O funcionamento dos 3 zagueiros de Antonio Conte

Caio Gondo
7 min readDec 27, 2016

--

Canal no Youtube: Traduzindo o Tatiquês

Página no Facebook: Traduzindo o Tatiquês

Perfil no Instagram: Traduzindo o Tatiquês

O técnico italiano Antonio Conte, a cada vitória dentro da sua série invicta na Premier League, tem chamado cada vez mais a atenção do mundo através do esquema tático utilizado pelo seu Chelsea. O uso de três zagueiros já foi comum nos anos 80 até meados de 90 na Europa, popularizou no Brasil no início dos anos 2000 e, agora, no Velho Continente, reapareceu Conte usando-o novamente. Mas será que há alguma semelhança de funções dos zagueiros nessas três épocas? Como esse técnico italiano defende e ataca com esses três zagueiros?

Antonio Conte e suas série de 12 vitórias seguidas têm chamado cada vez mais atenção do mundo.

O histórico dos 3 zagueiros

A primeira aparição de um esquema com três zagueiro após a surgimento dos laterais foi em meados dos anos 80. A ideia inicial desse esquema, já que era normal realizar marcações individuais, era ter um jogador “a mais” na linha defensiva para realizar a cobertura diante de tantas duplas de ataque. Após esse início, esse zagueiro “a mais” passou a ter também a função de iniciar a saída curta dos seus times. Dos anos 80 até meados de 90, Franz Beckenbauer –em território europeu- e Mauro Galvão –em território nacional- se destacaram ao cumprir ambas as funções em alto nível.

Mauro Galvão realizava a saída de bola da Seleção Brasileira de Sebastião Lazaroni na Copa 1990.

No início dos anos 2000, muito devido à conquista do pentacampeonato na Copa de 2002, o esquema com três zagueiros pulverizou no Brasil. No entanto, assim como na época anterior de muito uso dos esquemas com três zagueiros, nos anos 2000 no Brasil, o comum era realizar marcações por encaixe/ individual diante de tantas duplas de ataque. Desse modo, esse esquema passou a ser utilizado somente para ter “um a mais” na linha defensiva.

Como era marcação por encaixe/ individual, Edmilson, o zagueiro “a mais”, geralmente se posicionava atrás de Roque Júnior e Lúcio.

Enfim, você percebeu de que o uso de três zagueiros esteve sempre relacionado às duplas de ataque adversário? E além disso, sempre foi para ter um jogador “a mais” para realizar a cobertura? Pois bem, atualmente, Antonio Conte está quebrando ambos os rótulos do uso de três zagueiros.

Canal no Youtube: Traduzindo o Tatiquês

Página no Facebook: Traduzindo o Tatiquês

Perfil no Instagram: Traduzindo o Tatiquês

O funcionamento defensivo dos três zagueiros do Chelsea de Antonio Conte

Antes de falar sobre o Chelsea de Conte, vale um parêntese: esse técnico italiano já utilizara de um esquema com três zagueiros com a mesma dinâmica do seu atual Chelsea na Juventus de 2011 a 2014 e na sua Seleção Italiana de 2014 a 2016. O atual esquema tem chamado muita a atenção hoje em dia devido à sua série 12 vitórias seguidas na Premier League!

Na Juventus de 2011 a 2014, Antonio Conte já utilizara de um esquema com três zagueiros.
Na Seleção Italiana, Conte solidificou tanto o uso de três zagueiros que até o seu sucessor, Giam Piero Ventura, utiliza do mesmo esquema.

Atualmente no Chelsea, Antonio Conte utiliza um esquema com três zagueiros com as seguintes premissas em ação defensiva: marca-se com uma linha de cinco defensores, com as linhas próximas, por zona, com constante pressão no adversário com a bola e com flutuação defensiva. Diante dessas premissas, nota-se de que as seguindo, o sistema defensivo do Chelsea gera as seguintes situações:

Com as linhas próximas, a flutuação defensiva, a marcação por zona e a constante pressão no adversário com a bola são mais fáceis de serem realizadas.
Quando o lateral sobe para pressionar a bola, o zagueiro do lado flutua defensivamente e gera superioridade numérica no setor da bola, como Azpilicueta está fazendo na imagem acima.
Já quando o zagueiro de lateral também sobe para pressionar a bola, os demais defensores se posicionam em linha e à frente da sua meta.

Você percebeu de que o sistema defensivo do Chelsea de Antonio Conte realiza os mesmos movimentos independentemente da quantidade de atacantes adversários? E mais: não realiza prioritariamente a marcação por encaixe? No atual caso, prioriza-se as formações das linhas! Diante dessa outra premissa, quando um dos defensores se desalinha para pressionar o adversário com a bola (lembra de que há pressão constante no adversário com a bola?), forma-se uma linha de quatro à frente de sua meta, ou seja, prioriza-se a formação das linhas.

Quando um defensor sai na caça, forma-se uma linha de quatro atrás dele.

A formação de uma linha de quatro jogadores é umas das maiores premissas do futebol atual, tanto que, quando os times se defendem, forma-se uma linha com essa quantidade de jogadores até no meio de campo, como são é o caso de um time que joga no 4–1–4–1. Mas você sabe por que é com pelo menos quatro jogadores?

A razão de ser quatro jogadores passa pela intenção da flutuação defensiva. Como a flutuação defensiva tem a intenção de manter a área frente à meta sempre da melhor maneira possível protegida, ao ter quatro jogadores formando uma linha, pode-se fazer com que um deles saia para pressionar o adversário com a bola e, ainda assim, mantem-se três jogadores dentro da zona frente à meta e, assim, mantendo-a protegida.

Ao ter o seu lateral esquerdo abrindo para pressionar o setor que a bola se encontra, Samuel Xavier, Matheus Ferraz e Durval flutuaram defensivamente e mantiveram a área frente a sua meta protegida.

A necessidade de proteger a última linha é tão grande que, hoje em dia, um dos volantes tem entrado na linha defensiva para que a flutuação defensiva dos defensores seja ainda menor e, assim, gerando menos espaços para possíveis entradas na diagonal dos jogadores adversários.

Sagna abriu para pressionar o adversário com a bola, e Fernandinho entrou na linha defensiva para mantê-la com quatro defensores.

Para saber mais sobre o sistema defensivo do Chelsea de Antonio Conte, confira o vídeo de Renato Rodrigues no DataESPN em:

Canal no Youtube: Traduzindo o Tatiquês

Página no Facebook: Traduzindo o Tatiquês

Perfil no Instagram: Traduzindo o Tatiquês

O funcionamento ofensivo dos três zagueiros do Chelsea de Antonio Conte

Voltando ao caso do Chelsea de Antonio Conte. Além de ter muitos aspectos defensivos como destaque, em ação ofensiva, o uso dos três zagueiros por Conte também é diferente em relação ao passado. Antes os zagueiros, exceto o líbero por determinado período, não participavam tão ativamente da ação ofensiva de suas equipes.

Na Seleção Brasileira de 2002, por exemplo, os zagueiros de lado ajudavam a equipe ofensivamente quando conduziam a bola no espaço gerado pelos seus companheiros. No entanto fora isso, pouco se viu algum deles adiantarem com intenção de realmente participar do ataque do time de Felipão.

Cafu levou o extremo esquerdo adversário para longe, e Edmilson conduziu a bola no espaço gerado.

Vale notar de que na Copa de 2014, muitas seleções utilizaram do esquema com três zagueiros e todas formando uma linha de cinco como Antonio Conte atualmente, porém, em ação ofensiva, os zagueiros de lado participavam ativamente somente na mesma condição que a Seleção Brasileira do pentacampeonato.

Acima é uma simulação do que a Holanda fez contra a Argentina na semifinal da Copa: Kuyt e Janmat avançavam empurrando os extremos adversários –Lavezzi e Pérez- enquanto os zagueiros de lado –Blind e Vlaar- tinham espaço para conduzir a bola nos espaços gerados pelos seus companheiros.

Já Antonio Conte posiciona também os zagueiros de lado abertos em ação ofensiva, mas não para conduzir a bola até lá, mas, sim, para serem opções de retorno, gerarem jogo pelo lado e, ainda, serem os jogadores que abrem a jogada para os laterais já bem espetados. É um posicionamento muito semelhante, mas com intenções completamente diferentes!

Na imagem acima, nota-se Azpilicueta –o zagueiro da direita-, sendo opção de retorno para o portador da bola e Cahill –o zagueiro da esquerda- já aguardando a bola para poder abrir para o seu lateral esquerdo que subiu até a linha defensiva adversária.
Como os dois zagueiros de lado sobem, somente o zagueiro central fica em campo defensivo quando o Chelsea ataca.

Para saber mais sobre a função de David Luiz dentro da linha de 5 do Chelsea, confira o texto de André Rocha sobre o jogador brasileiro no link abaixo:

Canal no Youtube: Traduzindo o Tatiquês

Página no Facebook: Traduzindo o Tatiquês

Perfil no Instagram: Traduzindo o Tatiquês

O esquema tático

E por fim, você já se perguntou por que os esquemas dos times que jogam com três zagueiros são iniciados com o número “5” e não com o “3” como antigamente? Da mesma forma que o 4–2–3–1 surgiu devido a maior quantidade de interação dos três jogadores da meia entre eles do que os dois volantes, toma-se a mesma consideração ao falar de um esquema com cinco defensores.

Como muitos times que jogam com três zagueiros atualmente realizam uma linha de cinco na linha defensiva e todos eles realizam movimentações semelhantes ao defender e, assim, interagindo muito mais entre eles do que com os meio-campistas, considera-se de que o esquema é iniciado com o número “5”. Veja como uma linha de cinco defensores se posicionam defensivamente muito diferente do que os antigos 3–5–2.

Veja como estão posicionados os zagueiros Lúcio, Roque Júnior e Edmilson, e onde estão posicionados os alas Roberto Carlos e Cafú: os retângulos amarelos mostram como não há interação entre os zagueiros e os alas e, por isso, o esquema iniciava com o número “3”.
Já o exemplo do Coritiba de Marquinhos Santos nota-se de que os laterais Norberto e Carlinhos procuram se alinhar aos três zagueiros (Lucas Claro, Leandro Almeida e Welinton) em ação defensiva enquanto que os meios-campistas Robinho e Helder interagem com Joel e Zé Love. São situação distintas e, devido a isso, são esquemas com o primeiro número diferente.

Para saber mais sobre o funcionamento atual do Chelsea de Antonio Conte, confira o texto de Leonardo Miranda no link abaixo:

Canal no Youtube: Traduzindo o Tatiquês

Página no Facebook: Traduzindo o Tatiquês

Perfil no Instagram: Traduzindo o Tatiquês

--

--

Caio Gondo

Analista de desempenho do Goiás E.C., criador da página “Traduzindo o Tatiquês” e estou no Twitter como @CaioGondo