Inclusão cultural

Do isolamento à plateia — É mais do que um direito à vida social, à cultura e ao lazer

Adriana Czelusniak
3 min readJun 30, 2016

É lei! Toda criança e adolescente tem o Direito à Educação, à Cultura, ao Esporte e ao Lazer, direitos esses que têm como eixo central o desenvolvimento pessoal e social de cada um. Crianças com deficiência (sobretudo intelectual ou autismo) estariam à parte disso?

Na teoria não, mas na prática o que vemos, por uma série de motivos, são crianças crescendo sem ter acesso a uma sala de cinema, sala de espetáculo, apresentação de música. Enclausuradas em casa.

E aí a reflexão — O que viria antes: a falta de habilidade em viver socialmente que impede que a criança possa frequentar esses espaços? Ou a falta de experiências em espaços públicos e culturais levam à dificuldade em conviver e entender relações e convenções sociais ?

“A Adriana gasta muito dinheiro com lazer”, certa vez fiquei sabendo que entre a família circulava esse comentário. Isso porque durante a infância do meu filho Gabriel, hoje com 11 anos, todo fim de semana era oportunidade par frequentar parque, circo, teatro, museu, zoológico, cinema, feira e o que mais surgisse de interessante (parentes sempre querem achar o que falar uns dos outros, mas tudo bem, valeu cada centavo).

Sabemos hoje que experiências de lazer e culturais estimulam as conexões neurais, essas experiências positivas têm impacto sobre nossas capacidades cognitivas e de memória. Mais do que um direito, é fundamental que as crianças tenham acesso a situações de descoberta do mundo, dos próprios sentidos, dos outros que estão à sua volta. Imagine o quão valioso isso é para uma criança como o Gabriel, diagnosticado dentro do Transtorno do Espetro Autista.

Além de reforçar o meu vínculo com ele, todos esses passeios faziam com que ele fosse estimulado. Passeios estimulam a afetividade, as percepções, a expressão, o raciocínio, a criatividade e ainda são excelentes oportunidades para transmitir valores como respeito a regras e limites, além de obviamente favorecer a conivência social e aumentar o repertório de vivências.

A partir de minha experiência pessoal, e inspirada em um programa voltado ao Alzheimer que conheci na Suécia, criei o projeto Cine Uppa, que leva crianças com autismo à salas de cinema adaptadas a elas — com salas menos escuras e som mais baixo, além de liberdade para conversarem ou andarem pela sala, se desejarem. Tem dado tão certo que o evento tem sido replicado em diversas cidades do Brasil. Aqui, abordei esse tema em vídeo para o 3º Simpósio Regional de Autismo, que aconteceu em junho de 2016, em Curitiba. Confira: http://institutoninhoazul.info/2016/06/22/lazer-e-inclusao/

Leia mais:

Sobre produções audiovisuais: https://medium.com/@adrianacz/audiovisual-1fcbf96d76e8#.5azdxp2qe

Sobre o jornalismo e o autismo: https://medium.com/@adrianacz/carreira-bcc4f6e807f8#.qchyisiib

Sobre como nasce uma ativista: https://medium.com/@adrianacz/in%C3%ADcio-538ecbcf2577#.upj7wfhib

Para apoiar:

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Adriana Czelusniak

Jornalista, documentarista e ativista dos direitos das pessoas com deficiência, especializada em Educação, Autismo e em Gestão da Comunicação.