Ceia Online. Montagem da “Última Ceia” (DaVinci) de autor desconhecido, aplicada em foto de Alex Knight por Dalmer Ordontis.

Como celebraremos a Eucaristia em tempos de pandemia? | Introdução

André Pereira
5 min readApr 4, 2020

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Este é o primeiro de um conjunto de textos. Como introdução, quero [1] esclarecer o tom com que escrevo, [2] agradecer colaborações até aqui e [3] apresentar a estrutura do conjunto.

Como um todo, o conjunto tem lado fácil e um lado difícil em escrever.

O lado difícil envolve o assunto ser polêmico — você talvez tenha presenciado e participado de discussões acaloradas em alguns círculos. Mas mesmo um assunto polêmico pode ter conversas no tom da caridade, visando a edificação até mesmo das opiniões contrárias. A Eucaristia é um Sacramento. Me alegra vê-la sendo tratada com seriedade! Que os textos e discussões produzidos nos ajudem a ter cada vez mais admiração ao participar dela, seja agora ou seja depois!

O lado fácil envolve o tom de diálogo que quero propor. Minha idéia aqui não é impor que todas as igrejas devam realizar a Eucaristia neste tempo, nem tampouco dizer que você está em pecado se não o fizer, ou não participar.

Expresso em um texto público o caminho que, até o momento, percorri nesta pergunta “Devemos ou não celebrar a Ceia online?”. Podemos participar, conectados virtualmente e cada um tomando dos elementos em sua própria casa? De início, estive inclinado a responder que não, não poderíamos celebrar a Ceia online, especialmente pelas questões físicas, materiais, presenciais. Explicarei meus questionamentos nesta direção no decorrer do conjunto de textos.

Até que a situação deixou de ser “abstrata” e passou a ser bem real: o conselho de nossa igreja começou a avaliar se faríamos ou não. Na ocasião, expliquei meus argumentos contrários e ouvi alguns dos contra-argumentos. Então, depois disto, conversei longamente com um amigo que tem mais bagagem em Teologia do Culto do que eu, além de pastores mais experientes que eu que admiro e celebraram a Ceia Online e sua igreja. É mais este “diálogo” entre os dois lados da ideia que publicarei aqui, na forma que ele se encontra em minha cabeça. Não apresento estas ideias como norma. Apresento a conversa e a possibilidade, especialmente para comunidades reformadas. Se quiser interagir de maneira respeitosa, com questionamentos, artigos e outras contribuições construtivas, você é bem-vindo.

Escrevo como ministro presbiteriano (IPB) dentro de uma tradição reformada, mas pontuo que admiro e busco conhecer e crescer com outras tradições. Se você ainda não leu, recomendo o Reformado (“Evangelical”), Sacramental e Pentecostal: porque a igreja deve ser os três, do Gordon T. Smith (em inglês), para enriquecer este diálogo.

Inicialmente, estava contrário à possibilidade da celebração e participação da Ceia Online, especialmente pela materialidade dos meios e da comunidade reunida presencialmente. Continuo valorizando ambos, embora agora esteja aberto a possibilidade.

Algumas conversas foram de grande valia para chegar na posição atual. Agradeço aos pastores mais experientes Carlinhos Veiga, Thiago Thomé e Ricardo Barbosa que me ouviram e deram suas percepções. Agradeço ao amigo Daniel Vieira, com muito mais experiência em Teologia do Culto do que eu, por ter conversado comigo sobre diferentes abordagens sobre o culto e a Ceia. Agredeço as interações com amigos do seminário Ítalo Reis, Tassyo Almeida e Rapha Delfino (Rotondos!), e com Lucas Cancella e Rafael Salvatti. O amigo/irmão de Dalmer Ordontis também me questionou e fez o favor de montar a imagem de capa. Outros pastores e amigos pediram para não serem citados, mas no coração estão aqui. Não entenda minha opinião como a deles, e eventuais erros são todos de responsabilidade minha.

Dois textos contrários que apareceram em grupos que participo foram: Devemos celebrar a Ceia do Senhor Online? (Scott Swain, traduzido pelo Guilherme Cordeiro) e Ceia virtual On-line? Como a exegese pode ajudar? (João Paulo Thomaz de Aquino, professor de grego e NT no CPAJ). Ambos contam com contribuições importantes e merecem sua leitura! Farei referência à eles no momento adequado.

O conjuntos dos textos pretende ter a seguinte estrutura, ao fim:

COMO CELEBRAREMOS A CEIA EM TEMPOS DE PANDEMIA?

Celebraremos a Ceia… [1] COM O DESEJO ARDENTE DE ESTARMOS PRESENCIALMENTE REUNIDOS

Esta primeira parte trata do aspecto presencial da reunião solene da Ekklesia. Lida com a objeção de que somente através da reunião física podemos constituir e participar da assembléia. Contra estas objeções, defende que é possível a participação online do culto e da ceia, embora tenhamos prejuízos em relação ao presencial. São argumentos nesta direção:

[1.1] Mesmo a presença física não garante a participação adequada do culto ou da Ceia;

[1.2] Paulo fala sobre estar presente em Espírito, participando do momento da Ekklesia “remotamente”. Fala também de estar unidos em Espírito como uma realidade da igreja.

[1.3] Talvez possamos pensar em uma “gradação” [?]: [1] Banquete do cordeiro (Jesus e a igreja reunidos fisicamente)! [2] Ceia (Jesus presente espiritualmente, igreja reunida fisicamente)! [3] Ceia-Online (Cristo e igreja reunidos espiritualmente).

Clique aqui para ver o desenvolvimento desta argumentação.

Celebraremos a ceia… [2] COM ESPERANÇA, MESMO EM MEIO AO LAMENTO

Esta segunda parte aborda o aspecto afetivo, ou sentimental, que envolve a celebração da Ceia. Lida com a objeção de que vivemos tempo de Exílio, portanto não é tempo de celebração e Ceia, mas de choro e jejum. Contra estas objeções, defende mesmo em nosso cenário devemos celebrar a Ceia como manifestação de esperança. São argumentos:

[2.1] Sim, vivemos em tempos de Exílio, mas isto não depende da Pandemia. A Igreja é o povo do novo êxodo vivendo no novo exílio na Grande Babilônia (cf. 1Pedro e Apocalipse).

[2.2] A.T.: a instituição da cerimônia pascoal em Êxodo, no contexto da passagem do anjo da morte. A cerimônia se dá em cada casa, mas comunitariamente, levando em conta o sacerdócio familiar.

[2.3] N.T.: a instituição da Eucaristia no contexto do sofrimento iminente e grande agonia de Cristo, nas véspera da crucificação.

[2.4] Tanto no A.T. quanto no N.T., as cerimônias expressam confiança na vitória que ainda não havia chegado. Neste sentido, são também celebrações que aguardam com esperança, mesmo em tempos de morte e agonia.

Clique aqui para ver o desenvolvimento desta argumentação.

Celebraremos a Ceia… [3] COM A PRESENÇA ESPIRITUAL DE CRISTO:

Esta terceira parte aborda o aspecto material do pão e do vinho. Lida com a objeção de que o partir e compartilhar do mesmo pão e vinho materiais é essencial a Ceia. Contra estas objeções, defende que, pelo Espírito, é Cristo quem nos serve e os elementos são canais de uma ação espiritual, que precisa estar limitada ao local. São argumentos:

[3.1.] O sumo-sacerdócio de Cristo nos concedendo a Eucaristia de seu corpo e seu sangue, na participação e formação da Igreja.

[3.2] A compreensão reformada da relação entre o aspecto material e espiritual da ceia na presença espiritual de Cristo, em oposição as visões de transubstanciação e consubstanciação.

[3.3] O precedente de flexibilização.

Celebraremos a Ceia… [4] OBSERVANDO ALGUMAS QUESTÕES ECLESIÁSTICAS E TÉCNICAS:

Esta última parte aborda as questões eclesiásticas e técnicas. Lida com a objeção de que não “teríamos controle” sobre quem participa, que não ficaria restrita aos membros do povo da Aliança. Contra estas objeções, defende que meios como vídeo-chamadas em grupo, sem gravação, restritas aos membros da igreja são uma opção que pastores e conselhos podem fazer para celebrar a ceia em sua igreja.

[4.1.] Vídeo-chamada (não transmissão), sem gravação.

[4.2] Fechada e Restrita aos membros da Igreja.

Conforme for concluindo cada post, atualizarei esta página com o link na seção correspondente.

Como disse acima, este é um conjunto de textos em construção, podendo ser revisto, diminuído ou ampliado. Se você leu até aqui, se dispôs a comentar e a participar, muito obrigado. Que Jesus te abençoe!

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André Pereira

tentando aprender e aproveitar o que significa ser amigo, discípulo e servo de Jesus.