Causos da Shonen Jump: “Chinyuuki” e o dia em que uma briga de bar durou quase 40 capítulos.

Nintakun
40 min readJun 29, 2023

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Acho que a essa altura do campeonato todo mundo já sabe que “Dragon Ball” era, a princípio, pra ser uma “releitura” ou paródia (ou seja lá o que tava passando na cabeça do Toriyama) do famoso livro chinês “Jornada ao Oeste” e, se você conhece o básico da premissa, os elementos dessa história são bem perceptíveis no começo da série. Mas e se eu falar pra vocês que houve uma OUTRA paródia de “Jornada ao Oeste” rolando dentro da Shonen Jump coexistindo junto com ele no começo dos anos 90.

Mais surpreendentemente ainda, e se eu dissesse que esse mangá é consideravelmente importante dentro da história da Jump dessa época e lançou um dos artistas mais únicos dessa indústria ao estrelato? Hoje eu vim falar de um mangázinho fascinante chamado “CHINYUUKI”, escrito e desenhado por um cara que atende pela alcunha de “Man Gatarou”. Se você gosta de ler sobre causos curiosos da história da Jump, esse mangá inteiro por si só já é um desses.

Mas antes de começar, se você sabe como as coisas nos meus textos funcionam, preciso dar um pouquinho de contexto.

Uma breve apresentação da “Jornada ao Oeste”

Se você conhece cultura pop asiática certamente já ouviu esse nome antes ou viu alguma referência a isso que seja, mas trata-se de um grande clássico da literatura chinesa, escrito no Século XVI tendo sua autoria atribuída a Wu Cheng’en. O livro é considerado um dos grandes clássicos da literatura chinesa, junto com o “Romance dos Três Reinos” (sobre o qual já escrevi mais detalhadamente aqui), “A Margem da Água” e “O Sonho da Câmara Vermelha”. É uma história tão famosa que se espalhou pra todos os cantos da Ásia e ganhou umas boas centenas de versões e reinterpretações dos mais variados tipos em todas as mídias possíveis até hoje, e atualmente é conhecida no mundo todo, até fora da Ásia.

Eu não pretendo entrar em muitos detalhes porque isso alongaria demais o texto e eu não julgo isso ser TÃO importante quanto talvez possa parecer pro assunto em questão, mas a premissa aqui é a história é sobre Son Wukong (às vezes chamado de “Rei Macaco”), um macaco muito brigão e baderneiro, que arrumou tanta confusão que o Buda resolveu prendê-lo por ser perigoso e poderoso demais. E então ele é encontrado por Tang Sanzang, um monge budista, que decide levá-lo numa jornada de peregrinação até a Índia, passando por toda a “Rota da Seda”, e nessa viagem eles passam por muitas experiências diferentes e encontram personagens dos mais variados tipos nessa aventura.

“Saiyuuki” (1960), um filme animado japonês da Toei que adapta essa história. LIberdades criativas à parte, acho uma excelente introdução ao básico da Jornada ao Oeste. Esse filme é bem legalzinho, na minha opinião.

… e eu acho que é isso que vocês precisam saber sobre a premissa do conto original pra pegar a ideia do que eu vou desenvolver ao longo do texto, mas isso vai deixar de ser tão importante depois de um tempo.

Agora sim, hora de começarmos a falar do assunto de hoje…

Jornada à Jump de 1990

As capas dos volumes de “Chinyuuki”

Agora, avancemos para o ano de 1990 no Japão, onde surge um mangá chamado “Chinyuuki”, escrito e desenhado por um cara que assina como “ManGatarou”, pseudônimo esse que pode ser lido como “Zé do Mangá”.

Uma coisa que eu não mencionei é que a “Jornada ao Oeste” no Japão se chama “Saiyuuki” (西遊記), e esse mangá se chama “Chinyuuki” (珍遊記), mudando o primeiro kanji, “Sai”(西), pra “Chin” (珍), e já nesse detalhe já dá pra saber que se trata de uma versão desvirtuada da “Jornada ao Oeste”. Esse mesmo kanji de 珍, é usado na palavra “Chin-na” que é um adjetivo pra “estranho” ou “bizarro”… além de remeter um pouco à palavra “chinko”, que é um termo vulgar pra “pênis” em japonês.

Ou seja, isso tudo quer dizer que se esse mangá saísse aqui eu votaria pra adaptar o título pra “Jornada ao Fodeste” ou algo tão ridículo quanto senão mais.

O título todo é “Chinyuuki: Tarou do Yukai-na nakamatachi”, e isso poderia ficar em português como “Jornada ao Fodeste: Tarou e seus simpáticos amigos”. Agora vem a pergunta… onde diabos entra um “Tarou”, um dos nomes japoneses mais comuns possíveis (tipo um “Joãozinho”), nessa história se é uma adaptação do livro da história do Son Wukong?

(“Son Wukong” esse que é chamado de “Son Gokuu” em japonês… mas acho que disso vocês já sabem, né? Às vezes me pego imaginando uma realidade alternativa onde a gente chamaria o protagonista de “Dragon Ball” de “Son Wukong”, ao invés de meramente “Son Goku” como fomos condicionados a fazer no ocidente)

“Eu sou Yamada Taroooou! KYAHKYAHKYAHKYAH”

A história do mangá já começa jogando merda no ventilador, mostrando uma cidade sendo bem bagunçada por um ser poderoso e carrancudo com cara de macaco chamado… Yamada Tarou. Ele enche a cara de cachaça, cospe fogo, sai voando com seus peidos, quebra tudo, explode coisas. Enfim, é uma versão exagerada do Son Wukong, só que com o nome japonês mais genérico imaginável possível.

E de uma maneira similar ao “Conto do Momotarou”, nessa versão, ele foi criado por um casal de velhinhos numa área rural, que o encontraram ainda bebê depois de ele aparecer no meio da plantação deles depois de um trovão. Tarou sempre foi uma criança problemática e que arrumava muita confusão e constantemente fazia bizarrices, trazendo imenso desgosto aos velhinhos que o criaram.

Pra sorte deles, Genjou, um monge montado em seu cavalo, passava pela região em busca de um lugar pra passar a noite, e após sentir a energia ruim da casa onde Tarou vive com os velhinhos, decide ajudá-los a se livrar dele de uma vez por todas com o melhor exorcismo que o budismo tem a oferecer, e então acaba travando uma intensa batalha com Tarou, até que consegue selar boa parte de seu poder e o transforma em um carequinha feio pra dedéu que continua um legítimo baderneiro porcão de incríveis maus modos, e decide levá-lo ao Oeste numa jornada de peregrinação… mas não antes sem colocar uma coroa de ouro em sua cabeça pra tentar controlar seus impulsos violentos caso ele fuja do controle, igual acontece com o Son Wukong na história chinesa original.

E então, o monge agora leva Tarou, transformado em algo pior do que era antes, embora pra Índia…

Até aqui foram os 3 primeiros capítulos do mangá, e do jeito que eu descrevi parece até meio normal, mas o negócio que pega aqui é a forma como essa coisa toda acontece, de um jeitão bem específico que acabaria virando o estilo do autor, já que esse foi o primeiro mangá notável de sua carreira… eu vou falar do Man Gatarou em mais detalhes numa seção específica depois, porque ele CERTAMENTE merece esse destaque, mas agora é hora de falar de como as coisas nesse mangá funcionam.

“Chinyuuki” é um mangá de comédia, e dos bem trash. É maravilhosamente trash de um jeito que parece ter sido desenhado por um garoto de 12 anos que sabe usar rachuras muito talentosamente. Tudo é extremamente “over” e absurdo, tem muitas piadas escatológicas e com nojeira num geral ou de humor físico mais pastelão (o famoso “slapstick humor”) e várias vezes onde existem quebras de 4º parede onde os personagens estão gritando o tempo todo. É bem aquele tipo de comédia onde TUDO pode acontecer e é bem imprevisível com situações ridículas e absurdas das mais variadas.

Nunca bote seu rosto num lago fedorento, muito menos encare os olhos qualquer coisa que estiver nele.

Uma mera cena que num mangá normal demoraria uma ou duas páginas, aqui pode demorar vários capítulos pra terminar por conta do jeito que o autor costuma usar desenhos com quadros enormes pra dar impacto o tempo todo, e esses desenhos são bem detalhados. O mangá já começa com várias dessas características, mas esse estilo próprio vai se desenvolvendo um pouco depois, e é fascinante vermos em tempo real o “estilo Man Gatarou” sendo forjado durante uma serialização semanal, já que isso foi bem no começo da carreira dele, e logo conquistou o público e fez um sucesso considerável, tendo sido serializado na Shonen Jump por pouco mais de um ano e sido compilado em 6 volumes, com 64 capítulos.

E falando nesse “estilo Man Gatarou”, acho que chegamos em uma boa hora pra começar a falar sobre o artista por trás dessa maluquice

O maravilhoso mundo de degeneração de Man☆Gatarou

Man☆Gatarou é uma figurinha um tanto quanto… fascinante.

Às vezes também chamado de “Man F Gatarou”, “Gatarou Man” (normalmente de forma errônea quando tentam ocidentalizar o “nome” dele sem muito contexto) e de mais uma penca de outras variantes desse pseudônimo que, se levados a sério, causam dor de cabeça nos catálogos de livrarias japonesas tornando um caos compilar seus trabalhos às vezes, ele tem um estilo bem único. Passarei a chamá-lo de “Mangatarou” aqui pra facilitar.

Não se sabe praticamente nada sobre sua vida pessoal, além de que ele é bastante recluso socialmente e que poucas pessoas dentro da Shueisha já viram seu rosto (que supostamente apareceu naquelas capas da Jump antigas onde os autores das obras estavam todas presentes… mas vai saber se o Mangatarou que estava lá era ele mesmo). O que sabemos é: ele está em atividade desde o começo dos anos 90 e tá aí fazendo mangá até hoje, e consistentemente faz títulos de comédia. “Chinyuuki” foi o seu título de estreia, e a série conseguiu fazer sucesso o bastante pra lançá-lo ao estrelato pra que ele tivesse vários outros depois, e alguns desses até ganharam adaptações pra outros formatos, em especial filmes live-action (incluindo o próprio “Chinyuuki”).

Eu definiria o estilo do Man Gatarou como “anarquia total em forma de quadrinho depois de umas dez carreiras de pó”, porque ele sempre demonstra um profundo desapreço por formas convencionais de fazer mangá, e sempre descamba pra fazer isso da forma mais trash e absurdista possível, sempre com humor extremamente juvenil, com constantes piadas de peido, caganeira, pinto, mijo, gente pelada, velhas peladas, mortes grotescas, piadas de cunho sexual e quebras de quarta-parede, e MUITO mais. Qualquer coisa pode acontecer em um mangá dele.

E, é, definitivamente não é pra todos os gostos, mas eu tenho uma firme opinião de que todo mundo deveria experienciar pelo menos um mangá dele ao menos uma vez na vida pra sentir o gostinho, porque é, pra bem ou pra mal, uma experiência bem marcante. Ou ama ou odeia, dificilmente dá pra ficar indiferente. Falando como alguém que teve muito mais contato com coisas como “Ren & Stimpy” do que deveria quando criança, devo dizer que é sempre um divertimento pra mim.

Além desse senso de humor de garoto adolescente que viu Youtube Poop em excesso numa idade em que seu cérebro ainda estava em formação, acho que o maior destaque nos mangás dele é a forma como eles normalmente fluem, porque ele tem uns cacoetes bem específicos que são facilmente reconhecíveis, e estão presentes em quase todos os seus mangás e já viraram marca registrada.

Mais um dia normal num mangá do Mangatarou

Entre esses, ele tem algumas piadas clássicas bem específicas. É bem comum em seus mangás termos alguma cena super detalhada de algum personagem caindo de uma escada rolando ela abaixo enquanto faz cara de desespero; Às vezes temos cenas de personagens sendo atropelados por um caminhão, que os parte em pedacinhos; às vezes, temos velhinhas peladas… e todo tipo de pessoa pelada também, mas idosas peladas são, especificamente, as que mais aparecem nessas piadas clássicas dele; às vezes tem gente se cagando horrores ou tendo membros decepados de maneiras bem grotescas que parecem saídas do “Itchy & Scratchy” (“Comichão & Coçadinha”, para os que estão mais familiarizados com o nome da versão dublada) dos “Simpsons” (sério, o humor é MUITO parecido)… e às vezes, ele consegue juntar TUDO isso acontecendo ao mesmo tempo, o que nos pode levar a uma cena de uma velha pelada caindo rolando escada abaixo enquanto se caga toda com a merda voando pra tudo quanto é lado até ela ir parar no meio da rua e ser atropelada por um caminhão que a despedaça todinha como se fosse um desenho animado e ela conjura mil palavrões e gritos durante o processo.

Esse tipo de página é mais recorrente do que parece

“Ah, mas isso nem dá pra encaixar no contexto de tantas histórias diferentes assim…”, talvez você esteja se questionando, sem nunca ter lido os mangás dele antes, porém eu, falando como alguém que já leu alguns, digo… ele é capaz de fazer muitas variações dessas “piadas de uma nota só” específicas, e ainda conseguir fazê-las acontecerem de forma orgânica dentro do que seus universos de maluquice desenfreada permitem.

Eu não sei se ele já falou isso em algum lugar, e provavelmente não disse, dado todo o mistério em volta da sua persona pública, mas arrisco dizer que seu trabalho possui bastante influência do humor de desenhos norte-americanos dessa época ou mais antigos. Não acho que é tanta distância assim comparar seus mangás a piadas que víamos em “Tom & Jerry” ou cenas de desenhos da Warner Bros. para os Looney Tunes, especialmente aquelas onde os personagens tão batendo uns nos outros com porretes, ou é o Hortelino dando um tiro na cara do Patolino fazendo o bico dele virar pra trás da cabeça, ou quando algum personagem anda pra além de um precipício sem perceber e cai no abismo depois que percebe que não está mais no chão. É o tal do “slapstick” e isso não era exatamente comum em mangás japoneses de comédia, pelo menos não desse jeito, e provavelmente foi justamente essa novidade que o ajudou a se destacar dentro da Jump com o “Chinyuuki”, e vou até ousar dizer que esse mangá é um pedacinho bem importante dentro da história da genealogia dos mangás de comédia num geral, em especial esses com comédia mais “nonsense”… porém, o mais engraçado é que os mangás do Mangatarou ainda parecem bem únicos até hoje, e mesmo atualmente não existem muitas coisas que podem ser comparadas com ele.

Uma aventura qualquer num mangá do Mangatarou

Como vocês devem imaginar, a carreira dele foi um sucesso. “Chinyuuki” teve alguns “problemas” em sua publicação, mas vou deixar pra falar disso lá na frente, mas depois disso a carreira dele deslanchou e ele teve vários títulos de sucesso, e alguns chegaram até a ganhar adaptações, como já disse antes. Entre alguns mangás notáveis dentro de seu currículo, podemos citar “Jigoku Koushien”, que é um mangá de baseball absurdo, que lembra bastante aquele filme “Shaolin Soccer”, caso já tenham visto, só que com baseball, que saiu na Jump mensal nos anos 90.

Uma adaptação animada de “Jigoku Koushien”. Esse trechinho ilustra muito bem como é o sendo de humor dos mangás desse cara, e você não precisa saber uma palavrinha sequer de japonês pra sentir a vibe.

Um outro que acho que chama bastante atenção é “Tsumi to Batsu”, que… é uma adaptação do famoso romance russo “Crime e Castigo”, originalmente publicado em 1866 por Fyodor Dostoevsky, e como vocês devem imaginar por tudo que eu descrevi que pode acontecer num mangá do Mangatarou, é uma releitura… bastante sórdida da história que vira tudo que você conhece do livro original de ponta-cabeça.

Mais recentemente, acho que vale a menção, teve também “Hoshi no Ouji-sama”, que como a tradução literal pode sugerir, é uma adaptação de “O Pequeno Príncipe”, o famoso livro infantil francês de Antoine de Saint-Exupéry, e esse certamente vai a lugares…

Isso é uma página do “O Pequeno Príncipe” do Mangatarou.

… acho que ainda não falei de uma coisa que é bem importante e característica de seu trabalho também, que é a sua arte… muito mais detalhada do que provavelmente precisava ser, como vocês devem estar percebendo pelas imagens. Os personagens são desenhados fazendo caretas com MUITOS detalhes, com frequentes closes em suas caras mostrando rugas, perebas e tudo mais. O tal do Gross-up Close-up, que a gente via muito em “Ren & Stimpy”, e não é exagero dizer que pelo menos metade das páginas são desenhadas desse jeito. Não se enganem, mas o cara é um puta ilustrador e sabe comunicar sua comédia visual desse jeito tão bem que até mesmo sem saber ler uma única palavra de japonês dá pra achar alguma graça e entender o apelo só de folhear algum mangá dele, mesmo sem nenhuma tradução… claro que lendo fica melhor, porque o texto muitas vezes é tão escrachado quanto os desenhos, e formam um casamento perfeito, mas esse é o poder de comunicação visual da arte do cara, e isso pra mim é uma qualidade que a maioria dos artistas de quadrinhos sonham em alcançar.

Outra coisa que ele faz bastante também é repetição de páginas, quadros e layouts, onde os mesmos desenhos estão visíveis, às vezes com alguma variação muito pequena ou só o texto diferente, e isso é tão idiota quanto parece e só adiciona mais ainda ao humor dele, quase como uma piada de Youtube Poop onde a graça está em captar a edição bizarra daquilo que está sendo mostrada. Preguiça de desenhar mais ou genialidade? Fica a seu critério, mas o desgraçado sabe usar muito bem essas páginas repetidas pro que ele quer fazer.

Apesar de desenhar muita careta e gente feia, ele também sabe desenhar umas meninas fofinhas de vez em quando… mas só de vez em quando. (Capa de um volume de “Mitokon Perestroika”)

Leiam “Gyakusatsu!!! Heartful Company” (“ATROCIDADES!!! A Firma do Amorzinho”, em adaptação livre por minha conta). É um excelente cartão de visitas demonstrando como é um típico mangá do Mangatarou, e esse tem tradução em inglês. É um voluminho único e não deve te tomar muito mais do que meia hora pra ler, e nele já dá pra ver praticamente uma cartela de bingo marcada inteirinha de todas essas características que falei sobre.

Bom, ainda tem mais uma característica típica dos mangás dele que não tinha falado antes, mas eu propositalmente deixei essa por último porque é ela que vai nos levar à próxima seção desse texto…

Não é raro que em seus mangás, um mero acontecimento tome, ao invés de umas duas ou três páginas, tome dezenas de páginas ou até capítulos inteiros. E bem, em “Chinyuuki” ele fez isso e fez de um jeito que palavras não fazem justiça, mas vou tentar falar sobre como aconteceu, e pra mim esse virou um dos eventos mais engraçados da história da Shonen Jump, e foi a coisa que me motivou a escrever esse texto.

Agora que já dei o contexto de quem é o autor e como ele opera, acho que já posso voltar pro mangá em si…

A Briga de Bar mais Feia da História da Humanidade

Bem, estamos de volta a falar diretamente sobre “Chinyuuki”.

… Onde a gente tinha parado mesmo? Ah, sim, o Son Wukon- digo, Yamada Tarou saiu amarrado à força com o monge Genjou. Durante essa aventura de peregrinação, Tarou ainda vai tentar pregar várias peças no monge e tentar fugir… e todas essas tentativas irão falhar de forma miserável. Eles passam por alguns perigos muito bizarros até chegarem numa cidadezinha aparentemente bem normal e coisas acontecem. Um dos eventos mais notáveis é quando o monge ajuda o dono de uma restaurante de ramen que tá quase indo à falência porque ninguém vai comer lá, e eles descobrem que é porque o cozinheiro tem uma catinga de suvaco tão de arrepiar que empesteia o lugar todo e até a comida, e então o monge o “cura” dessa “doença”. Testemunhando tal milagre, toda a população da cidade passa a ir até o monge pra que ele os cure de suas dores com seus milagres, e Tarou, entediado com aquilo e buscando uma oportunidade pra matar o monge mas sem ninguém olhar, decide dar uma voltinha por uma cidade.

Eu não estava exagerando quando disse que esse mangá tinha “dedo no cu e gritaria” LITERALMENTE, né?

Ele arruma briga com um trio de moleques que roubam os livros de uma livraria velha onde a dona é uma velha rabugenta! Essa briga idiota dura uns bons capítulos, quando num mangá normal duraria um só no máximo, e acaba com o Tarou descendo a porrada neles e roubando a roupa do líder, chamado “Takeshi” (e fica com o nomezinho dele escrito ali no peito).

… E essa página aí em cima é do meio dessa briga.

Depois da briga, Tarou decide ir pra uma taverna (ou um bar, se preferir chamar assim, é a mesma coisa, afinal) encher a cara, e é aqui que vai começar o espetáculo.

Entrando no bar e vendo o sinal que vai motivar a briga

Estamos no capítulo 13, e ele, em português bem adaptado, tem o título “Os Capítulos dos Imbecis Escolhidos”, que é uma paródia com o subtítulo de “Dragon Quest IV”, recém-lançado naquela época e hoje lembrado no ocidente como “Dragon Quest IV: Chapters of the Chosen”, seu título em inglês (“Os Capítulos dos Escolhidos”). Se você não jogou Dragon Quest IV, no jogo passamos por vários capítulos separados no começo onde as histórias vão se converg- Pera, isso não é tão importante assim de saber, é só que tavernas são bem comuns em Dragon Quest e essa franquia já era absurdamente popular na época e o cara queria zoar um pouco com isso, nada mais! Vamos continuar…

Logo na entrada do bar, Tarou vê um cartaz de procurado com sua antiga face e uma enorme recompensa por sua cabeça (figura acima), e então, lá dentro, decide beber barris inteiros de cachaça e arrumar briga com todos os caçadores de recompensa que estão no bar (vários deles com roupas que de fato parecem ter saído de Dragon Quest IV, inclusive) em busca de um pouquinho de diversão, só porque tal qual o Son Wukong original, ele também é o caos encarnado ambulante. O que é a vida sem um pouquinho de agitação, afinal?

“Podem cair dentro, seres inferiores!!! Eu vou arrebentar vocês todos!!!”

Com um bocado de álcool já afetando seu juízo, ele então começa a tocar o terror no bar. Dá chute na cadeira de um cara, quebra a espada de outro, xinga uma galera e então sobe na mesa, e começa a provocar todo mundo dizendo que ele é o Yamada Tarou, evidentemente já caçando briga! Ok, que o pessoal demora pra acreditar nele, mas quando acreditam todos começam a pegar em armas e botar armaduras e partir pra cima dele, todos juntos ao mesmo tempo, e Tarou vence todos eles como se fosse nada… e vale dizer que depois de levar porrada todos eles ficam pelados e carecas, porque aparentemente a porrada foi tão forte que até rasgou as roupas deles, tipo como se algum personagem de “Saint Seiya” desse aqueles socos que o inimigo voa pra cima e cai de ponta-cabeça no chão… porque é EXATAMENTE o que acontece aqui!

E ainda dizem que o Kurumada não fez escola na Jump!

Depois de uma literal montanha de gente desmaiada pelada depois de levar porrada, surgem uns caçadores de recompensa gringos que estavam dormindo em quartos da taverna (?) reclamando da barulhada e xingando, e eles também decidem partir pra cima, e aí Tarou começa a brigar com eles um a um enquanto se estabaca de tanto rir igual um maníaco.

Os quatro caçadores de recompensa são:

  • Zarmuth (ou “Zarmass”, “Zaamasu”… sei lá como era pra isso ser romanizado), um feiticeiro com cabelo de rockeiro dos anos 80 e que parece ser o líder do grupo. Ele fala meio engraçado igual o Iyami de “Osomatsu-kun”, que terminava todas as frases em “-zansu” pra tentar fingir que era francês e que na frança as pessoas têm um sotaque que as faz terminar as frases falando “-ança”, de alguma forma.
  • Funga, um cara meio carrancudo com um jeitão meio “monstro de Frankenstein”. Ele não fala nada além de seu nome e grunhidos e é capaz de aumentar o seu tamanho absurdamente. É meio que o tanker ou o bárbaro do grupo, se você quiser imaginar algo assim.
  • Gance, o guerreiro do time, com um cabelinho de herói de JRPG dos anos 90, e eu espero do fundo do meu coração que o nome dele não tenha sido inspirado no “Rance”, daquela franquia de jogos que… se você conhece, sabe do que estou falando. Esse cara é esquentadinho e impulsivo e talvez o mais malandro do grupo e só vai aparecer de cueca no mangá… porque é assim que ele estava quando foi acordado com a confusão no bar.
  • Kaikai, a sacerdotisa desse time, e única mulher. Ela é gorda e meio porcalhona, e essa é uma das principais piadas em volta dessa personagem, porque afinal estamos numa comédia dos anos 90, e ela vive usando pancadas nos outros falando “DOSUKOI” igual lutador de sumô. Ela sabe usar magias de cura, mas como é enorme, pode acabar amassando seus companheiros acidentalmente se não tiver cuidado e rolar por cima de algum deles sem querer. O Gance vai gastar literalmente um capítulo inteiro tentando acordar ela da cama pra trazê-la pra ajudar na briga contra o Tarou.

Agora, o principal grupo de antagonistas do mangá foi apresentado e sem brincadeira… eles vão brigar com o Tarou por praticamente todo o resto do mangá.

Sim, é isso mesmo que você leu, essa briga de bar vai durar DEZENAS de capítulos. O Tarou entra no bar no capítulo 13 (no comecinho do volume 2), e a briga só vai oficialmente acabar de uma vez por todas no capítulo 48 (no meio do volume 5). Do 49 ao 57 o mangá para pra mostrar uma outra coisa paralela, mas vou falar disso depois, e no capítulo 58 (no volume 6, o último!) a gente vê o “epílogo” da briga no bar.

Agora vamos analisar alguns números pra termos noção do quão absurdo foi isso, se já não ficou claro o suficiente ou se você não conseguiu fazer a conta aí…

“Chinyuuki” teve um total de 64 capítulos, e ficou em publicação por um pouquinho mais de 1 ano… 1 ano e 3 meses, pra ser mais específico. O Tarou entrou no bar no capítulo 13, e a briga foi até o 48… fazendo isso ser 35 capítulos, se ignorarmos o 58, que adicionaria mais um à essa conta. Fazendo uns cálculos aqui, vemos que essa briga ocupou… 54% do mangá, e eu estou contando APENAS a briga no bar, porque se eu incluir a chegada de Tarou com o monge na cidadezinha (que acontece no capítulo 7) e os capítulos 49–57, esse percentual sobe pra 80%… porém, os últimos capítulos ainda acontecem na cidadezinha, então esse número sobe pra quase 90% do mangá se passando nessa cidadezinha. Quantos mangás que você conhece na Jump gastam 90% do seu tempo num único arco? Provavelmente não devem ser muitos, mas “Chinyuuki” fez isso.

E o que levou essa briga a durar TANTO tempo é que, provavelmente, foi justamente aqui que o Mangatarou deve ter descoberto o seu talento sobrenatural pra esticar cenas banais além do que a sanidade humana comporta, adicionando todo tipo de reviravolta cômica imaginável.

Vamos lembrar que essa foi a primeira serialização do cara, e ele provavelmente tava descobrindo os seus próprios truques ao vivo na base do improviso aqui, e ele mesmo nem esperava que isso fosse levar tantos capítulos e páginas. Eu quero até parafrasear aqui rapidinho o que ele mesmo diz na orelha do volume 3:

“Tinha pensado que conseguiria fazer esse arco da taverna durar uns 6 capítulos, mas enquanto eu desenhava, pouco a pouco comecei a ir pelas tangentes, e quando me dei conta, já era tarde demais pra terminar isso do jeito que eu tinha planejado… Que desastre. A cada dia que passa, sofro mais pensando em como posso terminar isso… À essa altura do campeonato descobri minha falta de talento. Vai ser impossível continuar levando meu trabalho de piloto de Fórmula 1 tendo que lidar com isso também!”

Eu não sei o quanto disso é relato pessoal sério ou o o quanto é piada autodepreciativa porque com o Mangatarou é difícil saber quando é sério e quando é zoeira dele, mas supondo que tenha sido sério… uau, que dó. Por outro lado, ele parece ter descoberto completamente por acidente a característica que viraria uma de suas principais piadas em seus mangás por décadas depois disso. “It’s not a bug, it’s a feature” (“Não é um erro, é um recurso”), diriam os amigos programadores!

… mas a parte de ser piloto de Fórmula 1 é sacanagem dele sim… eu acho. Era o começo dos anos 90 e os japoneses estavam fissurados no Ayrton Senna!

Em números a duração dessa briga de bar parece um absurdo, mesmo que hoje possamos ler o mangá inteiro de uma vez em seus volumes encadernados mais confortavelmente, mas vamos agora fazer um exercício de imaginação e tentar voltar no tempo com isso, lembrando que esse mangá era publicado na Shonen Jump, uma revista semanal.

Esses 35 capítulos de briga de bar significa que foram pelo menos 35 semanas corridas. “Pelo menos” porque às vezes há semanas que a Jump não sai por conta de feriados e coisas do tipo, então podemos dizer com segurança que essa confusão durou pelo menos… NOVE MESES no tempo real, pra quem lia o mangá semanalmente dentro da Jump.

Pra referência, a contagem regressiva de 5 minutos pra explosão do planeta Namek no anime de “Dragon Ball” lá no arco do Freeza, que hoje é uma piada manjada entre o público já, demorou 10 episódios… quase 3 meses de exibição semanal (o que é especialmente engraçado pelo fato de no mangá terem sido 8 capítulos, o pessoal da Toei tinha talento pra enrolar).

Ok, vamos agora pra um exemplo mais justo e comparar então com a própria luta do Goku contra o Freeza no mangá, que dura do capítulo 307 ao 327, tendo assim 21 capítulos, o que foi um pouquinho mais de 5 meses. O Mangatarou teve a pachorra de fazer essa briga de bar durar mais do que a luta do Goku contra o Freeza, um dos combates mais emblemáticos da história dos mangás de luta!

Calma, continuem comigo que eu consigo deixar isso melhor ainda!

Isso aqui tava coexistindo com Goku vs. Freeza na Jump. Essa sequência de golpes te parece familiar? Briga de bar meio supercoreografada essa, eu acho. Então continua lendo que você já vai entender…

Enquanto o pau tava comendo solto nessa exata luta em “Dragon Ball”, “Chinyuuki” TAMBÉM estava com essa mesma briga de bar rolando ao mesmo tempo. E não apenas isso, como que na edição da Jump em que o Goku chegou pra peitar o Freeza, “Chinyuuki” estava no seu capítulo 8, o que significa que Tarou tinha acabado de chegar na cidade com o monge, e um mês depois essa putaria começaria lá também!! Fica mais engraçado ainda se pensarmos que ambos começam como, a princípio, releituras de “A Jornada ao Oeste”. É uma coincidência que parece escrita nas estrelas.

Eu queria deixar isso pra próxima seção, mas agora é o melhor timing possível pra falar disso, porque há capítulos da confusão no bar em “Chinyuuki” em que rolam até paródias diretas de páginas de “Dragon Ball”, e exatamente da luta do Goku contra o Freeza! Com o texto idêntico, posições de personagens nos quadros e tudo!! (inclusive, essa que tá aí em cima também é uma delas)

Páginas de luta de “Chinyuuki” e “Dragon Ball”, lado a lado.

Tem várias, mas quero dar pelo menos só um exemplo. Como essa aqui em cima do capítulo 24 de “Chinyuuki”, que é paródia da mesma cena que há no capítulo 314 de “Dragon Ball”, onde o Freeza avança pra cima do Goku pra revidar o Kaiouken que levou na fuça dizendo “ESSA DOEU!”. A de “Chinyuuki” saiu 9 edições da Jump depois, o que significa pouco mais de 2 meses… e esqueci de mencionar, mas o Tarou avança pra cima pra revidar um chute no saco que ele levou. O que será que dói mais, um kaiouken ou um chutão no saco?

A Banpresto até fez uma figure disso pra vender!!!

Sabem o que é mais engraçado nisso tudo? É que o Mangatarou tem um controle de cenas de ação muito similar ao do Toriyama em “Dragon Ball”. E eu nem tô exagerando, a leitura visual dessas cenas é quase tão fluída quanto, quando elas aparecem. Chega a ser quase irônico o fato de que, de todos os mangás possíveis na história da Jump que foram influenciados pelas ação de “Dragon Ball”, o que chegou mais perto de conseguir um fluxo visual suave parecido foi justamente a porra do “Chinyuuki”, e NINGUÉM esperaria isso, e é o tipo de coisa que ninguém acreditaria em mim até eu mostrar as páginas do negócio em si.

Essa bofetada deu pra sentir!

Um mangá de comédia escrachadasso conseguiu fazer algo que muito mangá de ação na Jump até hoje pena pra conseguir e não acertam de um jeito tão suave assim, e isso por si só já parece uma piada desnecessariamente bem elaborada. Talvez o Mangatarou tenha conseguido e desenvolvido essa técnica até por acidente, mas cacete, é bem impressionante pensar que ele, de todos os autores possíveis, conseguiu chegar lá, e nem precisou passar tanto tempo assim depois de “Dragon Ball” porque ele já fazia isso COEXISTINDO com ele, e até no mesmo arco enquanto lançava. É muita loucura pensar nisso. Me pergunto se o Toriyama chegou a ver essas páginas na época e se ele riu lembrando dos tempos em que ele fazia “Dr. Slump”.

Ok, deixando os paralelos com “Dragon Ball” um pouco de lado e agora tentando voltar à contemplação do quão longa foi essa treta no bar em tempo real, acho que já podemos ir pra próxima seção do texto, que vai ser uma extensão dessa em que estamos.

Top-sei-lá-quantos Momentos da Briga de Bar!

Vocês gostam de vídeo de listinha de Top 10 no Youtube? Então pega essa que agora vou fazer um Top-sei-lá-quantos dos melhores momentos da Briga do Bar que acontece nesse mangá!

Mangatarou se meteu numa furada acidentalmente megalomaníaca com essa briga de bar e perdeu tanto o controle dos seus próprios personagens e acontecimentos que acabou descobrindo o talento de arrumar novas maluquices pra enrolar e esticar isso, testando os limites da sua criatividade e do que os leitores poderiam esperar. Virou praticamente um desafio pra si mesmo arrumar novas piadas pra enrolar isso de formas absurdas a cada capítulo. Ele perdeu o controle ou foi um caos calculado? Podem ser as duas coisas, em algum nível, mas prefiro acreditar na segunda opção, e a primeira levou à segunda de forma orgânica.

Eu não consigo fazer justiça à experiência sensorial que é ler “Chinyuuki” apenas descrevendo em texto, mas vou tentar compartilhar alguns dos meus momentos favoritos, em ordem cronológica, mostrando as melhores piadas e mais criatias (ou pelo menos as que eu acho mais marcantes e criativas), então vamos lá…

Acontece muita coisa, então eu não vou descrever todas as piadas porque esse texto ficaria longuíssimo, mas vou deixar na ordem em que elas acontecem e vocês preencham as lacunas entre um evento e outro mentalmente… ou leiam o mangá, se tiverem a oportunidade, seria melhor ainda!

Ah, sim, e se caso não ficou óbvio… haverão spoilers aqui.

1- Página de abertura em inglês (capítulo 18)

Ok, essa é bem simples, mas é só pra dar a ideia de que os caçadores de recompensa são estrangeiros e eles já chegam falando “GODDAMN FUCK SHIT!!” com legendas em japonês em baixo. Tarou começa a rir igual um alucinado e o Funga decide tentar esmagá-lo com uma pisada, mas é rapidamente vencido com uma cabeçada no queixo que o Tarou dá nele

2- AMIZADE, ESFORÇO E VITÓRIA (Capítulo 20)

AMIZADE! ESFORÇO! VITÓRIA!

Bom, essa não é piada de alguma cena específica, mas é um detalhe de construção de personagem que eu particularmente gosto: acho que já dá pra ver que esse mangá não dá muita bola pro clássico lema da Jump de “Amizade, Esforço e Vitória” que vários mangás famosos de sua história levam no coração… ou pelo menos o protagonista não dá a mínima pra isso. É quase como se o Son Wukong se comportasse igual o Dark Schneider de “Bastard!!”, só que sem a parte de agir como um predador sexual… apesar de que o Son Wukong do romance original ter essa vibe mesmo. Tarou é um legítimo anti-herói, e disso não dá pra ter a menor dúvida.

Por outro lado, os vilões principais desse arco são justamente os que seguem (ou pelo menos tentam) o lema de “amizade, esforço e vitória”, e eles estão claramente em posição de desvantagem contra o nosso anti-herói aparentemente indestrutível e invencível, então eles precisam se unir pra pensar em como vencer essa ameaça. E, como veremos daqui pra frente, eles vão sofrer TANTO na mão do Tarou, que você começa até a ficar com pena deles, a ponto de nos questionarmos quem é o real vilão dessa história… o que nos leva diretamente à próxima piada!

3- Tarou, o novo Freeza (capítulo 23)

Mais páginas dos dois mangás lado a lado. E tem mais de onde essas vieram.

Eu já falei ali atrás das paródias diretas com “Dragon Ball”, mas eu não podia deixar essa de fora, que é o Tarou voltando depois de mijar de tanto que riu (literalmente) pra continuar a briga com os caçadores. Os enquadros são exatamente os mesmos de “Dragon Ball”, e até o texto é idêntico. Faz até a gente se questionar se ele é realmente o herói dessa história ou o vilão, tal qual o item anterior nos fez pensar.

4- A vingança da tortura testicular (Capítulos 25)

O Tarou leva uma porrada no saco e resolve revidar… pegando o Gance e arrastando pelo chão e pisoteando o saco dele enquanto ele grita escandalosamente de dor, e a gente vê páginas e mais páginas seguidas disso. É tipo aquelas vezes em “Tom & Jerry” quando o Tom levava uma ratoeirada na mão e gritava ou algo do tipo, só que bem mais hardcore.

5- A DESTRUIÇÃO MÁGICA (capítulo 26)

Essa aqui eu só quero deixar porque a página é bem impactante, mas acontece enquanto Zarmuth está conjurando uma poderosa magia pra tentar destruir Tarou e seus amigos estão ganhando tempo o segurando e batendo nele. A página da magia sendo liberada é muito boa, e tal qual vários golpes de “Dragon Ball”, ela deixa uma cratera enorme no meio do bar por causa da explosão.

6- O Homem Unidimensional (capítulo 27)

Durante o quebra-pau em que Kaikai e Gance estão tentando segurar Tarou pra que Zarmuth possa usar sua magia aniquiladora, Kaikai acaba caindo em cima de Gance depois de dar uma bofetada aérea em Tarou (naquela página que eu postei na seção anterior)… e Gance fica esmagado no chão igual personagem de desenho animado, só que ao invés de ele voltar ao normal logo depois…. ele vai ficar desse jeito pelo resto do mangá. Eu acho a cena dele mostrando que agora tem uma dimensão a menos bem criativa, pois mostra ele virando e, logo, desaparecendo do ponto de vista do leitor e dos personagens dentro da página do mangá.

7- Encontro com “Deus” (capítulo 33 e 34)

Essa aqui provavelmente é a minha favorita.

Tarou sobrevive à magia de Zarmuth e acorda depois de alguns capítulos onde mais maluquices acontecem, e ele acorda incrivelmente puto, como é de se esperar. Os caçadores, desesperados, precisam bolar algum jeito de detê-lo ou senão eles podem morrer, e eles só possuem uma saída: usar a magia proibida suprema, que é proibida de tão perigosa que é, e se eles forem pegos usando podem ser presos e mandados pra pena de morte.

Eis então que Zarmuth simplesmente dá uma pirueta pra trás do nada sem nenhum tipo de aviso prévio, mas cai desajeitadamente, quebra o pescoço e MORRE da forma mais imbecil possível de pescoço torcido e bunda pra cima. Nas páginas seguintes (essas que tão aqui logo acima) o vemos se levantando e percebendo que estava deitado em cima das páginas do mangá e percebendo que ele morreu, e então ouve uma voz misteriosa e olha pra cima e percebe que é DEUS… ou melhor, o autor do mangá, o próprio Mangatarou!

Mangatarou então diz que fez Zarmuth se matar desse jeito imbecil porque precisava falar diretamente com ele porque ele já está de saco cheio que ele não consegue fazer a história do mangá avançar (lembremos que já se passaram uns 20 capítulos desde que o Tarou entrou no bar), e resolve dar uma mãozinha pra ver se isso resolve, e lembra a Zarmuth que eles podem sim usar a tal magia proibida… contanto que tenham permissão da polícia pra isso em situações extremas. Depois de passar o recado, Mangatarou dá um tapão em Zarmuth na sua mesa o esmagando pra de volta pras páginas do mangá pra revivê-lo pensando “vai lá e me ajuda acabar com essa merda dessa história de uma vez!”

Zarmuth volta à vida e seus amigos gritam em profundo horror vendo que o defunto reviveu, e ele grita mais ainda vendo que Tarou tá chegando a passos sólidos pra merendar eles de porrada, e todo mundo grita em uníssono, até que Tarou tropeça e sai escorregando escada abaixo gritando também, e aí acaba o capítulo em gritaria total.

AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHH!!!

Ah, e eu ainda não mencionei que o capítulo 34 saiu numa Jump em que “Chinyuuki” foi a capa, mas não foi apenas isso, porque o Tarou está na capa junto com o ARNOLD SCHWARZENEGGER, pra uma divulgação do filme “Kindergarten Cop” (“Um Tira no Jardim de Infância”, aqui no Brasil), que estava sendo lançado no Japão naquela época.

A Capa da Jump onde saiu esse capítulo

8- Uma súplica desesperada de Mangatarou (orelha do volume 4)

Esse pobre homem não aguenta mais…

Similar àquela que eu parafraseei lá atrás, agora tem outra. Eu não vou comentar muito, mas vou deixar o próprio autor falar aqui…

“Puta que pariu! Não importa mais nada do que digam! Eu já fiz o melhor que eu pude, sabe? Já tentei acabar esse arco de tudo quanto é jeito, até me enfiei dentro do mangá! Mas eu ainda não consegui… Os personagens não dão a mínima pro que eu digo e não me obedecem mais! Eu não aguento mais, sério, me rendo…”

Dá até dó… e a capa do volume 4 parece ser uma própria autocaricatura do Mangatarou, aliás.

9- “O Iluminado” (capítulo 37)

“Seus gringos de merda, eu vou acabar com a raça de vocês…..”

Os caçadores de recompensa se escondem numa sala e botam várias barricadas na porta pra que Tarou não entre. Zarmuth conta aos seus amigos o que Deu- digo, o autor do mangá disse pra eles e então Gance decide aproveitar que agora é tão leve e fino quanto papel pra sair voando pela janela pra pedir permissão pra polícia na delegacia mais próxima pra usarem a magia.

Mas Tarou aparece logo depois já quebrando a porta e eu só queria chamar a atenção disso porque acho a cena visualmente bem-feita e mostra como Mangatarou é genuinamente um bom ilustrador e seus desenhos são bem expressivos.

E então começa (mais) uma batalha pra ganharem tempo enquanto Gance vai e volta da delegacia, e Kaikai é rapidamente derrotada, sendo arremessada pra bem longe de cada no chão, agora só sobrou o coitado do Zarmuth, que vai ter que fugir dele como se estivesse num filme slasher fugindo do assassino.

Olha o que ele tem que enfrentar agora…

A perseguição toda do Tarou atrás do Zarmuth sozinha já renderia mais um item na lista, mas não tenho muito o que dizer porque os desenhos falam por si só.

10- Funga Oozaru! (capítulo 40)

Funga acordou, e não apenas isso como ele virou um macaco gigante, no melhor estilo Oozaru em “Dragon Ball”, e agora tem um macaco gigante dentro do bar que vai destruir tudo em sua frente, sem diferenciar amigo e inimigo, e ele arremessa o Tarou pra algumas centenas de metros dali, e ele vai parar numa praça com uma fonte enorme em forma de cabeça… cabeça essa que inclusive lembra bastante a autocaricatura do Mangatarou.

Tarou tá muito puto, pra variar, e arranca esse chafariz enorme do chão e sai levando na mão correndo de volta até o bar, onde ele já entra quebrando tudo e enfiando essa cabeça de pedra na cabeça do Funga transformado como se fosse um capacete.

Honestamente, tem mangá de ação que sonha em ter uma cena tão visualmente fluída como essa

11- Tarou contra os aliens (Capítulo 43)

Funga dá um tapão em Tarou, que sai voando de novo, mas dessa vez pra cima, e ele vai parar num disco voador. Não demora muito pra Tarou arrumar confusão lá dentro e começar a quebrar tudo e espancar os pobres alienígenas, derrubando o disco voador no processo, e agora ele caiu no meio das montanhas, exatamente na plantação do casal de velhinhos que o criou, lá do começo do mangá, e precisa voltar pra cidade pra continuar a briga no bar, e sai dali correndo uma maratona até lá.

12- Funga se livra do chafariz e… acaba virando um chafariz (capítulo 43)

Ainda com o chafariz agarrado em sua cabeça como se fosse um capacete apertado, Funga tenta tirar o troço enorme de pedra da sua cabeça… mas acaba arrancando a sua própria cabeça no processo e virando um chafariz de sangue ele próprio, enquanto Zarmuth (agora pelado e sem cabelo, de tanto estresse) testemunha a cena totalmente incrédulo.

Não tenho mais nada a dizer, a imagem e a descrição já falam por si só.

13- Gance volta e dá de cara com O HORROR (capítulo 45)

Eu tinha até esquecido que o Gance saiu do bar… bom, ele foi pra polícia e não conseguiu pedir permissão porque acabou acordando o policial que estava dormindo, e saiu de fininho antes que fosse visto, achando que não era lá uma hora muito boa pra pedir permissão pra usar uma magia proibida, inventando que a permissão foi dada pra eles usarem essa merda e acabarem logo com isso de uma vez, mas ao chegar, ele é recepcionado por Zarmuth, agora pelado, careca, todo enrugado e coberto de sangue, e Gance grita em desespero e foge voando pela janela do bar e… nunca mais é visto.

14- O Fim de Zarmuth (capítulo 46)

Quem não odeia quando vai pra uma delegacia e acaba derrubando um oficial com um lariat sem querer?

Zarmuth cai pela janela tentando alcançar Gance, e decide usar suas últimas forças pra ir até a delegacia pedir permissão pra usar a magia, e já chega batendo no policial em pleno desespero e aos gritos.

O policial acorda de novo e vê aquilo dizendo “Ah, então foi você que me acordou aquela hora, é?” e joga Zarmuth numa cela preso antes que diga qualquer coisa, e a última página que vemos é ele deitado de barriga pra cima todo mijado dentro de uma cela.

Pensa num cara que se deu mal…

Um fim tão deprimente pra ele que na página seguinte somos mostrados a supostas cartas de leitores que acharam que o Mangatarou foi longe demais… essas cartas são reais ou são invenção do autor? Sei lá, fica o mistério.

15- Taro volta e percebe que venceu, e o fim (capítulo 48… e 58)

De volta ao lugar da briga, pra…

Tarou finalmente consegue voltar pro bar, e vê tudo quebrado e vazio, com apenas o enorme corpo do Funga autodecapitado no chão, e então percebe que foi o vencedor dessa briga, 35 capítulos depois de entrar no bar. Ele então se escangalha de tanto rir, pede mais um barril de cachaça pro pobre do Barman, que estava escondido em puro terror durante essa briga, e decide usar uma espada perdida que estava por ali pra “barbear” Funga e deixá-lo igual à sua antiga forma, que estava no cartaz de procurado que ele viu assim que entrou no bar.

Chegando pra pedir a recompensa

E então, Tarou leva a cabeça gigante pra delegacia e consegue a recompensa, e num de seus raríssimos gestos de bondade, dá uma boa parte do dinheiro pro barman pra compensar a baguncinha que ele fez no bar…. assim acabando a absurda batalha no bar.

BÔNUS- A Página colorida pro aniversário de 1 ano da série (capítulo 49)

Não tem nada de (muito) absurdo acontecendo aqui, eu só queria propor que façamos novamente um exercício de imaginação pra mentalizar a situação onde alguém comprou a nova Jump, que tem “Chinyuuki” na capa e… dar de cara com essa página aí cima assim que abre a revista.

É o Tarou simplesmente sendo jogado pra cima pelos outros protagonistas das séries que estavam circulando na Jump naquela época. Imagino que alguns desses personagens já devem ser facilmente reconhecíveis pra vocês, mas vou listar todos os mangás de onde eles vêm, em sentido horário começando pelo Goku e pelo Jotaro ali:

“Dragon Ball”, “Jojo’s Bizarre Adventure”, “Slam Dunk”, “Kochikame”, “City Hunter” (que chegaria ao final duas edições depois), “Video Girl Ai”, “Jungle no Ouja Tar-chan”, “Time Walker Zero” (que estava tendo seu capítulo final publicado nessa edição), “Tengai-kun no Kareinaru Nayami”, “Yu Yu Hakusho”, “Ten Yori Takaku”, “Dragon Quest: Dai no Daibouken”, “Hana no Keiji”, “Libero no Takeda”, “Pennant Race: Yamada Taichi no Kiseki” e “Magical Taruruuto-kun”.

… ah, sim, o carro de Fórmula 1 ali é de “F no Senkou: Ayrton Senna no Chousen”. Sim, isso mesmo, era um mangá de Fórmula 1 sobre o Ayrton Senna!

Só isso mesmo, eu acho.

…. Ufa, acho que deu pra resumir a briga bar e listar os pontos altos, né? E olha que eu ainda tive que pular muita coisa, mas no fim consegui fazer isso virar um top 15. Eu gosto de números múltiplos de 5! Muito bom, muito bom. Agora que vocês já sentiram um gostinho do que foi isso, tá na hora de caminhar pra próxima seção e finalmente começar a encerrar isso aqui…

O que aconteceu depois?

Bom, eu não vou entrar em muitos detalhes sobre o que acontece no que sobrou desse mangá, mas pra tentar resumir.

Aqueles capítulos 49–57 mostram aqueles moleques de quem o Tarou roubou a roupa lá no começo sendo pegos pela velha dona da livraria que eles roubaram. Aqui vemos mais demonstrações de “Amizade, Esforço e Vitória” pois os garotos precisam unir forças se quiserem sobreviver à ferocidade da velha enrugada que tá doida pra enchê-los de porrada, e serão múltiplos capítulos dessa confusão, e muitas páginas como essa que você tá vendo aí em cima.

Depois, vemos que o monge Genjou até se esqueceu da existência do Tarou, de tanto tempo que já se passou na serialização e essas dezenas de capítulos, sendo que esse tempo todo ele ficou curando gente dentro do restaurante de ramen do cara da suvaqueira. Ele está até cansado já, mas coisas acontecem e ele recupera o macaco merdeiro

Tarou tentando matar o monge Genjou enquanto ele dormia só que falhando descobrindo que usou uma faca de borracha, que ele não sabia que era de borracha.

E aí, os 5 capítulos que restam são uma longa noite que começa com Tarou tentando matar Genjou enquanto ele dorme, mas acaba se envolvendo em uma briga com um bêbado que tava fazendo barulho vomitando ali em frente na rua, e no capítulo final, o dia amanhece depois demais essa última baderna e os jornais da cidade noticiam a suposta morte de Yamada Tarou, já que sua cabeça foi aparentemente entregue na delegacia no dia anterior… mas vocês leram aquilo ali na seção anterior e já entenderam como isso aconteceu, e então todos na cidaezinha viverão felizes para sempre

O mangá literalmente passa a ter uma sequência onde os créditos vão subindo por algumas páginas como se fosse um filme, mostrando Genjou e Tarou indo embora com a Índia finalmente à vista.

“FIM”…?

E na página final vemos o que aconteceu com os caçadores de recompensa depois disso tudo: Gance tá voando por aí sem rumo depois de ter sido pego numa tempestade, Zarmuth fugiu da cela onde foi preso e agora tem uma recompensa sobre sua cabeça, Kaikai perdeu a memória e virou dançarinha do barzinho, e o Funga foi empalhado e virou atração do bar.

… FIM! E é assim que “Chinyuuki” acaba.

E esse é o leitor puto, que acabou de terminar o mangá e tá indo caçar o autor na casa dele.

… Pelo menos na Jump, porque a versão encadernada ainda tem mais umas páginas onde tem um leitor muito puto (que apareceu em outros extras dos volumes anteriores xingando, além de ser quem está na capa do volume 5) com o Mangatarou por ter terminado o mangá “em aberto” assim e indo atrás da casa dele, que é um barracão de palha no meio da cidade, que está sendo desmontado pela prefeitura, e aí procura ele por toda a cidade, até ver o pôr do sol e ficar triste, perguntando “MANGATAROU, ONDE VOCÊ ESTÁ!?” enquanto chora… e no último quadro, vemos o suposto mangatarou dormindo embaixo da ponte reclamando da gritaria.

“Cadê esse feladaputa?… Gatarou… Gatarou? GATAROOOOOU! SEU IMBECIL, PRA ONDE VOCÊ FOI!?”

… Agora sim, é isso!

A entrada de “Chinyuuki” pro Hall da Fama na Jump

Bom, passada a história, acho que podemos falar que “Chinyuuki” foi um sucesso, mesmo sendo bem mais curto do que a média dos sucessos da Jump, e com esse final que pra mangás normais dariam cara de “final de mangá cancelado”. A série foi capa da Jump 5 vezes, fora mais algumas outras ocasiões em que recebia páginas coloridas e tinha boas posições no ranking de popularidade da revista, mas o mais impressionante é que a série vendia MUITO bem e seus 6 volumes venderam impressionantes mais de 4 milhões de cópias, o que significa que vendia pelo menos umas 650 mil cópias por volume, e isso é um número muito mais alto do que a média que mangás de sucesso ok conseguem alcançar, mesmo naquela época.

Mas, apesar desses números, por incrível que pareça, “Chinyuuki” FOI CANCELADO, e o mais impressionante é que não foi nem pelas vendas e pela popularidade, que eram muito boas, mas sim porque a Shueisha, a editora da Jump, recebia toneladas de reclamações de pais que odiavam que seus filhos estivessem lendo esse “lixo” e consideravam inapropriado pra crianças e adolescentes, que, querendo ou não, eram o principal público-alvo da maioria dos mangás que saem na revista, e aparentemente a pressão foi tanta que tiveram que descontinuar a série por causa do conteúdo violento e chucro, às vezes escatológico.

Eu postei um link disso lá atrás, mas caso não tenha visto, tô deixando bem visível aqui mesmo porque eu quero que vocês vejam: a figure do Tarou imitando a cabeçada do Freeza

Pelo menos, essa é a história que já li sobre, pesquisando por aí, mas me parece crível o bastante porque no Ocidente, nessa mesma época, “Ren & Stimpy” tava causando problemas similares por motivos bem parecidos, e mesmo assi foim um dos desenhos americanos mais populares dos anos 90. Se a série ter sido cancelada for verdade, sabe-se lá onde isso teria ido parar se não tivessem puxado o freio do Mangatarou…

Por outro lado, lendo outros mangás dele que foram publicados depois, não me pareceria estranho se ele mesmo tivesse decidido acabar a série onde acabou, porque as séries dele não costumam ser muito longas e não é raro terminarem com finais desse tipo sem qualquer preocupação com “resolver pontas soltas”… afinal, você não está lendo Mangatarou esperando uma história que vai ser fechadinha e contada de maneiras convencionais, né? Enfim, acho que fica o mistério aí se foi cancelado ou não.

Porém, apesar da passagem curta pela Jump, a série foi um sucesso e memorável o bastante pra render um spin-off curto na própria Jump, em 1994, chamado “Manyuuki: Baba to Aware na Geboku-tachi” (“Manyuuki: A Velha e seus Patéticos Servos”, em tradução), que é tão caótico quanto, mas nada relacionado ao “Chinyuuki”, diretamente, apesar do nome parecido. Essa seria sua última passagem pela Shonen Jump, e então ele publicaria outras séries que já foram citadas lá atrás em vários outros lugares, até que em 2009 ele aparece com “Chinyuuki 2: Yume no Inzei Seikatsu-hen” (“Chinyuuki 2: A Saga da Vida de Realeza dos Sonhos”), que foi publicado na Business Jump, uma das revistas adultas da Shueisha (e que atualmente não existe mais e foi transformada, junto com a Super Jump, na Grand Jump).

As capas de “Chinyuuki 2”

Aliás, uma curiosidade inusitada e pouco divulgada é que o Oda Eiichirou, de “One Piece”, foi assistente do Mangatarou! Mais especificamente, o Oda ajudou no primeiro capítulo do “Manyuuki”. Então talvez o Oda seja uma das poucas pessoas que existem que saibam algo sobre o mistério da verdadeira identidade do Mangatarou? Vai saber, mas hoje em dia é bem sabido que existe um desenho dele que é uma paródia de “One Piece”

Abertura do primeiro capítulo de “Manyuuki”. Será que o Oda fez alguma coisa nesse desenho?

Fora isso, “Chinyuuki” foi publicado em outros formatos também dos mais variados, incluindo um kanzenban, que é um dos formatos mais luxuosos, além de ter recebido uma adaptação animada em Flash pra homevideo em 2009, e o filme live-action em 2016.

O filme live-action

A série é totalmente desconhecida fora do Japão, mas o Ocidente teve um pequeno contato com ela através do jogo “J-Stars Victory VS”, que foi lançado em 2014 pra PS3, PS4 e PSVita, onde Tarou foi um dos personagens jogáveis… o que provavelmente frustrou alguns jogadores ocidentais que provavelmente preferiam ver um personagem que eles conhecessem, ao invés desse “barrigudinho careca pelado aleatório de cara besta de um mangá que ninguém liga”, como alguns podem ter descrito. Pois saibam que esse mangá é bem maior do que vocês pensam e esse texto aqui prova isso, tá!!!

O Tarou no ”J-Stars Victory VS”. Reconhece esse troço aí na cabeça do Ichigo do “Bleach”?

Pra fechar…

Ok, mostrei aqui que esse foi um mangá notável na história da Jump e o artista é mais notável ainda na indústria e bem único, mas… onde que se lê esse negócio aí?

É aí que vem a parte onde eu lamentavelmente digo que não existem traduções completas desse mangá… pelo menos em português ou inglês, que acho que são as línguas em que o pessoal mais costuma ler por aqui, mas surpreendentemente, existem scans em espanhol da série toda, feitas pelo pessoal dum grupo chamado Nikuman Tabetai. Essas mesmas scans podem ser facilmente achadas no Mangadex também e existe uma versão em inglês sendo feita, bem aos poucos. Imagino que espanhol não seja uma língua lá muito cômoda pra se ler pra alguns (pra mim mesmo não é, apesar de eu entender espanhol bem. Acho inglês bem mais suave, por exemplo), mas é uma opção por agora.

A real é que a parada triste de tentar ler Mangatarou é que pouquíssimos de seus trabalhos possuem qualquer tradução, mas isso só começou a mudar recentemente, então quem sabe no futuro tenhamos mais traduções de outras coisas. Ao menos o “Chinyuuki”, que é provavelmente o mangá mais conhecido dele (ou um dos mais, pelo menos) tem alguma tradução razoavelmente acessível pra quem quiser conhecer.

Mas apesar disso, optei em ilustrar esse texto todinho com as páginas em japonês mesmo porque quero testar o poder de comunicação visual do Mangatarou com vocês e espero ter sido bem sucedido nisso.

E se você não era familiarizado com o trabalho dele até ler isso aqui: “Seja bem-vindo ao mundo de degeneração”, como diria ele próprio nas aberturas dos volumes de “Chinyuuki”.

PARABÉNS POR TER LIDO ATÉ AQUI!!!

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Nintakun

Aspirante a piadista de meia-tigela e nas horas vagas entusiasta de videogame, quadrinhos, e iguarias nipônicas num geral (principalmente mangá/anime/tokusatsu)