Criei um podcast

Barbara Nickel
4 min readMar 14, 2016

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Comecei a trabalhar no projeto do podcast e neste texto há três meses.

Em breve deve entrar no iTunes e no Stitcher. Por enquanto, dá pra ouvir lá em www.coisasqueagentecria.com

A gente costuma se definir pelo que faz. A profissão que escolheu, o lugar onde trabalha. Algumas pessoas têm muitas certezas desde pequenas, sobre o que querem fazer ou ser quando crescerem. A maioria das que eu conheço não é assim. Eu não sou assim. Dizer que eu sou formada em jornalismo pode te ajudar um pouco a entender quem eu sou, ou pelo menos começar a formar alguma imagem na tua cabeça.

A verdade é que estou desde sei lá quando investigando qual é meu verdadeiro talento e o que eu realmente quero fazer profissionalmente. A faculdade de jornalismo parece atrair muita gente assim.

Apesar disso, ou por causa disso, dessa busca constante, eu construí até o ano passado, 2015, uma carreira que pode ser vista como muito bem sucedida dentro do jornalismo.

Trabalhei em lugares incríveis, com gente inspiradora, com oportunidade de aprender e de colocar em prática muitos projetos dos quais tenho orgulho. Fui chefe. Editora-chefe. Pude não reclamar de salário. Tive reconhecimento dentro e fora da empresa.

Os últimos oito anos eu passei trabalhando no mesmo endereço. Cresci muito como profissional. Oito anos é muito tempo em um mesmo lugar hoje em dia: vi muita gente talentosa passar pela redação e ir embora. Contratei, ajudei a arquitetar reorganizações, promovi, demiti. Fui demitida.

Chorei neste dia, há exatos três meses. E no dia seguinte. Oito anos é muito tempo. O que a gente faz e onde a gente trabalha costuma definir quem a gente é. Quem eu passaria a ser agora? Que parte de mim eu perdi? O que ficou? Pra quê que eu sirvo? Posso falar mais sobre isso depois, mas o terceiro dia já foi bem mais leve (a meditação ajuda um pouquinho, sim).

Não espere que jornadas valiosas sejam fáceis — é o que diz o Alain de Botton no livro Arte como Terapia. Ele está falando de amor, mas eu vou roubar a pintura que ele comenta para falar de outra coisa: como nos preparamos para as adversidades da vida profissional? Diante de um iceberg, temos serenidade e competência para conseguir ajustar o percurso no tempo necessário? Como desenvolvemos isso? Estou divagando, né? Voltemos à história do podcast :)

Outra coisa que vou contar sobre mim é que tenho muita dificuldade de reconhecer minhas vitórias. Fico desconfortável de compartilhar essas coisas (aliás, qualquer coisa). Pode pensar que é mentira. Pode achar que só faz um troço destes quem é extrovertido e adora falar de si mesmo. Mas o que eu sinto hoje (publicando este texto e divulgando o podcast) é uma mistura de expectativa com, sei lá, a sensação dolorosa e desconfortável de ter um dente arrancado.

Minha vida profissional até agora foi uma mistura de conquistas, derrotas e muito, mas muito, aprendizado. Isso não faz de mim alguém especial. Diferentona. É assim a história de quase todo mundo que eu conheço ou ouço falar.

Nos últimos oito anos, exerci muitas funções. Sempre me perguntei: estou trabalhando para que este jornal dê a melhor contribuição que pode? Tem alguma outra atividade aqui dentro que eu poderia estar fazendo que geraria mais impacto? Assim, me envolvi com muitos projetos, experimentei bastante.

Outra pergunta, parecida, estava sempre lá, nem sempre com a mesma intensidade: estou dando a maior contribuição que eu posso, gerando o impacto que eu gostaria? Não só dentro do jornal, mas neste tempo e lugar em que a gente vive hoje? Eu conseguiria ser útil às pessoas se eu criasse algo de maneira independente, sem as vantagens e desvantagens de estar dentro de uma gigantesca e poderosa estrutura?

Amo ouvir podcasts, especialmente os de entrevista.

Tenho muita curiosidade sobre as motivações, os processos de tomada de decisão, as histórias e as rotinas de pessoas que eu admiro profissionalmente. Especialmente as mulheres. Temos tantos desafios a vencer em uma cultura que, eu acredito, está em transformação, mas não foi criada para lidar com naturalidade com mulheres bem sucedidas como líderes e empresárias. Temos tantos desfios internos a vencer. E tantas outras barreiras externas. Como elas conseguem? Como a gente pode aprender com a história de uma ou de outra?

Não sei bem quando nem como, mas decidi que faria um podcast. Não sei até onde ele vai chegar, mas o que fiz foi comprar um microfone, pesquisar “como se faz um podcast” no Google e marcar a primeira entrevista. Ah, e pedir ajuda de muita gente. Não sei se vou seguir entrevistando apenas mulheres. Talvez a gente possa chamar este conjunto inicial de primeira temporada.

Espero que todos vocês, homens e mulheres, gostem das entrevistas e encontrem nas conversas alguma coisa que seja útil ou possa servir de inspiração. Eu aprendi muito até agora. Nestas últimas semanas, me tornei ainda mais grata de poder contar com as mulheres que toparam participar deste projeto que nasce agora, minhas entrevistadas “piloto” Daniela Santarosa, Priscila Tescaro, Lilian Lima e Mariana Bandarra. E aos homens que me ajudaram a tirar a ideia do papel: meu irmão, Alexandre, meu marido, Aurélio, meu amigo, Filipe Speck (criador da trilha que roda na abertura e encerramento dos episódios). Outras gurias e guris com quem discuti a ideia também me deram apoio, incentivo e feedbacks preciosos.

O que eu sou agora? O que eu ficou e o que eu perdi? Não sei ainda. Decidi usar um tempo para investigar como outras pessoas estão construindo suas identidades profissionais, as que têm trajetórias menos convencionais. O que eu nunca deixei de ser: alguém que faz perguntas, que explora possibilidades, que tenta criar coisas para trazer ao mundo algum impacto positivo.

Aos que leram até aqui: ouçam as entrevistas, assinem o podcast, me escrevam contando o que acharam ou sugerindo temas e pessoas. Meu e-mail é barbara.nickel@gmail.com. Ou comentem aí ;)

Está tudo lá no site www.coisasqueagentecria.com. Obrigada e aproveitem!

Atualização: o podcast já está no iTunes e no Stitcher. Podem assinar por lá. Quem usa outro serviço e manja mais pode usar o link RSS para assinar usando seu player favorito: http://coisasqueagentecria.libsyn.com/rss

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Barbara Nickel

Criei dois podcasts = Talvez seja isso + Coisas que a gente cria