A Estrutura de um Baralho de Tarot

Arcano XV
7 min readMay 17, 2024

--

fonte: banco de imagens

Um Baralho de tarot, como eu já mencionei na apresentação desse blog (nesse texto aqui), é composto por 78 cartas divididas em 2 grandes grupos: Arcanos Maiores e Arcanos Menores. Meu intuito aqui é falar um pouco mais a fundo da estrutura na qual o baralho é divido, para fins de um aprofundamento filosófico do trabalho com o baralho de tarot.

Arcanos Maiores — O Céu no Tarot

Composto por 22 cartas, o primeiro grupo de tarot vai do arcano sem número, ou o arcano 0 — O Louco, até o arcano 21 — O Mundo. Esse grupo constitui de forma filosófica o que eu gosto de chamar de Céu do Tarot.

Essas 22 cartas carrega em si uma complexidade de leis e conhecimentos que são comuns a toda espécie humana. Elas contam, sozinhas e de forma simplificada, toda a evolução da humanidade. Conta como surgiram os primeiros humanos e como eles foram tomando consciência de si. Conta o surgimento das primeiras religiões e o descobrimentos dos primeiros Deuses. Conta a história de nascimento de cada indivíduo que já passou ou que ainda passará por essa terra, em qualquer tempo e em qualquer espaço.

De todas as 22, apenas uma delas é realmente importante. Sendo o Baralho um livro, o personagem principal dessa história haveria de ter um destaque. O Louco é, por tanto, a única carta realmente importante. É o Louco que nasce, vive e renasce a cada volta. É o Louco quem aprende e evolui, que se transforma em cada uma das outras cartas.

Nesse grupo de mistérios temos os 21 Mitos do Tarot (não confundir com mitos do surgimento do tarot). Mitos esses que embasam a tradição seguida pelo Caminho do Louco, e por todos os outros Caminhos que saíram dele: O Caminho do Tarot, O Caminho da Imperatriz, O Arcano XXI, O Caminho do Mago, o Caminho Magico do Tarot… Essa mitologia é, em essência, o conjunto de histórias na qual nosso processo se sustenta. A história de nossos Deuses, de nossos Ancestrais, de nossos Mestres, está tudo contido nesses arcanos.

O Mago é o Louco que nasceu e descobriu seus quatro elementos: o ar em seus pulmões, a água que lhe escorre o rosto em forma de lágrimas, o calor que é proveniente da vida, e a terra manifesta em seu corpo. O Mago é o Louco que descobriu que tem tudo que precisa pra viver.

A Sacerdotisa é o Louco que observa o mundo exterior pra entender melhor o mundo interior. Que se permite ver e ouvir, que percebe uma existência externa maior que si próprio.

A Imperatriz é o Louco que agora consegue manifestar, criar e construir. De tanto observar aprendeu a falar, a se expressar e manifestar ao redor de si a realidade que lhe é interessante.

O Imperador é o Louco que tomou pra si o a responsabilidade de ser, que se torna senhor de sua própria vontade, que sabe que precisa ter e impor limites.

O Papa é o Louco que se lança a sociedade, que vive o mundo e veste suas máscaras. É o Louco dançando a loucura controlada de viver em meio aos outros, seguindo suas regras sem sucumbir à elas.

Os Amantes é o Louco que sabe o que quer, que tem vontade e desejo, que tem aprendeu a escolher seus caminhos.

O Carro é o Louco assumindo suas vontades e ponto em prática sua liberdade.

A Justiça é o Louco colhendo o fruto de suas decisões, arcando com as consequências de suas escolhas — ou da falta delas — e aprendendo que nessa vida toda ação gera uma reação.

O Papa é a consciência de olhar pra trás afim de ver o futuro. O Louco descobre que o futuro é ancestral, e é no passado que estão as maiores lições de aprendizado.

E pouco a pouco o Louco vai mudando e aprendendo que viver é uma grande aventura, e ao retornar ao Mago, ele já não é mais o mesmo. O Mago continua igual, mas o Louco não. Ele já mudou, e por isso encara novos desafios junto a esse mistério…

O Céu do Tarot é, por tanto, um conjunto de mitos, de lendas, de histórias, de tronos e Deuses antigos. É o Ouroboros do Louco, sua vida — morte — vida, num ciclo constante de mudança e evolução.

Os Arcanos Menores

fonte: banco de imagens

Os Arcanos Menores constituem um grupo de 56 cartas que são divididas em 4 naipes com 14 cartas cada. Esse grupo é o que eu gosto de chamar de Terra do Tarot, e contém em si todos os eventos menores que permeiam a vida humana. Nossos dramas, nossas vitórias, nossas emoções pequenas, e tudo que gira em torno dessa experiência terrena.

Cada naipe costuma contar uma história individual, que ao ser embaralhada se mistura criando a caótica teia de eventos da qual nenhum ser de nossa espécie é capaz de fugir. Num contexto filosófico, cada naipe possui em si um treinamento pra vida, que pode nos ensinar a melhor maneira de passar pela terra.

Espadas — O Naipe da Mente e do Verbo

O Naipe de Espadas contém em si nossa capacidade e pensar e falar. É o naipe que carrega os mistérios da comunicação. E seu treinamento tem o intuito de fortalecer nossa verdade.

Aqui um bruxo deve aprender que seu verbo é sua verdade, e tal qual uma espada, ela dever ser reta e afiada. A verdade de um bruxo é sua lei e sua sentença, e seu verbo é quem manifesta essa verdade no mundo. Uma espada não dobra perante a vontade dos outros, e quando não é bem manuseada pode ferir primeiro aquele que a carrega.

Aquele que concluir seu treinamento se torna um Rei de Espadas, e faz da sua verdade a lâmina pela qual vive sua vida.

Copas — O Naipe do Coração e da Emoção

Esse naipe nos conta as histórias de amores e dores. É o naipe que nos ensina a dominar nossas águas internas. Um dos mitos desse Naipe conta a história de um Homem que foi capaz de controlar suas emoções e caminhar sobre as água, que enfrentou demônios e que foi morto pela sua convicção, mas que mesmo em sua caminhada arrastada até a morte se manteve tranquilo e pacífico, se tornando um símbolo de resiliência que perpetuou por séculos até o dia hoje.

Aprendemos com o naipe de copas que toda mágoa velada é água parada e uma hora transborda. Que não adianta suprimir nossas vontades, mas que também não adianta ceder a qualquer estimulo emocional. Fica nítido a qualquer tarólogo realmente interessado em aprender mais sobre essa filosofia que controlar nossas emoções não é embarreirar, porque água parada trás mofo.

Aquele que conseguir andar sobre as águas se tornará um Rei de Copas, e terá feito de suas emoções um rio límpido, um oceano vasto e uma chuva revitalizadora, capaz de nutrir nossos maiores sonhos.

Paus — O Naipe da Vontade, do Propósito e da Missão

O que é que te move? O naipe de paus te ensina a ter um foco, um propósito em estar vivo. O Naipe dos Cajados conta a história de um homem que libertou seu povo e seguindo seu propósito, concluiu a missão dada a ele por Deus: encaminhá-los a terra prometida. O Cajado mais conhecido da história é o Cajado de Moises, e o treinamento desse naipe te ensina a encontrar sua missão, seu propósito e alimentar assim a sua Verdadeira Vontade.

Para aquele que não sabe o que quer, todo caminho é valido. Aquele que sabe onde quer chegar só tem um caminho possível: a vitória.

Aos que terminarem o treinamento desse naipe terão manifestado suas verdadeiras vontades em seus cajados, terão alcançado sua missão e vivido seu propósito, tornando-se assim um Rei de Paus.

Ouros — O Naipe da Estrela e da Matéria

O treinamento da matéria nos ensina que de nada adianta ter dominado suas águas, sua verdade e sua vontade, se você não for capaz de materializar isso no seu dia-a-dia. Em teoria tudo é lindo, tudo é belo, mas sua magia reflete como no seu dia-a-dia?

Um bruxo precisa ter uma boa vida, um bom viver. Não é sobre ter rios de dinheiro, mas é sobre não passar fome, ter suas necessidades básicas garantidas permitindo assim ao bruxo viver de forma adequada sua espiritualidade. Por isso, o naipe de ouros nos ensina a plantar bem para colher melhor ainda.

Aquele que passar por seu treinamento e puder finalmente carregar sua coroa tornando-se assim um Rei de Ouros, terá na sua vida um jardim bem florido, onde poderá regar sua Vontade com suas Águas e com sua Verdade colher seus melhores Frutos.

fonte: banco de imagens

Com isso, podemos concluir que o Tarot é, por si só, uma grande Escola de Magia. Que ensina, pra além de meras técnicas de feitiçaria, a forma mais adequada de evoluir num caminho espiritual.

À todos aqueles que tiverem olhos de ver, que o tarot lhes ensine a melhor maneira de bem viver.

Azebeni, O Louco.

--

--

Arcano XV

Um leonino que também é Tarologo, Artista e Bruxo. O Louco em suas andanças pela vida.