Diferenças e exemplos de posição, posicionamento e função

Caio Gondo
7 min readJun 28, 2016

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Atualmente, seja em matérias escritas, nas conversas ou até mesmo nas análises táticas, lemos e ouvimos diversos termos em relação somente a um jogador, como: meia, meia central e meia armador. No entanto, sobre o que cada termo se refere? Aliás, tem diferença entre eles?

No Barcelona e na Seleção da Argentina, Messi é meia, extremo direito, extremo armador ou os três ao mesmo tempo?

No futebol atual, há três termos que geram muita confusão nas pessoas que estão lendo e/ou começando a entender um pouco mais sobre tática, são eles: posição, posicionamento e função. Sobre eles, eu já escrevi um texto para cada um (para saber sobre posição x posicionamento veja aqui e sobre posicionamento x função veja aqui), mas mesmo assim parece que não ficou tão claro assim as diferenças entre eles. Para deixar bem claro desta vez, vou “traduzir” cada um deles com exemplos.

Posição

É o que o jogador fala que é. Por exemplo: Robinho, que atualmente joga no Atlético-MG, fala que é atacante. Logo, a sua posição é atacante. Deste modo, os únicos exemplos de posição são: lateral, zagueiro, volante (no Brasil), meia (no Brasil) e atacante. E só! Os demais termos que você está pensando serão classificados em outras classificações.

E qual seria a posição de Jadson? Se ele fala que é meia, a posição dele é meia.

Posicionamento

Esse termo se refere onde o jogador se posiciona em relação ao esquema tático da equipe. Para ver mais facilmente qual é o posicionamento de um jogador, basta vê-lo logo após uma saída de jogo do círculo central ou nos tiros de meta longos. Tomemos como exemplo o alemão Phillipp Lahm. Esse jogador já jogou como lateral direito, lateral esquerdo, volante e interior (Interior? Para saber o que é isso, veja aqui!) no Bayern de Munique. Sendo assim, Lahm já ocupou o posicionamento de lateral direito, de lateral esquerdo, de volante e de interior.

Na imagem acima, temos Phillipp Lahm jogando no posicionamento de meia.

E agora cabe uma reflexão: Lahm deixou de ser lateral após ter jogado em um posicionamento de volante? A resposta é não! Posição se refere ao que o jogador fala que é, se Lahm fala que ele é lateral, ele vai ser lateral até quando ele deixar de falar que é lateral. Se ele jogou no posicionamento de um volante, ele não deixou de ser lateral, pois simplesmente atuou na região de um volante.

Para clarear bem o que é posicionamento, veja os seus exemplos: lateral-direito, lateral-esquerdo, ala direito, ala esquerdo, zagueiro, volante, volante da direita, volante da esquerda, interior da direita, interior da esquerda, meia central, meia direita, meia esquerda, atacante da direita, atacante da esquerda, atacante e centroavante. Ou seja, posicionamento se refere somente ao espaço que o jogador ocupa dentro do esquema tático da sua equipe!

Em um 4–3–1–2, temos os posicionamentos: lateral-direito, zagueiro, lateral-esquerdo, volante, interior, meia central e atacante. Isso tudo porque os jogadores estão ocupando esses espaços dentro do esquema tático da equipe.

Função

Aqui é o mais gera confusão nos dias de hoje. Função apresenta um universo de termos que se referem aos movimentos mais repetitivos que um jogador realiza em uma partida. Muitas vezes, já se entende qual é a função do jogador somente com as flechinhas colocadas em um campinho tático como o campinho adiante:

Pelas flechinhas no campinho tático acima temo que os laterais exercem a função de laterais ofensivos, Otávio realiza a função de um volante construtor, Hernani de um volante que se projeta, Nikão a de um extremo-armador, Vinícius a de um meia armador, Ewandro de um extremo driblador e Walter a função de uma referência móvel.

Um dos motivos os quais a função tem gerado controvérsias é de que o jogador se movimenta constantemente em uma partida e podendo, assim, realizar diferentes funções em diferentes fases de jogo. Logo, como definir que tal jogador exerce somente tal função? Por isso que a função é definida como um universo de termos que se referem aos movimentos mais repetitivos que um jogador realiza em uma partida. A função de um jogador se refere à repetição!

Eis uma imagem de Wallace realizando a função de volante construtor.

Como função se refere a cada jogador e o seu posicionamento em campo, cada posicionamento pode apresentar diversas possibilidades de função. Para quem já jogou Football Manager sabe muito bem diferenciar isto: a função é a caixa que abre para que o jogador realize em determinado posicionamento no esquema tático.

O jogador selecionado está no posicionamento de volante e apresenta as seguintes funções para poder realizar (lembrando que o Football Manager é um jogo com o português de Portugal): volante, armador recuado, meio-campista de recuperação, primeiro volante, terceiro zagueiro, regista e armador móvel. Tudo isso são função que um volante em Portugal pode realizar.

Como cada posicionamento apresenta diversas funções possíveis, vou separar a maioria das funções que podem ser utilizadas em cada posicionamento com possíveis exemplos em parênteses para ficar fácil a visualização do que seria cada função.

Lateral: lateral ofensivo (Daniel Alves no Barcelona), lateral defensivo (Howedes na Seleção da Alemanha), lateral equilibrado (Filipe Luis no Atlético de Madrid) e lateral armador (Philliipp Lahm no Bayern de Guardiola);

Zagueiro: zagueiro “xerifão” (Thiago Heleno no Atlético-PR) e zagueiro passador (Rafael Marques na Seleção do México);

Ala: Ala ofensivo (Cicinho no São Paulo de 2005), ala equilibrado (Júnior no São Paulo de 2005) e ala defensivo.

Volante: volante construtor (Busquets no Barcelona), volante “brucutu” (Amaral ex-Palmeiras e ex-Corinthians), box-to-box (Souza e Denilson no São Paulo de 2014), volante de infiltração (Paulinho na Seleção Brasileira de 2014 e no Corinthians em 2012) e volante terceiro zagueiro (Ralf no Corinthians de 2015).

Interior: interior defensivo (João Paulo no Atlético-PR 2013), interior equilibrado (Xavi) e interior ofensivo (Elano no Santos de 2002).

Meia: vou deixar para depois, pois as funções que os meias estão realizando estão gerando muita confusão atualmente.

Atacante: atacante móvel (Alexandre Pato quando joga centralizado), falso 9 (Messi quando joga na referência do ataque), atacante fixo (Fred atualmente) e atacante muito móvel (Walter e Vagner Love) –para saber mais sobre essas funções de jogador da referência é só ver neste texto sobre elas!

Agora sobre a posição de meia, desde 2010 para cá, sofremos para caracterizar qual é o posicionamento e função da posição de meia. Para tal, uma rápida passagem pela história dos esquemas táticos é necessária. É bem rápida.

Desde os primórdios dos esquemas táticos até cerca de 1950, todos os times do mundo apresentavam esquemas táticos com a mesma linha de raciocínio. Até então, havia o 1–1–8, 2–3–5 (pirâmide), o 3–2–2–3 (WM) e o 4–2–4. Depois de 1950 mais ou menos, no Brasil, surgiu a linha de raciocínio do 4–3–3, como o do Barcelona: os atacantes abertos só voltam quando os laterais adversários avançam. Seguindo esse raciocínio, apareceu o 4–2–2–2 e o 4–3–1–2. Enquanto isso, na Europa, seguiu-se a linha de raciocínio do 4–4–2 em linha, como os dos times ingleses de antigamente. Nesta linha, apareceram o 4–2–3–1 e o 4–1–4–1.

Desde 1950, houve diferentes linhas de pensamentos e surgiram, então, diferentes funcionalidades de esquemas táticos.

A partir de 2010, passamos a usar do 4–2–3–1 e, desde 2015, o 4–1–4–1 apareceu com mais força. Diante deste cenário, você já não percebeu que não Brasil houve uma lacuna e, então, retomamos a linha de raciocínio europeia? Pois então, no Brasil haverá lacunas onde fica difícil de determinar com exatidão consensual, pois em nossa história não “existe” o 4–4–2 em linha. Mas mesmo assim, vou tentar definir as funções que o posicionamento de um meia pode exercer no Brasil.

Seguindo a linha de raciocínio do 4–4–2 em linha, só existe meia quando ele está centralizado e atrás do atacante de referência da equipe, já que os jogadores abertos do meio de campo exercem a função de winger. Um winger é um jogador só de lado do campo e que realiza a flutuação defensiva junto com os meio-campistas. Ele pode eventualmente aparecer na faixa central, mas constantemente joga na direita, na esquerda ou nas duas (lembra que função só se refere ao que o jogador mais realiza?). Um exemplo clássico de winger era David Beckham: ele, na maioria do tempo, jogava só aberto pela direita.

Um exemplo de um jogador que exercia a função de winger era David Beckham na Seleção da Inglaterra e no Manchester United.

Em um 4–2–3–1, o winger praticamente sumiu, já que ao jogar com um meia central, a tendência desses jogadores de lado é de se aproximar ao jogador central. Assim sendo, esse jogador de lado não ocupa mais só o lado, em fase ofensiva. Deste modo, no 4–2–3–1, os posicionamentos de meias podem ser chamados de meia aberto ou de extremo (já que não pode ser winger e nem ponta –já que ponta é da linha de raciocínio do 4–3–3).

Ao ser chamado de meia aberto ou extremo, o jogador que ocupa esses posicionamentos podem realizar diversas funções: de aceleração (Jesus Navas), de armador(David Silva), de entrada na diagonal (Roger Guedes no atual Palmeiras) e de um volante aberto(João Vitor no Palmeiras de 2012).

Um exemplo de um jogador que jogava na extrema esquerda e que realizava a função de volante aberto era Perrotta na Seleção da Itália de 2006.

E como o 4–1–4–1 segue a mesma linha do 4–4–2 e a segunda linha de 4 passou a ser reestabelecida, os jogadores abertos podem ser chamados de winger, meia aberto ou extremo. Deste modo, o jogador aberto de um 4–1–4–1 pode realizar as funções de winger (Thomas Muller na Alemanha de 2014), de aceleração (Malcom no Corinthians de 2015), de armador(Jadson no Corinthians de 2015), de entrada na diagonal (Douglas Costa na Seleção Brasileira de Dunga) e de um volante aberto(Tchê Tchê no atual Palmeiras).

Um exemplo de um extremo direito que jogava com a função de extremo-armador era Jadson no Corinthians de 2015.

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Caio Gondo

Analista de desempenho do Goiás E.C., criador da página “Traduzindo o Tatiquês” e estou no Twitter como @CaioGondo