Genocídio da população negra é uma farsa e histeria política com graves consequências

Afirmar veementemente e constantemente que está ocorrendo um genocídio contra um determinado povo, é algo grave e que pode ter consequências desastrosas e radicais.

TheNothing
10 min readJan 25, 2020

A crescente narrativa de que há genocídio da população negra no Brasil, deve ser desmascarada antes de que se torne uma convulsão social de ordem racial no país. É um tema muito delicado e que devemos tratar com muita seriedade e estudo antes de sairmos bradando pelos quatro cantos que há um genocídio contra a população negra ou contra qualquer outro povo aqui no Brasil ou em qualquer outro lugar do mundo. São palavras alarmistas demais e que mexe com a cabeça de muitas pessoas e podem ter consequências gravíssimas.

Inicialmente, o termo genocídio foi criado por Raphael Lemkin, um judeu polaco, jurista e que foi conselheiro no Departamento de Guerra dos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial. A tentativa de extermínio total do povo judeu pelos nazistas (Holocausto) foi um motivo forte que levou Lemkin a lutar por leis que punissem a prática de genocídio. A palavra passou a ser usada após 1944.

O que isto significa? Significa que, os genocídios são feitos por um poder governamental ditatorial, pois o poder absoluto governamental oferece meios mais fáceis de se cometer tal ato. Portanto, é muito difícil vermos um genocídio cometido por apenas uma pessoa ou duas pela própria incapacidade cometê-lo em massa. Nesses casos, onde há um número relevante — mas não em massa de vítimas assassinadas, os denominamos de “massacre” ou “chacina”.

Pessoalmente, no tocante ao termo genocídio, a primeira coisa que vem na minha cabeça, é um ataque organizado e sistemático com o objetivo de assassinar em massa um determinado grupo de pessoas pelos mais variados motivos. Ou seja, assassinar/massacrar em massa uma população, uma etnia, uma tribo e assim por diante, isso tudo é categorizado como genocídio. Basicamente, é o que todos temos no nosso imaginário, ou pelo menos a maioria das pessoas, ao meu ver.

Quando ouvimos falar de genocídio da população negra, basicamente, imaginamos uma conspiração governamental contra o povo negro pelo fato de que é mais comum o termo ser usado para se referir a massacres governamentais. Em outras palavras, assassinatos em massa e extermínio de pessoas de cor negra com objetivos de limpeza étnica. É matar deliberadamente o povo negro por ser negro, pois é isto que a palavra “genocídio”, no caso aqui racial, reforça.

Mas quais são os motivos que as pessoas levantam essa teoria? Quem são estas pessoas que pregam esta narrativa no Brasil? Quais são as consequências deste discurso? E oque podemos aprender com isso?

As implicações lógicas da narrativa

Bem, há diversos pregadores da narrativa do genocídio negro no Brasil (que vamos mencionar depois) e também em vários outros países, como também assim há diversas maneiras de interpretar esta palavra, pelo visto.

Tudo se inicia com a falta de interpretação da palavra, ou melhor, a distorção da mesma. E como já mencionado antes o seu significado, podemos então, a partir daqui, empregá-la de maneira correta e identificar tais distorções da mesma. Então, porque não começarmos dando um belo exemplo?

Imagem retirada da página “Mídia Ninja”

Em julho de 2018, foi criado pela Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro (ALERJ), o “Dia de Luta contra o Genocídio da Mulher Negra” que foi até sancionado pelo então Governador Pezão, lei dedicada em homenagem à Vereadora Marielle Franco, assassinada a tiros, por motivações políticas. Entretanto, a lei foi alterada e o seu nome, ao invés de “Dia de Luta contra o Genocídio da Mulher Negra”, mudaram para o “Dia Estadual dos Defensores de Direitos Humanos” sancionado pelo Governador Wilson Witzel (PSC) em 2019.

O que há de errado nessa história? Praticamente tudo. É errado e bizarro em tantos níveis que me sinto em necessidade de fazer uma lista. Considere alguns raciocínios. Segue abaixo:

  1. A própria proposta de alguém ousar criar um dia “contra o genocídio da mulher negra” num país miscigenado desde suas raízes;
  2. O fato de a Marielle Franco ser um único indivíduo e não centenas ou milhares de pessoas mortas após um ataque racial para o dia ter mais fundamento (Isso me refiro a lei antiga de Dia contra o Genocídio da Mulher Negra);
  3. O fato de Marielle ter sido assassinada por motivações políticas e com pouca probabilidade de ter sido um assassinato com teor racial, ou pelo menos somente teor racial;
  4. A implicação lógica de que o governo brasileiro, grupos ou a sociedade de forma geral está tendo como alvos mulheres e negras para serem eliminadas;
  5. A implicação de que há mais um fator motivacional de ataques por parte do governo, grupos ou sociedade: a misoginia. Ex: Genocídio da “Mulher Negra” em específico e não de negros no modo geral;
  6. A implicação lógica que o projeto teria se fosse aprovado com o tal nome “Dia Contra o Genocídio da Mulher Negra”, o que seria uma confissão de uma conspiração governamental contra mulheres negras;
  7. A proposta ter sido criado apenas para abranger mulheres e negras e excluir negros da história, pois se matam negras, então, por que não matariam negros. Porque é um genocídio com um alvo tão específico?;
  8. A falta de consideração do impacto que um dia contra o genocídio da mulher negra, teria na mente das próprias pessoas que a autor(a) do projeto diz defender. Ex: as pessoas começarem a ter uma visão de que realmente existe uma conspiração contra mulheres negras num país como o Brasil no século XXI e como agiriam os grupos que se rebelariam contra este genocídio.

O fato de o projeto inicial ter saído da própria ALERJ e ter sido alterado para o “Dia Estadual dos Defensores de Direitos Humanos”, pelo menos mostrou uma certa perspicácia dos legisladores, coisa que é rara no recinto.

Como mencionado no Item 4, se o projeto fosse aprovado com o nome inicial, haveria uma implicação de que houve um genocídio ou de que há uma conspiração contra mulheres negras por parte do governo. Como o motivo do assassinato, ao que tudo indica, não foi por motivos raciais, e sim, por motivações políticas, então, um dia para homenagear pessoas que lutam à favor dos Direitos Humanos foi uma forma correta de tratar o caso. Agora, se ela era toda essa grande pessoa mesmo em defesa dos Direitos Humanos, não vem ao caso.

As distorções de genocídio e os pregadores do mesmo

Hoje, não só no Brasil mas também no mundo a fora, o Movimento Negro (ou uma boa parte dele) usa a narrativa de que há um extermínio de negros nos respectivos países em que atuam. Outro termo comum de se ouvir também, é o “Extermínio da Juventude Negra” bradado aos quatro cantos por aqui no Brasil, especialmente por políticos que adoram usar isto como moeda de troca para votos, e claro, junto com suas diversas justificativas.

Quando falamos que há uma distorção do que é genocídio, o que está a porvir neste artigo é o melhor exemplo.

No dia 20/11/2017, ocorria a Marcha da Consciência Negra junto com partido dos trabalhadores (PT), onde os manifestantes seguravam uma faixa com os escritos: Miscigenação também é Genocídio. Imagem abaixo:

Marcha da Consciência Negra em 20/11/2017 junto com o Partido dos Trabalhadores (PT) contra a miscigenação

A interpretação do que realmente é um genocídio parece ter sido expandida e consequentemente distorcida. E quais são as implicações sociais de pregar que miscigenação também é genocídio, especialmente num país miscigenado como no Brasil?

A faixa é tão imoral em diversos níveis que também é necessário fazer uma lista das implicações lógicas e sociais que ela traz. Segue abaixo:

  1. Afirmar que a miscigenação é genocídio, é afirmar que um bebê nascido de um casal inter-racial foi fruto de um genocídio praticado por ambas as raças que tiveram a relação;
  2. É afirmar que genocídio implica, não em mortes, mas sim em nascimentos de indivíduos, ou seja, quanto mais nascimentos miscigenados mais mortos vítimas de genocídio. (Só não vê preconceito ou racismo nisso quem não quer realmente ver)(sic)
  3. É afirmar que os nascimentos de indivíduos miscigenados é equivalente à mortes de pessoas, especialmente as vítimas de genocídio pelo mundo. (É como afirmar que nascer uma criança é equivalente ao massacre de judeus no regime nazista ou massacre do povo em Camboja etc);
  4. Convencer o público alvo: negros(as) que miscigenação é genocídio é ensiná-los a ter revolta por algo que é a priori irracional e consequentemente criar extremistas raciais.

Muitos podem argumentar que uma miscigenação forçada é diferente de uma miscigenação voluntária, e com certeza, é algo que também concordo. Mas levantar uma bandeira nos dias de hoje, dizendo que cada indivíduo de uma raça que se relaciona com outra e gera um filho é equivalente a um genocídio, é o preconceito racial na sua forma mais pura, ao meu ver.

Poucas pessoas se atentaram a facilidade que a lei com um nome: “Dia contra o Genocídio da Mulher Negra” foi aprovada de repente por uma grande autoridade como um Governador de um Estado.

E quais foram os motivos do Pezão autorizar tão rapidamente uma lei com um nome como esse? É claro, votos e status. Ele poderia até não concordar com o nome, no entanto, se o beneficiasse politicamente, porque o não faria? Ele talvez até tenha postado em suas redes sociais com muito orgulho: “Aprovada a lei em que estabelece um Dia contra o Genocídio da Mulher Negra em homenagem à luta de Marielle Franco” ou algo parecido. É uma notícia que o faz parecer que luta em favor de negras no país ou que se preocupa com o racismo etc. É uma possibilidade totalmente viável, especialmente quando se trata de um político.

As justificativas para acreditar que de há um genocídio, vai desde números que indicam que negros, de modo geral, sofrem mais homicídios do que brancos — o que considero ainda um argumento forte devido a base de dados, até a questão de uma própria miscigenação prévia/atual, escravidão, preconceitos raciais e morte de negros por policiais. Com certeza, é um conjunto de variáveis que fazem as pessoas acreditarem nisto e levantarem esta bandeira.

Não obstante, muito dos argumentos têm como princípio presunções falsas com um adicional de sentimentalismo para escondê-las. Eu já tratei melhor desses assuntos em outros artigos mas explicarei aqui ainda um pouco do meu ponto de vista. Considere uma explicação breve para um assunto complexo.

No tocante às estatísticas, não ter dados específicos para os homicídios e apenas contá-los como modo geral, é cometer o famoso cherry picking, que é quando você escolhe quais dados convém de um todo para falar que existe uma causa X que esteja causando Y. Neste caso aqui, é assumir que, pelo fato de ocorrer mais homicídios com negros no país, a causa é o racismo, ou melhor, um genocídio da população negra. Portanto, então, seria todas as mortes de negros no nosso país foram causadas por racismo? Claro que não, mas a ideia vendida, é que sim.

É algo extremamente lógico. Eu não posso assumir que todas as mortes foram por racismo a não ser que elas tenham uma análise de dados mais aprofundada. Eu sempre direi: não podemos assumir que, um homem negro que morreu trocando tiros com a polícia, é o mesmo que um negro que morre por causa de um grupo neonazista, ou qualquer outra coisa do tipo. É necessário, não uma estatística geral de mortes, pois mortes há das mais variadas formas e motivações, mas sim, uma estatística mais profunda para medir o racismo no país. É preciso fragmentar ainda mais as estatísticas antes de presumir qualquer coisa, é necessário fragmentá-la para identificar as motivações dos crimes, e assim, definir o nível de racismo do nosso país.

Perceba que é uma coisa simples de ser pensada mas a ideia oposta, a do genocídio, é a que mais comove, é a que mais agrega pessoas para uma causa, é a que mais mexe com os sentimentos, por isso, pensar logicamente sobre tais estatísticas não é uma opção e talvez seja até racista, ao olhar de muita gente.

Outro ponto rápido que vale ser lembrado, é que, existe uma grande possibilidade de pessoas mortas que se consideravam pardas quando vivas que foram inseridas como negras no país. Isto é, devido a pregação da ideia de que pessoas “pardas” ou miscigenadas não existem; somente existem pessoas brancas e negras. Identificar qualquer outra pessoa como mulato, moreno e outros adjetivos a mais, para muitos, é uma forma de “apagamento negro” ou qualquer coisa do tipo. Esta pregação existe e também está influenciando muito nas estatísticas por aí a fora.

Acredito que as outras coisas foram já explicadas quando as enumerei e também acredito que sintetizei bem o que quis dizer. Assim espero.

Conclusão:

Equiparar o extermínio em massa de uma população com a miscigenação nos dias de hoje, é inadmissível.

Curiosamente, a mesmíssima narrativa que é aplicada pelo Movimento Negro, é aplicada por racistas, supremacistas brancos e neonazistas que dizem que um país deve ser governado apenas por brancos, ou que a integração racial e a miscigenação está exterminando a raça branca no mundo. Da mesma forma que falam de Genocídio Negro, também falam de Genocídio Branco, do mesmo jeito que falam contra miscigenação negra, falam contra a miscigenação branca.

O que nacionalistas, supremacistas e neonazistas brancos postam não é nada diferente, suas justificativas e presunções falsas são, mas essencialmente são os mesmíssimos fundamentos. Basta dar um googlada sobre “Genocídio Branco” ou em inglês que é mais fácil de ser encontrada como “White Genocide” que você verá diversas imagens que servem de exemplo. Segue abaixo uma:

O que é diversidade? Diversidade significa “nada de países brancos”, Diversidade significa nenhuma cidade branca, diversidade significa nada de bairros brancos, diversidade significa nada de pessoas brancas. Diversidade é uma palavra-código para Genocídio Branco. Imagem de uma criança dizendo: “Branco demais” acima.

Eis aí acima, apenas uma imagem dentro das diversas em relação ao “Genocídio Branco”.

A verdade é que, os movimentos anti-racistas e os racistas estão em uma simbiose retroalimentando o ódio racial pelo mundo. Apenas eles não vêem que estão de braços dados à favor do preconceito racial.

As consequência de pessoas acreditarem que exista um genocídio contra o próprio povo, é a implicação da criação de radicalismos raciais para combatê-lo, e logo, convulsões sociais e aumento de racismo no país.

Não saber identificar corretamente os problemas, é dar soluções errôneas e piorá-los.

Entenda mais esta mentalidade crescente no mundo por meus outros artigos:

1: Os 3 estereótipos imputados no Brasil…

2: Conheça os anti-racistas segregacionistas e anti-miscigenação…

3: Pense 10x antes de alegar preconceito…

4: Os problemas da ‘representatividade’ e o seu fenômeno reducionista

5: Ataques Constitucionais aos Direitos Humanos: os modernos tratamentos de grupos preferenciais para grupos

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