A metodologia de treino utilizada pela maioria dos técnicos da série A do Campeonato Brasileiro de 2017

Caio Gondo
4 min readJan 23, 2017

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Por não termos futebol em dezembro e janeiro, a maioria dos brasileiros ficam aguardando qualquer notícia de uma possível escalação usada em um treino do seu time, mas e quando o técnico não faz um “rachão”? Aliás, com maiores evidências atualmente nos treinos de Roger Machado e Eduardo Baptista, parece que estamos vendo treinos fora do “padrão”: sem cone para driblar e sem enormes filas para finalizar. Que tipo de treino é esse? Seria uma nova metodologia de treino utilizada?

Eduardo Baptista, assim como Roger Machado, Fábio Carille, Rogério Ceni, Paulo Autuori, Dorival Júnior, Mano Menezes, Zé Ricardo e Jair Ventura, é um dos técnicos da série A do Brasileirão que utiliza dessa metodologia “diferente”.

Antigamente

Antes de demonstrar qual é e como se chama essa metodologia de treino “diferente”, é necessário apresentar as “tradicionais” metodologias de treino. Antigamente, era muito comum ter treinos onde, por um tempo, os jogadores formavam filas para driblar cones para poder finalizar no gol tendo somente o goleiro como adversário e, no outro, havia um “rachão”. Atualmente, a parte de driblar cones se chama método analítico e a parte do jogo, de método global.

Eis um exemplo de treino analítico, mas cabe aqui uma pergunta reflexiva: há quantos cones dentro de um jogo de 90 minutos?

Evidentemente, em cada método anteriormente citado apresenta vantagens (como: melhorar a condução da bola, o domínio da bola e a técnica da finalização), mas também desvantagens (como: não haver adversário, não ter a pressão do jogo e sem nenhuma adversidade). E se houvesse uma metodologia de treino onde poderia envolver somente as vantagens do método analítico e do global? Sim, ela existe e se chama método integrado.

Método integrado

Atualmente, o método integrado (ou também chamado de situacional, condicionante ou jogo reduzido) é aquele que envolve em qualquer parte do treino diversas características do jogo em um campo reduzido e desse modo, estimulando constantemente a parte técnica (como domínio da bola, condução da bola e como finalizar) junto com a pressão e a organização defensiva do adversário. Ou seja, a parte técnica é desenvolvida dentro da realidade do jogo!

Eis um exemplo de treino integrado de Roger Machado: os jogadores de colete procuram sair jogando (assim tendo de que dominar e passar tendo o adversário já posicionado –realidade do jogo), enquanto que os jogadores sem colete procuram manter a pressão no adversário com a bola e procurando o momento adequado para realizar o pressing e contra-atacar –outra realidade do jogo.

O método integrado apresenta diversas maneiras de ser realizado e não só como Roger Machado fez no vídeo acima. A metodologia integrada envolve qualquer tipo de exercício no qual haja constantemente as situações de jogo e, assim, fazendo com que os jogadores realizem movimentações com as mesmas intenções do modelo de jogo do técnico.

Aqui outro exemplo de treino integrado: do minuto 4:22 a 6:17, Eduardo Baptista colocou titulares e reservas misturados e não evidenciando nenhuma pista de quem iria começar jogando. No entanto, em todo momento, há situações de jogo onde os jogadores passaram a passar, dominar e se movimentar dentro da pressão e a movimentação adversária.

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Questionamento 1

Tá, mas como que o método integrado conduz o que os jogadores irão treinar com maior ênfase? Já que driblando cone e cruzando, treina-se o cruzamento e a finalização, e, ainda, no rachão, temos o time todo treinando com todos e, assim, entrosando. Como induzir o treino dentro do método integrado?

Pode não parecer, mas todas as atividades de um treino integrado têm seus objetivos e focos! O objetivo é treinado de acordo como o “campo” utilizado é montado e, assim, pedindo com que tal ação e atitude dos jogadores sejam mais realizadas para poder “vencer” naquela atividade.

Eis aqui um exemplo em vídeo de um treino integrado onde o objetivo é mostrado antes e, assim, mostrando que há, sim, objetivos e foco para cada tipo de atividade de uma metodologia integrada.

Questionamento 2

E durante alguma matéria na TV, alguém já se deparou com uma imagem como a de baixo onde há jogadores com colete, outros sem, e um com um colete diferente dos demais? Alguém se perguntou o que seria aquilo?

Um time com colete, outro sem colete e um jogador com um colete diferente: seriam três times jogando ao mesmo tempo?

Ter um jogador (ou poucos, dependendo da atividade realizada e o foco dela) é uma das variações mais comuns dentro de um treino integrado. Dependendo do objetivo focal do exercício, esse jogador do “terceiro” time joga pro time que está com a posse da bola, ou sem ela. Já que esse jogador é considerado como coringa e varia de acordo com o momento da posse da bola na atividade. Esse coringa pode facilitar a posse da bola, propiciar a realização de pressing dentre outras possibilidades.

Tite é um dos técnicos que mais realiza treinos dentro da metodologia integrada e a variação com a utilização de um coringa. Ele, assim como diversos outros técnicos brasileiros atualmente, utiliza um dos seus meio-campistas como sendo o coringa da atividade. Uma vez que, hoje em dia, o meio-campista é o responsável para realizar a saída de bola, fazer o seu time jogar e, ainda, quem geralmente inicia o perde-pressiona ou um pressing, jogadores desse posicionamento normalmente são escolhidos para ser coringa.

Otávio, um dos meio-campistas do Atlético-PR, é o jogador que inicia a saída de bola do Furacão e um dos iniciadores do perde-pressiona e pressing da equipe: ele possivelmente é um dos coringas de uma atividade do método integrado de Paulo Autuori no CT do Cajú.

Enfim, atualmente, muitos técnicos dos clubes da série A do Campeonato Brasileiro utilizam da metodologia integrada em seus treinamentos. Como cada atividade tem os seus objetivos, cada técnico induz com que os seus jogadores realizem ações e movimentações de acordo com o seu modelo de jogo e, assim, apesar de usar a mesma metodologia, as equipes se desenvolvem de acordo com o que o seu técnico deseja. O método integrado não desenvolve os times de uma só maneira, mas, sim, contribui com que as ações táticas dos jogadores sejam realizadas com sentido e, desse modo, com mais freqüência dentro de uma partida.

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Caio Gondo

Analista de desempenho do Goiás E.C., criador da página “Traduzindo o Tatiquês” e estou no Twitter como @CaioGondo