O quão importante é saber o esquema tático de um time?

Caio Gondo
7 min readJun 2, 2017

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No momento que em vivemos no Brasil, a ato de analisar taticamente o jogo tem ocupado cada vez mais espaço nas mídis escritas, faladas e televisionadas. Com isso, realizar a ação de analisar tem pedido cada vez mais conhecimento para, sim, realizar uma análise tática. E no meio de todo esse conhecimento está o esquema tático. Afinal, quão importante é saber o esquema tático de uma equipe? Somente o esquema tático vence partidas?

Uma das primeiras equipes que me fez olhar o esquema tático com mais atenção foi o Cruzeiro de 2003 devido a muitos da imprensa na época dizendo: “esse losango do Luxemburgo está jogando muito bem”. Afinal o que seria um losango no futebol?

Assim como foi comigo com o Cruzeiro de 2003, para você, quando mostraram que há uma disposição inicial dos jogadores e isso se chamava “esquema tático”, você também passou a buscar os esquemas táticos em todos os times que via jogando, certo? Pois bem, saber o esquema tático é importante saber mesmo, mas somente ele, não se analisa quase nada de uma equipe.

Antes de continuar, vale aqui um parêntese: você reparou que só uso o termo “esquema tático” e não o termo “sistema tático” quando me refiro aos posicionamentos iniciais dos jogadores? Pode não parecer, mas eles são levemente diferentes. Enquanto que o esquema tático se refere à alguma estático e/ou uma referência inicial posicional, o sistema tático é algo mais móvel e se refere ao como os jogadores se movem no campo. Assim como os termos posição, posicionamento e função apresentam diferenças entre si, os termos esquema tático e sistema tático são também diferentes, mas dentro de um contexto podem ser compreendidos mesmo tendo os seus significados “invertidos”. Sendo assim, segue o jogo.

Segue o jogo!

Uma vez compreendido de que o esquema tático é somente uma referência em que os jogadores usam como posicionamento dentro do campo, nota-se de que realmente o esquema tático é só uma das partes de uma análise tática! Temos alguns exemplos claros sobre isso somente neste ano de 2017.

Desde que Tite deixou o comando do Corinthians, muitos queriam que continuasse o “legado” do 4–1–4–1 na equipe, pois foi com esse esquema tático que o clube apresentou um desempenho muito bom em 2015. No início deste ano, Fábio Carille iniciou com o mesmo esquema, mas com o passar do tempo, esse técnico alterou para o 4–2–3–1 e quase ninguém havia percebido tal modificação. O time se manteve jogando no mesmo desempenho eficiente que vinha jogando com Carille em 2017, porém alterou o esquema. Viu como somente o esquema tático pouco interfere em uma análise tática?

Em 2017, o Corinthians de Fábio Carille havia alterado para o 4–2–3–1, quase ninguém percebeu e o desempenho se manteve o mesmo.

Outro exemplo que está acontecendo nessas últimas semanas é no Atlético-PR. Paulo Autuori desde que assumiu o comando da equipe fazia o time jogar no 4–2–3–1. E nas últimas semanas, Eduardo Baptista chegou no clube paranaense e alterou o esquema tático para o 4–1–4–1, mas manteve todo o modelo de jogo que já estava sendo realizado e, assim, o desempenho está bem parecido com o que estava sendo realizado anteriormente.

O Atlético-PR, depois de um pouco mais de um ano jogando no 4–2–3–1 com Paulo Autuori, passou a jogar no 4–1–4–1 nas mãos de Eduardo Baptista.

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Por ser uma referência posicional para os jogadores, claro que há jogadores que se adaptam melhor em determinados posicionamentos do que em outros, já que, assim como você já viu neste texto , em alguns esquemas táticos há alguns posicionamentos que não existem em outros esquemas táticos. Além de alguns esquemas táticos apresentarem posicionamentos “exclusivos”, tais posicionamentos também pedem algumas funções para serem realizadas e por isso, então, de que às vezes parece que não há adaptação do jogador para tal posicionamento. Vou te mostrar dois exemplos para o mesmo posicionamento.

Em 2015, o único volante do 4–1–4–1 do Corinthians de Tite era Ralf. Para quem olhava somente nas estatísticas, Ralf era “ruim”, pois pouco desarmava e não dava tantos passes. Por outro lado, esse volante tinha uma noção de espaço e de realização da função defensiva do posicionamento do volante do esquema muito grande. Ralf era quem entrava na linha defensiva quando um dos seus laterais abria para dar o combate pelo lado, assim como se vê na imagem abaixo:

Arana abriu para pressionar o adversário e, então, Ralf foi se alinhar aos demais defensores da sua equipe.

Isso pode parecer pouco, mas quando o extremo adversário vê que quem está dando o combate nele é o lateral adversário, o extremo já se prepara para partir para uma jogada individual e, então, ir para à área adversária com grandes chances de criar alguma situação de gol. Como o único volante de um 4–1–4–1 é quem já está mais perto da linha defensiva do que os demais jogadores da sua equipe, Ralf ia para a linha defensiva desguarnecida e, então, cumpria uma das funções defensivas desse posicionamento.

Em 2017, no Atlético-PR, após a mudança do 4–2–3–1 para o 4–1–4–1, Otávio ainda não tem conseguido realizar essa entrada na linha defensiva com rapidez. Apesar de ser o jogador mais perto da linha defensiva, Otávio que é o volante do 4–1–4–1 do time tem deixado para algum meia ou algum extremo do seu time para entrar na linha defensiva quando algum dos seus laterais abre para pressionar o adversário. Assim sendo, Otávio ainda não está totalmente adaptado ao posicionamento e às funções defensivas pedidas para o seu novo local em campo.

Na imagem, nota-se Pablo, o extremo esquerdo do time, entrando na linha defensiva enquanto que Otávio ficava à frente dos defensores.

Mas o que esse papo de adaptação ao posicionamento e às funções que esse posicionamento tem a ver com o esquema tático de uma equipe? Tudo! O nível de desempenho de um time está diretamente ligado ao como cada um dos seus jogadores desempenha as suas funções em ação ofensiva, em ação defensivas e nas transições. Uma vez que a compreensão de uma(s) da(s) função(ões) não esteja compreendida pelo jogador, a sua equipe passa a tem que realizar compensações em campo e, assim, dificultando com que o desempenho dela se eleve.

Como há necessidade de compreensão das funções de um novo posicionamento, a alteração de um esquema tático requer treinamentos e, assim, não dá para mudar de esquema tático de uma hora para outra. Muito menos durante uma partida sem sequer ter treinado nessa nova distribuição em campo! O esquema tático, assim como qualquer outro aspecto tático, requer treino para ser realizado com alto desempenho.

O Atlético-MG de Roger Machado começo o ano no 4–1–4–1, mas a partir da mudança para o 4–2–3–1 e muito treinamento por trás passou a apresentar um desempenho ainda maior em campo.

E você reparou que o posicionamento de um jogador dentro de um esquema tático depende da adaptação do mesmo jogador em relação às suas funções táticas em ação ofensiva, em ação defensiva e nas transições? E também de que o desempenho de um jogador em um posicionamento está mais relacionado ao que ele faz, como ele faz e para onde ele vai nas fases de jogo do que somente ao local onde ele se posiciona dentro de um esquema tático? Pois é. Se isso está relacionado a um jogador, essa percepção também pode ser aumentada para todos os demais de um time.

As análises táticas atualmente já deixaram de ver somente o esquema tático em campo! As movimentações, os porquês de cada movimento, para onde os jogadores estão indo em determinada fase de jogo e como o jogador se movimenta têm muito mais peso com relação ao desempenho do jogador e de sua equipe do que o esquema tático. Veja nestes exemplos de análises táticas na mídia escrita na internet:

Nesse texto de Leonardo Miranda no blog Painel Tático no globoesporte.com não há referência alguma ao esquema tático do São Paulo, mas mesmo assim você entendeu como o time paulista está jogando.

E agora nesse texto de Renato Rodrigues, que é o coordenador do DataESPN, em seu blog na ESPN Brasil, também não há referência alguma ao esquema tático do Atlético-MG e mesmo assim houve a compreensão de como o Galo joga atualmente.

Enfim, temos que o esquema tático é, sim, um aspecto tático de um time, mas ele faz parte do todo do modelo de jogo da equipe. Somente identificar o esquema não é a análise toda, mas, sim, somente uma parte dela a qual nem sempre é tão importante para se compreender o como o time está jogando. Entender o como, o onde e o porquê de cada movimentação são mais relevantes hoje em dia.

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Caio Gondo

Analista de desempenho do Goiás E.C., criador da página “Traduzindo o Tatiquês” e estou no Twitter como @CaioGondo