Nuuk, Capital da Groelândia, no outono deste ano.

Dinamarca e Groelândia param na entrada da primavera

O novo coronavirus provoca que culturas de outros continentes adotem o mesmo hábito: ficar em casa

Sílvia Marcuzzo
5 min readMar 23, 2020

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E na sequência de países que estão sofrendo a tal coronacrise, hoje é a vez da Dinamarca e da Groelândia. Só pra lembrar, há também posts sobre a Itália e a China e sobre a Alemanha. (Clique em cima dos países que vai direto pro texto). Sigo mostrando outros lados de gente que foi obrigada a alterar a sua rotina — assim como nós — só que está há mais tempo nessa lida. Escrever esses textos também tem servido para dar uma desopilada, pois acompanhar as notícias do Brasil com relação ao supervirus tem sido algo indigesto, pra ser um pouco polida.

Hoje vou tratar sobre o que estão fazendo alguns amigos que conheci na The Internacional Peoples College (IPC), em ELsingor, na Dinamarca. Ainda não consegui voltar lá, pois a única e última vez que estive pelas terras dos vikings foi em 1996. É muito interessante conhecer e compreender as necessidades de cantos diferentes do planeta para ampliar horizontes e descobrir que tudo é uma questão de cultura, mas que no fundo, somos todos iguais.

Agora é outono, por isso, tem pouca neve. Á direita, um ponto turístico que está vazio, uma escultura da “Mãe do Mar” e ao lado, um esqueleto de caiaque. As fotos são do uaannguaq.
Ele me enviou esta foto pouco antes de correr pra se exercitar.

Este que está ao lado é o Juaannguaq Broberg, morador da Groelândia. Temos uma história curiosa que aconteceu no IPC. Estava eu folhando um livro sobre espécies de baleias em uma área comum da escola. Eis que chega o Juaannguaq , desprentensiosamente, aponta com o dedo e revela: já comi essa, já comi essa, já comi aquela... E eu fiquei indignada. Nossa, onde já se viu comer carne de baleia? indaguei na hora. E ele tranquilamente me falou que isso era comum na sua terra e que era difícil ter acesso a outros tipos de carne, além de peixe, é claro.

Esses dias, quando conversei com ele pelo Messenger, perguntei se continuava comendo carne de baleia. Ele disse que sim, só que há muito mais restrições e controle sobre o abate desses grandes mamíferos do que naquele tempo. Juaannguaq (pronuncia-se Ianguá em português) é gerente operacional de aeroportos na Groenlândia, uma região autônoma do Reino da Dinamarca. Ele mora na capital Nuuk, com cerca de 18.500 habitantes, sendo que o total de moradores da maior ilha do mundo é de 57 mil pessoas. Ou seja, toda população da Groelândia cabe no Maracanã e ainda sobra espaço.

O amigo groelandês conta que a população da ilha também está em casa. Vale lembrar que eles já são obrigados a ficar resguardados nos meses de inverno. Na Groelândia, segundo ele, foram feitos 83 testes e houve dois casos confirmados. A quarentena começou na capital da ilha no dia 16, segunda, e no sábado, 21, se estendeu para o restante do território. À meia-noite, é proibido fazer qualquer tipo de viagem entre algumas áreas estabelecidas. “Estamos evitando todas as formas para que o vírus não se espalhe”, explica. Na Dinamarca, até 23 de março, foram confirmados 1450 casos com 24 mortes, segundo o portal worldometers.info.

Paisagem da Groelândia no último verão. O efeito do agravamento do aquecimento global é visível, mas tem gente que está gostando que a temperatura esteja ficando mais amena por lá.

Tive o privilégio de estudar por mais de quatro meses no IPC, uma escola incrível que fica no Norte, a mais ou menos uma hora de Copenhagem. O IPC foi fundado depois da primeira guerra mundial para difundir a paz entre os povos. Já naquela época venho exercitando o diálogo e as conversas com pessoas que pensam diferente de nós, algo tão importante nos últimos tempos, principalmente no Brasil.

Um dos professores mais queridos do IPC, Garba Gialo, natural da Mauritânia, deu aulas nas disciplinas Desenvolvimento Sustentável, Estudos sobre a África e Oriente Médio, hoje coordena uma organização que difunde o diálogo e ações humanitárias em vários países, a Crossing Borders, em Copenhagen. De sua casa, ele me escreveu que o governo dinamarquês foi o primeiro do mundo a fechar as fronteiras do país. Dias atrás, ele me enviou sua interpretação do contexto:

“Parece que eles acham que o vírus é um refugiado e imigrante “ilegal” da África e do Oriente Médio. Segundo o diretor da agência de saúde pública, a decisão foi pura e política e não foi recomendada pelas autoridades de saúde. Desde 12 de março, estamos trabalhando em casa, todas as escolas, reuniões públicas, eventos esportivos e culturais foram cancelados. Desde o dia 19 de março os supermercados estão fechados e não mais de 10 pessoas podem se reunir. Na leitura de acrobacias políticas, espero que as pessoas no poder aprendam com essa experiência e ajam de acordo com o mundo real, em que tudo está conectado, interdependente e no mesmo barco.”

Garba hoje é diretor global da Crossing Borders (vale muito conhecer a organização que conta com uma rede em vários países, clique pra conferir).

Confira os textos que ele escreveu sobre o como aproveitar a limitações que o coronavirus impôs para transformá-las em oportunidades. “Como podemos transformar a situação em que estamos em algo significativo? Como podemos aproveitar o tempo extra para refletir profundamente sobre o que o coronavisrus está realmente nos ensinando?

Vale muito investir o seu tempo nessa leitura. Se você navega pelo Crome, automaticamente vai aparecer a opção se deseja traduzir este site. Mas se você usa outro navegador, entra no Google, procura pelo tradutor, que ele deixa seu texto em português apenas com um Crlt c e Crtl v).

Situação no Brasil no dia em que postei este texto

Só pra contextualizar, neste momento, dia 23 de março, os números oficiais no Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde com relação ao Covid-19 são: 1.891 casos e 34 mortes, nos estados do Rio de Janeiro e São Paulo. No site do G1, especial sobre o novo coronavírus no Brasil, clique aqui, aponta que Porto Alegre tem 41 casos. Só gostaria de lembrar, que nem todos os infectados notificam a doença, pois quem fica em casa esperando os sintomas passarem e não avisa a Secretaria da Saúde, não entram nas estatísticas. Por tudo isso. #fiqueemcasa

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Sílvia Marcuzzo

jornalista de formação e consultora socioambiental para realização de um mundo melhor, mais sustentável.