A inteligência artificial e o novo papel do designer na sociedade em rede. (Introdução)

Bruno Lorenz
4 min readJan 3, 2019

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por Bruno Augusto Lorenz e Carlo Franzato

Nas últimas décadas, a humanidade presencia o florescer de um desenvolvimento tecnológico sem precedentes, capitaneado, principalmente, pelo advento da computação pessoal e, claro, da Internet. A prensa móvel de Gutenberg fica na história como símbolo do mundo moderno, sendo substituída, na contemporaneidade, pelo hyperlink: a manifestação digital de como as redes e as conexões dentro dessas afetaram as dinâmicas de como produzimos, compartilhamos, processamos e armazenamos o conhecimento. As mudanças profundas na maneira como compreendemos o tempo e o espaço acabam por impactar aspectos diversos da vida humana e, inevitavelmente, o design se encontra entre os campos do saber afetados por esse novo paradigma.

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Nesse artigo, publicado na Revista Design, Tecnologia e Sociedade da UNB e dividido em quatro partes aqui no Medium, buscamos refletir sobre como as revoluções relacionadas ao paradigma da sociedade em rede, com atenção especial para Inteligência Artificial, afetam — e ainda podem vir a afetar — a maneira como projetamos o mundo, ou seja, como fazemos design.

O avanço I.A. sobre áreas anteriormente dominadas pelos seres humanos — principalmente com relação a automação de postos de trabalho pelo mundo todo — é um fenômeno que vem recebendo cada vez mais atenção nos últimos anos, tanto por parte dos meios de comunicação quanto da própria academia. O campo do design não passa incólume por tamanha revolução.

Ao longo das quatro partes dessa reflexão, damos atenção ao papel do designer frente aos avanços da I.A. nos processos de projeto. Considerando tal relação, algumas indagações já se mostram pertinentes: é possível identificar um momento específico em que a I.A. passa de auxiliar a protagonista no processo de design? Quais são os novos caminhos abertos por tal revolução tecnológica? A profissão de designer está com seus dias contados?

É importante salientar que, do ponto de vista teórico, nosso trabalho se interessa em investigar e discutir as mudanças que ocorrem no processo de design de maneira geral. Para operar, porém, resolvemos focar nas mudanças que ocorrem especificamente no design gráfico e de interfaces, mesmo reconhecendo que, na contemporaneidade, designers lidam com todo o espectro da artificialidade (cf. Krippendorff, 2006).

A primeira parte do texto se encarrega de apresentar o conceito de Sociedade em Rede, a partir dos postulados de Manuel Castells (2010) — balizados por leituras a respeito das revoluções tecnológicas contemporâneas — e Pierre Lévy (2014), que apresenta os conceitos do Espaço do Saber e da Inteligência Coletiva.

Na segunda seção, esclarecemos o nosso entendimento sobre o fazer design e inteligência artificial, a fim de facilitar a discussão em que traçamos paralelos entre os dois termos.

No terceiro texto, catalogamos alguns exemplos da influência da I.A. no contexto de projeto, para que possamos sugerir cenários futuros em que os papéis do designer e da própria I.A. precisam ser questionados, revistos e ressignificados.

Por fim, as considerações finais retomam os argumentos apresentados nos textos anteriores para desenvolver um raciocínio que associa o novo papel do designer ao de um agente facilitador que se apropria de movimentos metaprojetuais, proporcionando a abertura e o acesso de não-designers ao processo projetual.

Referências

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Bruno Lorenz

Designer, Mestre em Design Estratégico e entusiasta de futuros possíveis.