Goleiro com a bola no pé

Caio Gondo
5 min readFeb 8, 2017

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Pep Guardiola e Rogério Ceni, quando assumiram a função de técnico respectivamente do Manchester City e do São Paulo, pediram e foram solicitados a contratação de um goleiro que saiba jogar com a bola no pé. No entanto qual seria todas as intenções desses técnicos ao ter um goleiro que atua dessa maneira? Seria somente para ter um jogador a mais para passar a bola?

Polêmicas à parte, as contratações de Claudio Bravo pelo Manchester City e Sidão pelo São Paulo tiveram a mesma ideia.

Desmistificando a função de líbero

Ter um goleiro que sabe jogar com a bola no pé não é ter um goleiro “líbero”! Uma vez que um líbero era aquele jogador que, quando o time estava com a posse da bola, conduzia a bola e constantemente iniciava as jogadas da sua equipe, não temos nenhum goleiro que saiba jogar com a bola pé fazendo isso com frequência.

Mauro Galvão foi líbero na Seleção Brasileira de 1990: veja ele conduzindo a bola, passando a linha dos outros zagueiros e iniciando a jogada.

Por outro lado, quando a sua equipe está sem a bola, o jogador líbero se posiciona atrás dos seus defensores para que rapidamente possa dar o combate no adversário para desarmá-lo ou atrasar o ataque adversário. Isso os goleiros têm feito –principalmente quando o time joga com a linha defensiva alta-, mas não necessariamente somente aqueles goleiros que sabem jogar com a bola no pé. Ou seja, não há nada de “líbero” em goleiros que saiba jogar com a bola no pé!

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Mas para que serve, então, ter um goleiro que saiba jogar com a bola no pé?

A própria descrição utilizada desde o começo do texto já mostra o que de diferente que esse goleiro faz: ele sabe jogar com a bola no pé. Saber jogar com a bola no pé não é só saber passar, conduzir ou driblar o adversário, mas, sim, saber realizar esses fundamentos respondendo as perguntas: quando, como e aonde. Isso que é o grande diferencial quanto a Claudio Bravo e Sidão que Guardiola e Rogério Ceni tanto pediram.

Manoel Neuer é outro goleiro que sabe jogar com a bola no pé.

Responder as perguntas onde, como e aonde nem sempre é tão simples assim. Para que qualquer jogador consiga realizar algum fundamento (condução, passe, drible e etc) conciliando o “onde, como e quando” é preciso que ele esteja enxergando o jogo e entendendo o que ele está pedindo para aquele momento. Para tal, a habilidade de jogar de cabeça erguida e de compreender o que está acontecendo na jogada são essenciais.

Weverton, goleiro do Atlético-PR, é um exemplo muito bom nesse quesito. O goleiro do Furacão tem se mostrado cada vez mais capaz de compreender o que a jogada está pedindo e, então, realizar um passe ou lançamento para algum companheiro seu melhor posicionado e no tempo mais adequado possível. Veja como ele respondeu todas as perguntas: onde –região com menos adversários; como –passe ou lançamento; e quando –no tempo mais adequado possível. Weverton faz isso tanto com a bola rolando e quanto nos seus tiros de meta.

Weverton recebeu a bola, girou o corpo e abriu para Rodrigo Caio: com isso, ele retirou a bola do lado do campo onde a Colômbia havia posicionado cinco jogadores e estava com grandes chances de recuperar a bola ou atrapalhar o avanço brasileiro por lá e, ainda, permitiu com que Rodrigo Caio tivesse espaço para avançar campo.
Nos seus tiros de meta, Weverton aguarda os seus companheiros e adversários se posicionarem para, então, realizar a sua batida. Na imagem acima, ele aguardou o Palmeiras se posicionar e, depois, realizou o lançamento para Sidcley que está sozinho.
Weverton, em 2017, também apresentou a seguinte capacidade: diante de um time adversário que posiciona dois jogadores mais à frente, Weverton avança para fazer a saída de 3 com os seus zagueiros.

A grande vantagem

Você já percebeu onde atualmente os volantes estão se posicionando quando o seu time está em campo ofensivo e com a posse da bola? Hoje em dia, os volantes têm procurado ficar longe da marcação adversária, atrás da linha da bola e sendo opção mais atrás para o portador da bola. Isso atualmente se chama posição de retorno.

Na imagem, o volante do Liverpool, Henderson, procura se afastar da marcação de Llorente para ficar na posição de retorno.

Ao receber a bola na posição de retorno, os volantes estão com tempo e espaço para enxergar o jogo e compreender o que a jogada está pedindo. Nessa situação, o volante consegue entender se é o momento para realizar um passe lateral, um passe em profundidade, um lançamento ou até um inversão de jogo. Isso tudo porque está com tempo e espaço para enxergar o jogo e compreender a jogada mais adequada possível.

Otávio, volante do Atlético-PR, é um dos volantes no Brasil que melhor fica na posição de retorno. Veja como ele consegue fazer o seu time jogar só de estar nessa posição.
Otávio dominou, girou o corpo e já procurou um companheiro seu em um espaço do campo menos congestionado.
E Léo recebeu a bola nas mesmas condições que Otávio havia recebido: com tempo e espaço para ver o jogo e compreender a jogada.

Você já entendeu, então, qual é a grande sacada de ter um goleiro que saiba jogar com a bola no pé? Sim! O time passa a ter sempre um jogador, que no caso é o goleiro, para fazer a posição de retorno já na saída de bola e não somente quando avançar o campo. Com o mesmo tempo e espaço para dominar a bola, girar o corpo, ver o jogo e compreender a jogada do que o volante tem, o goleiro passa a ser um dos jogadores que dá sequência na jogada e, também, fazer o seu time jogar através de um passe ou lançamento.

Cassio, ao ver dois jogadores adversários no lado que recebeu a bola, girou o corpo, abriu a bola para Yago e fez o seu time jogar, assim como um volante como opção de retorno.
Ao receber a bola, Yago não tem adversário por perto, já que Cássio ajudou o time a continuar com a bola e a jogar.

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Mas como estimular o goleiro a fazer isso?

É, você depois de ter lido o que realmente é ter um goleiro que saiba jogar com a bola no pé, deve estar se perguntando” como fazer com que o goleiro consiga entender quando, como e aonde passar”? É, essa é uma indagação pertinente, mas que já tem resposta nos dias de hoje.

Atualmente, com os treinamentos integrado (se você não sabe o que é isso, clique aqui), o goleiro pode também participar de uma ou várias dessas atividades. O goleiro não iria participar como um jogador de linha, mas, sim, com o objetivo dele fazer retiradas de pressão ou viradas de jogo. No conceito dos treinos integrados, há exercícios onde há possibilidades para que tenha um goleiro para desenvolver essas intenções, como, por exemplo, os exercícios no vídeo abaixo:

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Caio Gondo

Analista de desempenho do Goiás E.C., criador da página “Traduzindo o Tatiquês” e estou no Twitter como @CaioGondo