sabor amargo do não-mais-amar

Abraça-se ao que resta (a solidão)
Apertando-lhe até ficar sem ar
Quando por fim, surge a ideia: “Cessa choro, não é pra tanto!”

NÃO PERSISTE

Estás fincando tuas raízes a mil léguas de mim
Cada passo que estás dando
Não vês, mas estão me afastando
Por que tudo tem que ser assim?

Cada escolha tua vejo com precipitada
Corro o risco, penso em me colocar numa emboscada
Mas vejo teus comportamentos e eles me parecem tão claros:
Não me amas, só estás em desamparo.

A ideia desse amor é fruto de uma possibilidade
Caso fosse real, mudaria sua realidade
Por isso tanto pensas que sim

Que ele existe.
Mas peço: Não persiste
Nessa história que já teve fim.

FELICIDADE

Se hoje em tudo busco felicidade
Em qualquer lugar, em qualquer esquina
É porque ao teu lado, menina
Entendi que existem uma verdade:

Felicidade só existe quando compartilhada!
A maior graça, se for guardada
Não terá efeito, sequer irei sentir.
Por isso busco sempre agir

De acordo com o que manda meu coração
Emanando por ti grandiosa paixão
Planejo constantemente ao teu lado tudo dividir

Sabendo ser maior a felicidade a dois
Nada deixo para depois
Minha felicidade eu quero distribuir.

AMOR PRESTES A CORROER

Ensurdecido está o nosso amor
Que outrora berrava sem o menor pudor
Mas já não pode ser assim exposto.
Escondido fica ao notar mais rostos

Contido, fez-se de inexistente
Finge ser ameno quando vê mais gente
Pois só sabe florescer estando a dois
Se há mais alguém, fica pra depois

Encolhe-se prontamente, recusando aparecer
Esse amor que antes era exibido ao mundo
Cedeu a triste covardia limitada

Era tudo, fez-se de nada
Era puro, fez-se de imundo
Amor, amor, estás prestes a corroer.

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