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O convento não era pra mim

Adriana Czelusniak
2 min readMay 29, 2016

Nascida em uma família católica, lembro que ainda pequena ouvia sobre pessoas que tinham vivido histórias grandiosas, de doação à comunidade, de muita fé, repletas de milagres. Lá no fundo, além de admiração, confesso que tinha um medo terrível. Ao ouvir que aquelas pessoas haviam recebido um “chamado de Deus” e partido para seguir a vida religiosa, eu não deixava de me perguntar: “E se qualquer hora Jesus me fizer um chamado desses?” Não me via na vida de privações de um convento…

“Será que, se Jesus vier, posso deixar de ouvir ou tenho de obedecer?” A ideia de recusar um pedido daquele que morreu na cruz era arrepiante. O tempo passou e nenhuma nuvenzinha com mensagem celestial parou por esses ares.

Dr Alaor Brenner, pai do meu ortodontista, era quem atendia os pacientes com síndrome de down. Referência em inclusão há muitos e muitos anos.

Anos depois é que fui perceber que havia, sim, recebido uma missão. Só não era um chamado aos moldes de alguma daquelas parábolas. Aos 12 anos, enquanto esperava pelo atendimento na recepção do consultório do meu ortodontista, uma voz se confundiu com a do meu próprio pensamento. Assim que me percebi rodeada de três ou quatro crianças com síndrome de down (o local era referência para pacientes “especiais”, termo da época), veio aquela uma voz doce e reconfortante, mas assertiva e direta: “Você vai ter um filho especial, e vai se sair bem, vai ficar tudo bem!”

Se era eu que estava viajando ou se realmente aquele era um recado para o futuro, não fazia a menor ideia. Foi quando engravidei de meu único filho, 12 anos depois, que a cena voltou à minha cabeça. O exame para síndrome de down deu negativo, um alívio. “A voz deve ter sido um engano”, pensei. Bastaram poucos anos para que caísse a ficha. Minha missão já tinha sido dada, só não era tão óbvia. O que meu filho trazia de “especial” não estaria estampado em seu rosto. E nem era tão conhecido e divulgado como a síndrome de down. Foram algumas idas e vindas em médicos e terapeutas para confirmar o transtorno do espectro autista (TEA). E assim começou minha trajetória azul.

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Sobre o jornalismo e o autismo: https://medium.com/@adrianacz/carreira-bcc4f6e807f8#.qchyisiib

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Adriana Czelusniak

Jornalista, documentarista e ativista dos direitos das pessoas com deficiência, especializada em Educação, Autismo e em Gestão da Comunicação.