Os esquemas táticos: um resumo da sua história na internet, como defini-los e exemplos em imagens

Caio Gondo
7 min readMay 3, 2016

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De poucos anos pra cá, os esquemas táticos têm aparecido com cada vez mais frequência nas conversas, nas análises táticas (há controvérsias) e nos comentários sobre jogos de futebol. No entanto, como sabermos que tal equipe joga em tal esquema tático? Como esses esquemas são definidos? E por fim, por que se têm quatro números nos esquemas, se um time só tem defesa, meio-campo e ataque?

Esta publicação irá responder todas essas perguntas, gerar reflexões sobre o tema, mostrar o atual cenário brasileiro no mundo das análises e mostrar em imagens os esquemas táticos mais utilizados atualmente. Confira!

Eis umas das equipes que mais geram dúvidas até então sobre o seu esquema tático: afinal, o Palmeiras campeão da Libertadores de 1999 jogava em um 4–4–2, 4–2–3–1 ou 4–3–1–2? Como descobrir isso? Basta ler até o fim desta publicação que você saberá!

Antes de começar a mostrar os porquês de cada esquema tático ser considerado como tal, uma passada rápida na história do “mundo das análises táticas” se faz necessário.

Resumo da história

Por volta de 2007 e 2008, a internet começou a ter as suas primeiras análises táticas (sim, essa história de análise tática é bem recente). Nessa época, para quem começou a escrever sobre o assunto bastava saber qual era o esquema tático para, pronto, fazer uma análise tática. A necessidade em identificar qual era o esquema mal iniciou, e o contraste com o que acontecia lá fora já veio: os times do Luxemburgo não tinham a mesma distribuição em campo do que a Seleção da Inglaterra! Ambas as equipes não podem jogar no 4–4–2! E assim começou as diferenciações no Brasil.

Um dos exemplos do que era a distribuição dos times de Vanderlei Luxemburgo na época: formava-se um losango com os meio-campistas.
E aqui um exemplo da distribuição em campo da Seleção da Inglaterra: os meio-campistas jogavam em linha. Oras se os jogadores do meio-campo se distribuem de maneira diferentes, não se pode ter a mesma denominação para os esquemas!

Devido às essas reflexões, começaram a aparecer duas maneiras para diferenciar os esquemas: uma era colocando qual era a forma geométrica após os números, e a outra era separando ainda mais os esquemas. Mas vale notar o seguinte: ambas as linhas de diferenciações aconteceram por causa da evidência de que são esquemas diferentes e com intuito de passar a informação mais correta e rápida possível!

A primeira linha de diferenciação é quando aparecem nas análises termologias assim: “o Remo jogou no 4–4–2 quadrado”, “o Paysandu atuou no 4–4–2 losango” ou “o Rio Branco jogou no 4–4–2 em linha”. Viu como já dá para notar que são situações diferentes? Foram falados três esquemas com o mesmo número, mas todos com distribuições diferentes em campo as quais foram evidenciadas só com a forma geométrica após os números.

Eis um exemplo do que seria um 4–4–2 quadrado.

Já a segunda linha de diferenciação de esquema era separar ainda mais os esquemas. Na época, essa diferenciação gerou certo incômodo, pois nos times só têm defesa, meio-campo e ataque e por isso eram só três números. Porém a Copa do Mundo de 2006 havia acabado de passar e outro choque de realidade apareceu: qual é o esquema que a Itália e a França jogaram na final? A procura por definições de esquemas parecia um caminho sem fim.

Na Copa do Mundo de 2006, a Itália e França, por exemplo, se apresentaram com uma pequena variação que ainda não estava ao alcance das análises brasileiras: foi-se recuado um dos atacantes do 4–4–2 em linha. A partir de então, a segunda linha de diferenciação dos esquemas ganhou muita força e, até hoje, a predomina na imensa maioria das análises táticas.

Para os brasileiros que analisavam taticamente, ao se deparar com a Itália e a França naquela Copa, viram a imagem acima e pensaram: eita, e agora, como definir qual era o esquema?
Depois de muito tempo escrevendo, debatendo e conversando, os analistas entraram em consenso e viram que a segunda linha de diferenciação dos esquemas poderia responder: o esquema das finalistas da Copa de 2006 era o 4–2–3–1!

Ou seja, no Brasil, o “quarto” número dos esquemas surgiu logo no começo da história das análises táticas e se consolidou quando se lembraram da Copa do Mundo de 2006. Pronto, o quarto e “estranho” número surgiu para facilitar e encurtar a transmissão de informação.

Mas o que essa toda história tem a ver com esta publicação? Muito. É a partir dela que se justificará alguns esquemas como o 4–3–1–2, 4–1–4–1, 4–2–3–1 e etc.

Como definir qual é o esquema?

OK, você já sabia do por que ter aparecido mais um número. Agora vamos para outro passo: como definir qual é o esquema?

O esquema tático está diretamente relacionado com o posicionamento inicial dos jogadores, o que, aliás, é diferente de posição hein (não sabe a diferença? Clique aqui). A soma de todos os posicionamentos dos jogadores de uma equipe é que gera o tal esquema tático. Mas como eu sei quais são os posicionamentos iniciais dos jogadores?

O posicionamento inicial do jogador, assim como foi visto na publicação sobre o tema, é definido pela região que o jogador mais ocupa durante a partida e onde ele se posiciona inicialmente. Essa parte do posicionamento inicialmente é a mais fácil a ser vista em campo, pois ela é facilmente vista nos tiros de meta longos. Bastou ver como os jogadores se posicionam nessa situação do jogo que esquema tático já está em mãos.

Na final do Mundial contra o Barcelona, o Internacional jogou no 4–3–1–2 (ou 4–4–2 losango), assim como se vê momentos antes do tiro de meta longo ser cobrado.

Os esquemas táticos

Depois de você ver o resumo do começo da história do “mundo das análises táticas” na internet, de ver como identifica o esquema tático e entender o motivo do qual há o quarto número e os esquemas com “números e forma geométrica”, ver quais são cada esquema em imagens ficará ainda mais clara e nítida as diferenças entre eles.

Vale aqui lembrar de que o “mundo das análises táticas” na internet começara em 2007/08 e de que tem evoluído e melhorado a cada ano que passa. Atualmente, não basta mais só identificar o esquema para realizar uma análise tática, mas, sim, por exemplo, perceber a proposta de jogo, como as equipe se comporta nas quatro fases de jogo com a bola rolando, o modo de atacar, o modo de marcar e por aí vai. Por outro lado há uma parte que também faz parte da transmissão de informação e o aumento de conhecimento do público que é a imprensa.

A imprensa, em sua maioria (importante ressaltar), por quase todo tempo desde 2007 até hoje, debochou e menosprezou o “mundo das análises táticas” na internet. Entretanto, quando menos se percebeu, estão lá escrevendo e colocando esquemas táticos em suas matérias. E ainda mais recentemente ainda, a imprensa tem utilizado da palavra “análise” em seus títulos. Parece contraditório em relação ao histórico dela, não?

Não quero aqui gerar briga e muito menos mostrar prepotência, mas, sim, quero ajudar o público a captar a melhor informação possível. Não é um desastre quando um repórter fala que um evento irá começar “às 22” em vez de “às 16”? Ele não errou só uns números, mas, sim, a informação toda transmitida! E para a lógica dos números dos esquemas táticos é a mesma situação! Passar que uma equipe está jogando no 4–4–2 em vez 3–4–1–2 é passar a informação errada e deixar o seu público com a informação errada! E isso é grave no jornalismo. E por isso, veja os esquemas táticos em imagens, seja você jornalista, curioso por tática, estudante ou mero leitor. Vejam como eles são diferentes entre si!

Para facilitar a compreensão, quando possível, vou colocar qual é o esquema tático tanto em quatro números quanto com número e forma geométrica. E agora, sim, vamos lá?

4–4–2 ou 4–4–2 em linha

Palmeiras de 2016.

4–3–1–2 ou 4–4–2 losango

Eis aqui a resposta sobre o Palmeiras de 1999: aquele time campeão da Libertadores de 1999 jogava com um losango no meio.

4–3–2–1

Flamengo de 2012.

Vale notar de que tanto o 4–3–1–2 quanto o 4–3–2–1 têm a mesma origem. Desse modo, ambos os esquemas se defendem pelo lado com os jogadores da linha de três flutuando defensivamente, como na imagem acima do Flamengo. Essa é uma das premissas para se notar o 4–3–1–2 e suas derivações com a bola rolando.

4–2–2–2 ou 4–4–2 quadrado

Atlético-PR em 2014.

4–2–3–1

Fluminense em 2016.

4–4–1–1

Coritiba em 2014.

O 4–4–1–1 tem uma pequena diferença em relação ao 4–2–3–1. Em ação defensiva, o 4–4–1–1 defende formando duas linhas de 4 nítidas (assim como na imagem acima do Coritiba), enquanto que o 4–2–3–1 se defende no 4–2–3–1 e raramente forma-se duas linhas de 4 tão claras (veja abaixo um time que notavelmente jogava no 4–2–3–1 e a diferença entre si em ação defensiva).

Cruzeiro de 2014 evidentemente jogava no 4–2–3–1, pois se defendia no mesmo esquema.

4–3–3

Barcelona na temporada 2010/11.

4–1–4–1

Corinthians em 2015.

A diferença entre o 4–3–3 e o 4–1–4–1 não é tão nítida e fácil de notar. Por isso que em dezembro do ano passado, escrevi um texto só sobre os dois esquemas. Confira ele aqui!

3–4–3

3–4–3 da Seleção Brasileira de 2002

3–1–4–2

Grêmio de 2001.

3–4–1–2

Goiás de 2005.

Mas e o 3–5–2?

Pois é, se foi compreendido do por que haver a separação das linhas do meio-de-campo, conclui-se que se um time jogar no 3–5–2, a distribuição dos jogadores seria desta maneira:

Assim como o 4–4–2 de antigamente se “transformou”, o 3–5–2 também sofreu da mesma “mutação”. Dificilmente se vê um time jogando com cinco meio-campistas alinhados da maneira acima.

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Caio Gondo

Analista de desempenho do Goiás E.C., criador da página “Traduzindo o Tatiquês” e estou no Twitter como @CaioGondo